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Modo de financiamento de startups comum nos EUA desde os anos 1980, o venture debt ainda engatinha no Brasil. Afinal, gato escaldado tem medo de água fria, né? Fala em dívida, a pessoa já fica logo ouriçada, suando frio. “Pagar juros? Tô fora. Prefiro vender uma fatia da empresa!”.

Mas e se ao invés de trazer sócios a preço de banana em um primeiro momento você pudesse colocar um capital no caixa com custo baixo, crescer e daí sim, vender a participação com um valor mais alto?

Pois é justamente isso que o venture debt propõe e é o que a Digibee buscou ao levantar R$ 13,5 milhões nesta modalidade para investir em sua operação no Brasil e deixar os recursos em dólar da rodada feita no começo de 2020 apenas para uso da recém-iniciada operação nos EUA. O financiamento foi feito pela Brasil Venture Debt (BVD), uma das primeiras a fazer esse tipo de operação no Brasil – e uma das 4 ou 5 que atuam nesse formato atualmente.

“O nosso negócio é avaliado sob a ótica do múltiplo da receita mensal [MRR]. Então quanto mais tempo eu demorar para fazer uma rodada, maior será minha receita e o meu valuation. Ganho tempo para crescer e fazer rodada em condição melhor, menor diluição, sem pressão de fechar estando descapitalizado”, conta Rafael Nardelli, diretor financeiro da companhia.

A startup nascida em 2017 desenvolve ferramentas de integração de sistemas voltados a grandes empresas. Elas são acessadas pela web no modelo de software como serviço. Entre seus 170 clientes estão o supermercado Assaí, B3, Cielo, VTEX, Santander e algumas empresas nos EUA. Atualmente, a receita mensal está na casa de R$ 2,2 milhões.

A maior parte deste montante, 90%, vem da operação no Brasil. Os outros 10% vêm dos EUA, onde ela começou a operar em 2020 – o fundador, Rodrigo Bernardinelli, aliás, acaba de se mudar para tocar a expansão por lá.

O desembarque na terra do Tio Sam era parte do plano de expansão global apresentado na rodada de US$ 5 milhões levantada em fevereiro do ano passado. Só que parte dos recursos acabaram sendo direcionados para o Brasil também, devido à velocidade de crescimento do negócio por aqui. E foi justamente para não precisar assaltar o cofrinho americano que a Digibee resolveu fazer o venture debt. A ideia é que os R$ 13,5 milhões sejam usados apenas no Brasil.

Com o crescimento esperado para a operação nos EUA, que deve responder ppor metade do negócio em 2022, e superar o Brasil em 2023, a Digibee espera ser melhor visto por investidores em sua próxima captação. A meta é triplicar de tamanho em 2021 e de novo em 2022 – fechando 3 anos de receitas triplicadas, para depois fazer mais 3 de dobrar

Segundo Gabriela Gonçalves, sócia-gestora da BVD, o valor concedido à Digibee representa o tamanho de cheque máximo que a gestora pode assinar – cerca de 10% do fundo de R$ 140 milhões – porque eles gostaram muito da proposta e das perspectivas para a companhia. “Se ela precisar de mais recursos podemos oferecer, ou se outros parceiros quiserem entrar também, podemos ampliar a linha”, diz. Entre seus investidores, a BVD tem BNDES, XP Investimentos, BDMG e Bossa Nova.

Tradicionalmente, o venture debt é feito junto com uma rodada como uma forma de turbinar o valor captado sem aumentar a diluição. Aqui no Brasil, o que tem se visto, segundo Gabriela, é o uso desse recurso como extensão de uma rodada, como a Digibee fez. A expectativa dela é que o formato possa representar, no futuro, cerca de 15% do mercado de venture capital no Brasil. Nos EUA, a fatia é de 25%.

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