O número de mulheres empreendedoras no Brasil só cresce. No entanto, ainda são muitos os desafios enfrentados por elas em um cenário majoritariamente masculino, sendo o preconceito com o gênero o principal deles. Para discutir este e outros temas, o Startups e a Conta Simples realizaram na noite de terça (30), a 1ª edição do Na Mesa, um projeto de encontros com lideranças do mercado de startups e de inovação para criar conexões e troca de experiências. O tema inaugural foi justamente o Empreendedorismo Feminino.
“Escolhemos começar com um evento focado no empreendedorismo feminino, com o olhar de não só discutir os desafios de ser mulher no ecossistema. Sabemos que existem muitos entraves, considerando as interseccionalidades que nos atravessam, mas precisamos olhar as oportunidades e principalmente fortalecer umas as outras”, pontuou Angelica Mari, editora-executiva do Startups.
O encontro reuniu mais de 40 empreendedoras em um restaurante na capital paulista – com uma comida divina! -, incluindo nomes como Aline Torres, secretária de Cultura da cidade de São Paulo; Tatiana Pimenta, fundadora da Vittude; Dani Junco, CEO da B2Mamy; Fernanda Ribeiro, cofundadora da Conta Black; e Fabiana Fagundes, advogada e sócia do FM/Derraik, escritório de advocacia especializado em startups, VCs e M&As, que compartilhou seus desafios como mulher empreendedora em seus mais de 20 anos de carreira.
Confira a galeria de fotos da 1ª edição do Na Mesa!
Sem crenças limitantes
Fabiana (minha xará) revelou que não só enfrentou questões ligadas a gênero, como também pela discriminação com o seu corpo/aparência. Antes de se submeter a uma cirurgia bariátrica, a advogada conviveu com muitas situações constrangedoras por conta de peso. Segundo ela, as pessoas sempre davam aquela “escaneada” nela, com aquela avaliação de cima a baixo. “O olhar era sempre de ‘a pessoa não consegue nem cuidar dela própria, como vai cuidar do meu M&A'”, recordou ela.
Após muita terapia e adotar uma postura diferente em relação a essas situações, Fabiana finalmente se libertou. “O problema está em quem te olha e não com você. As pessoas sofrem com o auto-preconceito e crenças limitantes. Quando me dei conta disso, foi libertador”, afirmou.
Sempre muito direta e transparente, a capricorniana como esta editora que vos escreve, fez jus às características do signo ao contar do recado que mandou ao público em um evento de e-commerce do qual participou recentemente. Quando ela e mais três mulheres subiram ao palco para falar das “vozes femininas no M&A”, metade da audiência se levantou para ir embora.
Inconformada, Fabiana usou o tempo que tinha para se apresentar logo no começo do painel e desabafou dizendo o quão absurdo era o desinteresse dos presentes só porque o painel era composto por mulheres. O desabafo, que incluiu alguns palavrões, surtiu efeito. Quem ameaçou sair voltou, e mais gente chegou, lotando a sala.
Fabiana também contou sua história familiar, de como a mãe, de origem árabe, lutou para que as filhas crescessem tendo o trabalho e os estudos como prioridades para não dependerem de ninguém como ela própria.
Aliados
Em suas falas, Rodrigo Tognini, cofundador e CEO da Conta Simples, e Gustavo Brigatto, fundador e editor-chefe do Startups, destacaram a importância de empresas e dos homens de serem aliados no processo de potencialização do empreendedorismo feminino. “Me lembrei de uma conversa que eu tive com a Maitê Lourenço, da BlackRocks, em que eu perguntei se eu poderia falar sobre temas como gênero e raça e ela me disse ‘deve’. E aqui no Startups a gente tem essa missão de dar voz a quem normalmente não tem tanto espaço”, disse Gustavo.
Rodrigo destacou a importância que o empoderamento feminino tem tomado dentro das ações do Conta Simples e se colocou à disposição para ajudar as mulheres em sua jornada. “Também como fundador, quero estar próximo de vocês, entender as dificuldades e contribuir para abrir caminhos”, disse.
Avanços para o empreendedorismo feminino
E aos poucos o cenário para o empreendedorismo feminino dá sinais de melhora. Pela primeira vez, um terço dos aportes feitos na América Latina foram destinados a startups lideradas por mulheres – ou com, pelo menos, uma no conselho. O volume investido nessas empresas saltou de 16% em 2019 para 31% em 2022, segundo o estudo LAVCA VC & Tech Mid-Year Trends na América Latina, feito pela Associação Latino-Americana de Private Equity & Venture Capital (LAVCA) em parceria com a Microsoft e a Bertha Capital.