Quando começou um processo de captação de recursos em meio à pandemia, a chilena NotCo tinha medo de ouvir a frase: “as condições mudaram, não vamos seguir no processo”. O que aconteceu, no entanto, foi o contrário. “Tivemos excesso de demanda”, conta Matias Muchnick, cofundador e presidente da companhia em conversa com o Startups.
O que atraiu os investidores, segundo ele, foi a aceleração na tendência de se preocupar mais com a origem, os ingredientes e como a comida é feita – o que levou a uma maior procura pelos alimentos à base de plantas como os que ela cria usando inteligência artificial (o Giuseppe). O segmento de alternativas à carne de origem animal pode chegar a US$ 2,7 trilhões em 2040, segundo estimativa do CB Insights.
Nessa expansão a NotCo pode se beneficiar duplamente. A venda do leite, da maionese, do sorvete e do hambúrguer que ela desenvolve e fabrica é a parte mais visível da estratégia.
Mas a NotCo também tende a se beneficiar do avanço de outras marcas. Isso porque a companhia quer se associar a outras marcas de comida e ser o ingrediente para novas linhas de produtos. Uma espécie de “Intel Inside” para o mundo da comida.
“Existe mais interesse das empresas grandes em se relacionarem com as pequenas. Isso pode ser um catalisador de mudanças em muitas empresas e dar acesso a clientes que têm restrições a comprar produtos de grandes grupos, por exemplo”, diz Muchnick. Segundo ele, existem conversas nesse sentido, mas nenhum acordo formalizado até agora.
No começo do ano passado a NotCo fechou um contrato com o Burger King para fornecer o hambúrguer do Rebel Whooper, a versão plant based do principal sanduíche da rede.
De uma certa forma a NotCo já atua no modelo de fornecimento de ingredientes. Para si mesma. A formulação base de seu leite, por exemplo, é fabricada no Chile e enviada para o interior de São Paulo onde o produto vendido no Brasil é fabricado (com adaptações na receita para o paladar do público local). Para que a estratégia funcione ela precisa ganhar escala. E é nesse contexto que a atual rodada de investimento entra.
Use of proceeds
A ideia é usar os US$ 85 milhões captados na série C para expandir a linha de produtos com produtos como frango, queijo e outros derivados de leite além de aumentar a presença geográfica da companhia. O plano inclui aumentar a atuação nos três países onde ela já atua – Chile, Argentina e Brasil – e entrar em novos mercados. Entre o fim do ano e o começo de 2021 os produtos começarão a ser vendidos no Peru, na Colômbia e no México. Mas o principal alvo é o mercado dos EUA – usando como impulsionador a experiência do fundo L Cattertron, que se tornou investidor na atual rodada.
Por lá, além de vender produtos, a NotCo quer ampliar seus esforços de pesquisa e desenvolvimento, fazendo coisas e aplicações “que ninguém tem”. “Como as bactérias se comportam em bases não lácteas, para fazer iogurte é uma questão
A NotCo tem hoje 200 funcionários – sendo cerca de 50 no Brasil. Até o fim de 2021 o plano é adicionar mais 100 a 150.
Segundo Muchnick, as vendas no momento estão de quatro vezes maiores em relação ao ano passado. “Quem era consumidor se tornou um heavy user. E nossa melhor forma de ganhar clientes é pelo boca a boca”, diz.
No Brasil – que o executivo acreditava que rapidamente iria se tornar o maior mercado da NotCo, mas que só deve atingir os status com os esforços a serem realizados em 2021 – o volume está de sete a oito vezes maior. O avanço se deve em grande parte à ampliação da rede de distribuição dos produtos no país, que hoje inclui Carrefour, Lojas Americanas, Big, Zaffari, entre outros. No começo da operação no país, há 18 meses, a companhia tinha fechado uma exclusividade com o Pão de Açúcar que acabou não tendo o resultado esperado e foi desfeita.
De acordo com Muchnick, uma outra alavanca foi a criação do restaurante “Why Not”, que faz entregas pelo aplicativo iFood a partir de uma dark kitchen na região de Pinheiros, em São Paulo. “Vendemos em uma semana o que achávamos que seria o estoque de um mês”, diz Flavia Buchmann, diretora de marketing da companhia. A ideia é ampliar a atuação com outras dark kitchens pela cidade
A rodada
A série C da NotCo foi feita com a entrada dos fundos Future Positive, do cofundador do Twitter, Biz Stone (com o qual os fundadores da NotCo tiveram dois jantares de degustação de produtos) e o L Catterton. Bezos Expedition (de Jeff Bezos), General Catalyst, IndieBio, Maya Capital, The Craftory, Humboldt Capital e Kaszek Ventures, que já eram investidores, acompanharam.
Segundo o TechCrunch a companhia foi avaliada em US$ 300 milhões. Muchnick não confirma (nem nega) o valor. A NotCo soma US$ 118 milhões captados em 5 anos de vida.