É chover no molhado falar que o ecossistema da América Latina está se desenvolvendo a passos acelerados. Mas a cada dia nova iniciativas surgem para reforçar esse clichê.
E uma das mais recentes movimentações para criar esse estado ideal de harmonia e prosperidade no ecossistema é a criação de um novo fundo de investimento voltado a empreendedores da região: a Newtopia.
Com o nome inspirado no conceito criado por Thomas More – mas também poderia ser o país imaginário criado por John Lennon e Yoko Ono – a gestora nasce com um 1º fundo de US$ 50 milhões.
A ideia, no entanto, não é ser apenas um novo assinador de cheques para negócios com potencial de virar unicórnio. A proposta é ser um impulsionador dos negócios investidos em um formato parecido com o de uma aceleradora, mas com menos giro e acompanhamento mais próximo, mais parecido com o da Y Combinator. “Gostamos muito do modelo deles porque são aspiracionais, os melhores fundadores querem participar do programa”, diz Mariano Mayer, um dos fundadores da Newtopia.
O programa
As startups escolhidas pela Newtopia vão passar por um treinamento de 10 semanas que vai incluir mentorias com 70 fundadores da rede construída por ela. Entre os nomes estão Marcos Galperin (Mercado Livre), Emiliano Kargieman (Satellogic) e Matías Woloski (Auth0).
O foco são companhias em estágio bem inicial de desenvolvimento, o pre-seed, que vão receber um cheque inicial de US$ 100 mil. “Ainda tem um gap nesse estágio na região. Os investidores de maior porte e estágios posteriores precisam de um pipeline sólido para poder investir”, diz Mariano.
A ideia é fazer duas turmas por ano com algo entre 10 e 15 empresas em cada uma. “Queremos um número reduzido para ter uma atuação bem presente, hands on”, diz Sacha Spitz, outro cabeça da iniciativa.
Quando a situação permitir, as imersões vão acontecer sempre em países e cidades diferentes da região, mas sem ficarem limitadas à participação de startups locais. Segundo Mariano, uma das prerrogativas é buscar negócios que tenham potencial para expansão regional e também global. “Se for uma proposta muito boa, mas que resolva bem um problema local, podemos trabalhar para transformá-la em algo que tenha abrangência mais ampla”, diz.
Em 4 anos, o objetivo é chegar a um portfólio de 100 investimentos. Percebeu que isso soma apenas US$ 10 milhões e está faltando dinheiro na conta, não é sagaz leitor/leitora? Muito bem. É que os US$ 40 milhões restantes serão reservados para investimentos posteriores nas companhias, com cheques que poderão variar entre US$ 250 mil a US$ 1 milhão, podendo chegar até a rodadas de série A. “Não vamos liderar um aporte desse, mas podemos acompanhar se for necessário”, diz Mariano. Segundo ele, a ideia original era captar US$ 25 milhões, mas o interesse de investidores – em sua maioria fundadores – fez o tamanho do fundo ser dobrado. O MVP vai validar a tese e, se tudo der certo, uma nova captação, envolvendo investidores institucionais.
Além de Mariano e Sacha estão à frente da operação Juan Pablo Lafosse, Patricio Jutard e Jorge Aguado.
A proposta da Newtopia lembra um pouco o que Brian Requarth, Gina Gotthilf e Yuri Danilchenko está fazendo no Latitud. Mas tem mais um quê de aceleradora e Y Combinator. No Latitud a pegada é mais voltada ao fundador, em seu crescimento como empreendedor. Se o negócio interessa, ele pode, eventualmente, receber um investimento do Latitud Fund.
Segundo Mariano, a relação com o Brian, Gina e Yuri é muito boa e as duas iniciativas já estão conversando sobre oportunidades em conjunto.
O fundo já fez investimentos em companhias no México, Brasil e Argentina como Aleph, Apperto, Choiz (healthtech), Inipay (fintech), Leef (sustainability), Wibson (e-privacy), Wibond (fintech, pagamentos), ForMe (social commerce) e Yerbo (saúde mental).
As inscrições para a 1ª turma, em setembro, estão abertas.