Nos últimos meses, as turbulências do mercado financeiro e do ecossistema de startups colocaram o reino do SoftBank em uma crise acentuada. Em agosto, o megafundo japonês reportou um dos piores resultados de sua história com perdas de US$ 21,6 bilhões em seu primeiro trimestre fiscal.
Durante a apresentação dos resultados, Masayoshi Son, fundador e CEO do SoftBank, admitiu que após o mercado aquecido ano passado, agora sentia-se “envergonhado” com seu próprio comportamento. E mais: afirmou que o SoftBank deve fazer uma “redução dramática” em seu quadro em diversas unidades de negócio e será ainda mais conservador em suas escolhas de investimentos.
Ainda assim, o conglomerado avalia lançar um terceiro fundo de investimentos da série Vision Fund, utilizando recursos do caixa próprio. As informações foram noticiadas pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal e confirmadas pela Reuters na quarta-feira (14).
O tamanho do fundo ainda não foi determinado, mas seu lançamento está previsto para o início de 2023, afirmaram pessoas familiarizadas com o assunto que conversaram com a Reuters. “A fonte, que pediu anonimato já que essas discussões são confidenciais, alertou que os planos estão sujeitos a mudanças e [o SoftBank] pode eventualmente decidir não lançar um novo fundo”, escreveu a Reuters.
Em 2017, o Vision Fund I levantou US$ 100 bilhões para investir em startups, sendo US$ 28 bilhões do próprio caixa e o restante de terceiros. O Vision Fund II veio dois anos depois, com US$ 49 bilhões disponíveis pelo SoftBank e sócios do grupo.
Tensão generalizada
Frente ao cenário atual do mercado, os investimentos liderados pelo SoftBank, que comandou a onda de interesse de fundos de venture capital na América Latina, tem despencado na região. Dados divulgados pela Pitchbook mostram que o total deals teve uma queda em investimentos de 71% comparado ao recorde de US$ 7,1 bilhões registrado no terceiro trimestre de 2021, de acordo com a plataforma.
O fundo vem perdendo grandes aliados como Rajeev Misra, que tocava o Vision Fund, depois de ter sofrido diversos desfalques com nomes como Marcelo Claure, que liderava as operações na América Latina e saiu em janeiro em meio a divergências sobre compensação, além de outras lideranças.
Ao mesmo tempo, a vida não anda muito fácil para as investidas do conglomerado japonês. A MadeiraMadeira, que em 2021 levantou US$ 190 milhões com o SoftBank e Dynamo, cortou 3% do seu quadro de funcionários para reduzir os custos. Nos últimos meses, outras startups do portfólio do SoftBank enxugaram as operações, como a Loggi, que ontem cortou cerca de 15% do seu quadro de 3.000 pessoas.
A VTEX dispensou mais de 10% do quadro e a healthtech Alice, que em dezembro fechou uma série C de US$ 127 milhões, desligou 63 funcionários. Loft e QuintoAndar foram outras gigantes afetadas pela onda dos layoffs.