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Foi em 2015, com quase 30 anos de carreira, que o executivo alemão Walter Dissinger teve sua 1ª experiência como fundador. Então presidente global da Votorantim Cimentos, ele encabeçou a criação da Juntos Somos +, o programa de fidelidade, que tem como sócios a Tigre e a Gerdau. O processo de criar um negócio novo e independente foi tão marcante que Walter ficou com vontade de, um dia, montar ele próprio uma startup.

A saída da Votorantim Cimentos em 2018 foi a deixa para colocar o plano em prática. Depois de uma conversa com Francisco Pereira, da Trademaster, veio a ideia de criar um cartão no qual produtores rurais poderiam depositar grãos e usá-los como moeda para pagar suas despesas – modalidade conhecida como barter, ou simplesmente escambo de produção por produtos. Em 3 meses estava criada a agfintech MasterBarter, que conta com o produtor rural Marcelo Borba, ex-presidente da MB Engenharia, como conselheiro e investidor.   

“O barter hoje é restrito a certas culturas como soja e milho, e aos médios e grandes agricultores. Queremos ser promotores de inclusão financeira pela digitalização do barter”, conta Walter.

Para fazer isso, a companhia criou um sistema digital de registro de contratos de venda de produção futura. O DigiBarter é uma espécie de DocuSign do campo, mas seguindo todo o fluxo particular desse tipo de operação, que exige registro no Banco Central. Tudo é feito usando a rede do blockchain, por meio da plataforma da GrainChain. “Há 2 anos eu nem sabia o que era o blockchain”, relembra Walter.

Depois veio a conta digital e o cartão para o produtor. Assim que o compromisso é fechado, o número de sacas combinadas aparece na área “Visite o seu armazém” do aplicativo BarterCard e pode ser usado para abastecer a conta corrente, ou como limite para um cartão de crédito Mastercard – o 1º do tipo para a bandeira. A venda das sacas e a conversão em dinheiro pode ser feita diretamente pelo aplicativo.

“A gente trabalha com a moeda do agricultor. Quando vai comprar uma caminhonete, ele não pensa quanto ela custa em dinheiro, mas em sacas. Assim funciona a cabeça do produtor. E quando ele olha no aplicativo vai ver isso lá. Estamos vindo de outra direção e inovando de verdade”, diz Walter. O objetivo é usar cooperativas, empresas de insumo, revendas e a indústria como canal de distribuição do produto.  

Em cerca de 1 ano de operação, a validou seu modelo com mais de 10 clientes. Agora quer dar um salto. O objetivo é fechar o ano com 5 mil produtores rurais atendidos e um volume transacionado de R$ 400 milhões. Em 2026, o volume transacionado pode chegar a R$ 7 bilhões, representando uma receita de R$ 500 milhões para a MasterBarter.

O plano de crescimento envolve a criação de um leque mais amplo de ofertas a partir da conta e do cartão. Em meados de janeiro a Agrolend anunciou uma rodada de R$ 80 milhões também com a tese de virar o banco digital do campo, mas começando pelo crédito agrícola.   

“Depois da Covid o mundo mudou. E não só nos centros urbanos. Para o agricultor também. Ele está mais aberto a usar plataformas digitais. O banco que ele sempre ia estava com a agência fechada ou com funcionamento restrito. Foi um impulso muito grande”, avalia Walter.

Em 2020, a MasterBarter levantou R$ 5 milhões com os fundadores, investidores-anjo, a Parallax e a FRAM Capital. No momento, ela está na rua com uma captação seed para levantar mais R$ 20 milhões. Segundo Walter, a ideia é já trazer para o captable  fundos dos EUA porque o modelo de operação da startup tem potencial de expansão internacional.

Sobre ser startupeiro depois de tantos anos de carreira, Walter diz que a experiência tem sido excelente. Cansativa, mas com um nível de stress diferente, e, segundo ele, mais “saudável”. “Para que se estressar como CEO de outra empresa quando você pode se estressar no que é seu?”, brinca.

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