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A chilena NotCo, que produz alimentos plant based usando como base um sistema de inteligência artificial proprietário, ampliou em US$ 70 milhões o volume de recursos captados em sua série D, anunciada em julho, totalizando US$ 305 milhões.

O ‘chorinho’ foi colocado pela Princeville Capital, e contou com a participação de investidores atuais da companhia como Bezos Expedition (do fundador da Amazon, Jeff Bezos), Tiger Global (que liderou a série D), L Catterton, Kaszek Ventures, Future Positive, The Craftory (da brasileira G2D) e DFJ Growth. Também entraram para o captable nomes como Marcos Galperín, fundador e CEO do Mercado Livre.

A extensão foi feita nos mesmos termos da rodada original, mantendo a avaliação da NotCo em US$ 1,5 bilhão – afinal, nos tempos de hoje, um “flat round” é o novo “up round”.

De acordo com Mathías Muchnik, cofundador e CEO da NotCo, a extensão chega para impulsionar a atuação da companhia junto a outras empresas, licenciando sua tecnologia para que outros fabricantes de alimentos possam ter produtos plant based em seu cardápio – mas sempre em um modelo que dê destaque à marca NotCo (cobranded), nunca com ela simplesmente como um fornecedor de componentes base (white label).

De olho no B2B

O mercado B2B já estava no radar da NotCo há algum tempo e teve como 1º grande case a joint venture com a Kraft Heinz, anunciada em fevereiro. Com a mudança do cenário macroeconômico global no último ano e com a necessidade de privilegiar rentabilidade em relação ao crescimento, a opção foi por um caminho que oferecesse melhores margens. “É o melhor movimento para superarmos os nossos competidores. Ficamos com um PN&L muito melhor que outras empresas de consumo (CPG) e uma melhor estrutura financeira”, diz Mathías.

Ele conta que logo depois do anúncio da criação da nova empresa com a Kraft Heinz, diversas outras companhias procuraram a NotCo para também trabalhar com a companhia e as conversas estão avançadas em diferentes segmentos. “Temos 13 patente. Estamos criando o que há de melhor em termos de tecnologia para a categoria”, se gaba o fundador.

O novo caminho foi planejado ao longo dos últimos 8 meses. Segundo Mathías, o plano não era fazer uma captação em si para financiar esse projeto, já que a companhia ainda tinha caixa para segurar a operação por mais 24 meses. A ideia era dar condições para criar um caminho para a rentabilidade e tirar do radar o horizonte de uma nova captação por um bom tempo.

Hoje, o horizonte para equilibrar as contas e dar lucro é de 2 anos, uma redução significativa em relação à expectativa anterior, que previa investimentos em expansão acelerada ainda pelos próximos 5 anos. A expectativa é deixar o negócio preparado para um IPO em 2025 se a oportunidade aparecer.

Mudanças drásticas

Para se adaptar à nova realidade do mercado, a NotCo teve que passar pelo que Mathías classifica como ‘mudanças drásticas’ ao longo dos últimos meses. A companhia cortou 75% dos seus projetos de inovação e pisou no freio no projeto de expansão internacional que previa o desembarque dos produtos de marca própria na Europa e na Ásia. Por volta de abril, ela chegou a cortar 6% do seu pessoal. Novas contratações estão congeladas. “Não queremos gastar dinheiro sem certeza de retorno”, explica.

Apesar de ainda ter mais de US$ 250 milhões no banco, Mathías diz que a NotCo não quer ser vista como uma startup rica. “Temos que ter o comportamento de uma companhia sem recursos”, diz. Na avaliação dele, 2023 será um ano muito difícil, um verdadeiro “banho de sangue”, com empresas que não tão bem e também empresas que conseguiram se segurar melhor ao longo de 2022 indo buscar capital. “Por isso você tem que colocar o pé no chão. Tem que ser humilde”.

Além do acesso mais restrito a capital, ele fala do cenário mais complicado para o mercado de consumo, especialmente no segmento de atuação da companhia. “O mercado de plant based ainda é pouco acessível. Tem muita saturação, mas pouca escala. E na média que as pessoas reduzem gastos, os setores mais premium serão os mais afetados. Você precisa ter muita consciência como empresa, mudar formatos e ter mais escala para te deixar mais competitivo e praticar preços mais baixos”, explica.

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