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Modelo de agente autônomo não fecha a conta para quem tem pouco para investir, diz David Vélez, do Nubank

Davi Vélez, do Nubank
Davi Vélez, Nubank

O modelo de agentes autônomos popularizado pela XP e que tem sido replicado pelo BTG para avançar no mercado de investimentos só gera valor quando se fala de milhões em aportes. Quando a quantia cai para a casa dos milhares de reais, a conta não fecha, na avaliação de David Vélez, cofundador e presidente do Nubank.

“O agente autônomo acaba sendo como uma agência bancária, é um custo e alguém paga a conta. Para chegar no investidor com menos recursos é preciso ter outra estratégia”, avalia o executivo.

O caminho seria o contato direto com o consumidor, por canais 100% digitais. E essa foi, segundo ele, a lógica por traz da compra da Easynvest, anunciada na sexta-feira. A corretora tem 1,5 milhão de contas abertas, mais de R$ 20 bilhões em custódia e opera de forma 100% digital. Há três anos, quando a gestora Advent comprou 60% da operação, o número de contas era de 150 mil

De acordo com Vélez, os movimentos que aconteceram até agora no mercado não surtiram efeitos para a maior parte dos brasileiros, que continua guardando dinheiro da mesma forma de sempre. “Para 90% dos brasileiros não tem mudado nada. O cara de menor renda, ainda investe na agência bancária. Ainda tem 100 milhões de pessoas com dinheiro na poupança. R$ 1 trilhão em renda fixa de grandes bancos”, diz.

A compra da Easynvest ainda precisa ser aprovada pelo CADE e pelo Banco Central. A expectativa é que o negócio leve de 3 a 6 meses para ser avaliado. Enquanto isso, as empresas continuam operando de forma independente. Para depois do sinal verde (que deve ser dado sem grandes problemas) a tendência é que elas continuem funcionando de forma distinta, aproveitando oportunidades de ofertas cruzadas. Mas a estratégia ainda está sendo definida. “A única certeza é que não faremos uma integração acelerada”, diz Vélez.

Investimentos no radar

Os investimentos sempre estiveram no radar do Nubank. A fintech já vinha montado equipe para atuar nesse segmento e oferecia a remuneração diária do saldo como uma forma de atrair recursos para sua NuConta. Em agosto lançou um Resgate Planejado que oferece rentabilidade de 118% do CDI em um prazo de dois anos. No começo do ano, no entanto, com o cenário de queda dos juros e por demanda dos clientes, o reforço nessa área se tornou uma prioridade.

O primeiro pensamento foi desenvolver internamente, como o Nubank normalmente faz. Mas para acelerar o processo foram feitas avaliações de várias das plataformas de investimento disponíveis no mercado. “Ficamos impressionados com a Easyinvest”, diz. A corretora contratou o banco JP Morgan em junho para coordenar um processo de captação de recursos.

O momento coincidiu com a conclusão de uma captação feita pelo próprio Nubank com atuais investidores. Segundo Vélez, o reforço de R$ 1,6 bilhão (noticiado primeiramente pelo Startups) foi ideia dos próprios fundos e trabalhada durante três semanas em maio como uma forma de ter recursos para acelerar planos. Não que a companhia precisasse. De acordo com Vélez, o Nubank gerou caixa em 2019 e não gastou quase nada da rodada de US$ 400 milhões feita em julho/2019.