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O Brasil é um país de vocação agrícola, mas ainda não tem nenhuma startup com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Mas o que será que falta para uma companhia chegar ao perseguido status de unicórnio? A resposta para essa pergunta parece simplória, mas reflete o atual momento das agtechs e foodtechs brasileiras: é uma questão de tempo.

O país já conta com 1.574 startups atuando no agronegócio, segundo o Radar Agtech Brasil 2020/2021, elaborado em parceria entre Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens Research and Consulting, com apoio do Ministério da Agricultura. Em 2020, o número de agtechs ativas foi 40% maior em comparação com 2019, mesmo com a pandemia. Do lado de quem produz no campo, quando da indústria, o interesse pelas novidades criadas pela companhias iniciantes, e também por pesquisadores é crescente. Com oferta e demanda garantidas e a maturidade do ecossistema de investimentos de forma geral, a fórmula para que mais negócios cheguem à lista dos valuations bilionários está dada.

Para Polyana Targino, gerente de inovação aberta da Nestlé, falta ainda um pouco de agressividade e um olhar de lupa para o setor em busca de oportunidades. “Nos EUA você tem muitas empresas que basicamente exportam o que desenvolvem, nem têm tantos clientes nacionais”, disse ela durante a live Corporate Pitch: Agro & Food, promovida pelo Startups. A conversa que teve apoio da Innoscience Consultoria, contou ainda com a participação de Fernando Bocchi, diretor de pesquisa e desenvolvimento da M. Dias Branco e de Frederico Logemann, gerente de relações com investidores e planejamento estratégico SLC Agrícola. O encontro abordou o relacionamento das empresas do setor com startups e os resultados obtidos pelas 3 companhias, além de abordar tendências do setor de alimentação.

“[O nascimento de unicórnios] Tem muito a ver com o amadurecimento dos agentes do ecossistema. Mas estamos bem próximos de ter um unicórnio de agro. Não é uma questão de tecnologias americanas nos EUA, mas eles são mais produtivos no sentido de crescer startups, fazer com que elas captem dinheiro [por isso tem mais nomes por lá e aqui ainda não]”, disse Frederico sem citar nomes de possíveis candidatas ao posto. “Na próxima live a gente fala”, brincou. Ele faz uma ressalva importante: não necessariamente os unicórnios são os melhores negócios. Empresas que atingem esse patamar, eventualmente podem ser as que melhor se venderam para os investidores e com os recurso captados, criaram barreiras de entrada para competidores. Verdade. Mas também é verdade que o buzz gerado pelas companhias que chegam a esse gera interesse e dá impulso ao mercado.

Júlia Mariné, que comanda os projetos de inovação da Innoscience, reforçou o coro da proximidade de surgimento de um unicórnio destacando que o campo, principalmente os pequenos agricultores, está de digitalizando, o que faz com que a demanda por tecnologia não fique restrita apenas aos grandes grupos.

Relação com startups

Programas de inovação aberta têm se tornado um caminho cada vez mais comum para empresas que querem inovar. Mas essas iniciativas têm sido vistos com certa resistência por fundadores por conta de experiências do passado – e o medo de gastar tempo e no fim, não ter nada em retorno.

Segundo Polyana, o Panela, programa que a Nestlé acaba de lançar para reunir suas iniciativas de conexão com startups, prevê que os pilotos feitos sejam remunerados. Elas destacou também que as startups também têm um tratamento diferenciado dentro da companhia, não sendo tratadas como fornecedores comuns. “A gente tem políticas especificada para contratações, pagamentos porque a gente entende que elas são diferentes, que elas atendem a Nestlé de uma forma diferente de um fornecedor usual, impondo celeridade nos nossos processos”, disse. Segundo ela além do Panela, que está com inscrições abertas até 22 de agosto, a Nestlé tem um processo contínuo de conversas com startups. Assim, as companhias que não se identificarem com as chamadas podem se cadastrar e ainda ter relação com a marca. Desde 2018, a companhia já avaliou 1,4 mil startups em seus programas de inovação, tendo mantido relacionamento mais próximo com 400. Segundo Polyana, as companhias têm atendido as expectativas em termos de maturidade de ofertas.

No Germinar, da M. Dias Branco, Fernando disse que a lógica de remuneração é a mesma. “O processo tem que ser muito bem azeitado para que as empresas, ou o pesquisador, se identifiquem e realmente faça sentido o desafio para a startup. Porque para a grande corporação já faz. A gente quer que dê certo. E por ser remunerado, é um oportunidade para a startup validar a sua tese”, disse.

Frederico diz que no Agro Exponencial, da SLC Agrícola, a estratégia em sido ser criterioso nas avaliações e com diversas etapas de validação para garantir o acompanhamento dos resultados e evitar que a empresa e a stsartup gastem tempo demais e uma determinada iniciativa, evitando assim frustrações de ambas as partes. “Estamos amadurecendo todos juntos”, disse.

Tendências de alimentação

Na semana passada, a chilena NotCo levantou uma rodada de US$ 235 milhões e se tornou o mais nova unicórnio da América Latina. O investimento na foodtech que faz comida a base de plantas é um exemplo das mudanças no perfil de consumo de comida e do que o consumidor tem buscado. Segundo Polyana, vários aspectos compõem esse novo cenário. A comida precisa ser saudável, funcional (entregando o máximo de benefícios possível), o mais natural possível, sustentável e entregar impacto social positivo. “O alimento passa a ser muito mais do que aquilo que a pessoa descasca ou desembala. Tem toda uma composição”, disse. Fernando ainda acrescentou um tempero: tem que também ser gostoso e acessível.

Na avaliação de Frederico, além disso, há a questão realmente do acesso à comida que ainda é desigual entre os vários países do mundo. Em termos de demanda, a tendência é de aumento no consumo global com o aumento da população e da renda. “A China mesmo não é autossuficiente e está tentando garantir acesso a comida, construir canais para se abastecer”, destacou.

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