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Em meio a uma rodada de equity crowdfunding, a Gestar quer turbinar sua plataforma de conexão entre profissionais de saúde materno-infantil à famílias. Com capital à vista, a healthtech com foco em atendimento humanizado deve impulsionar aspectos do negócio desde o aprimoramento de funcionalidades para especialistas, até a expansão para um modelo B2B nos próximos meses.

Lançada em novembro de 2020, a Gestar foi – literalmente – escrita por Lettycia Vidal como um trabalho de conclusão de curso da sua graduação em Publicidade. A motivação foi a vivência da mãe, que teve o segundo filho quando Lettycia tinha 13 anos, e uma série de frustrações no sistema público de saúde durante o pré-natal, que culminaram em uma experiência de violência obstétrica no parto.

Com a observação dos eventos em torno do nascimento do irmão e acontecimentos posteriores, a fundadora percebeu que, enquanto muitas mulheres passam por experiências traumáticas e procedimentos indesejados – além de uma cultura de cesáreas, que, segundo a Organização Mundial da Saúde representam 55% dos partos no Brasil, ao passo que o recomendado é 15% no máximo – nascimentos não precisavam ser sempre sofridos.

“No retorno da minha mãe do hospital para casa, fiquei muito chocada. Imaginei que seria um momento só de felicidade e acabou sendo um período de preocupação, de muita dependência dela em relação a gente. Comecei a ouvir histórias de outras mulheres da família e amigas sobre estes assuntos, e percebi que elas sempre tinham algo negativo para contar”, diz a CEO da empresa, em entrevista ao Startups.

Aos 18 anos, Lettycia então ficou sabendo da experiência da prima, que teve um resultado positivo de pré-natal e parto. Segundo a empreendedora, a diferença foi o atendimento humanizado, algo ainda caro e elitizado no Brasil. “Enquanto as consultas da minha mãe duravam 15 minutos, as da minha prima duravam uma hora. Ela conseguiu tirar dúvidas, aprender sobre as vontades e direitos dela e tudo era alinhado com a equipe, para que aquele desfecho positivo fosse possível”, conta.

Com o objetivo de viabilizar uma boa experiência para todas as mães, Lettycia se tornou doula perinatal enquanto deu forma ao que se tornaria a Gestar. Depois de um período atuando em marketing digital após concluir a graduação, tomou a desafiadora decisão de largar a CLT e empreender para empoderar mães e viabilizar um atendimento humanizado para famílias. “Desde o momento que pensei a Gestar até os dias de hoje, o grande objetivo é conseguir trazer uma transformação para o cenário obstétrico atual do Brasil”, aponta.

Atualmente com cerca de 200 profissionais cadastradas no Brasil, Estados Unidos, Reino Unido e Turquia, a Gestar oferece mais de 20 especialidades, incluindo doulas, dentistas, obstetras, nutricionistas, consultoras de amamentação e outras profissionais. A proposta da startup é colocar mulheres no centro das decisões relacionados ao parto e cuidado materno, conectando-as com as especialistas.

Profissionais podem escolher entre um plano gratuito e opções de assinatura entre R$ 69 e R$ 90 mensais para usar a plataforma, que busca otimizar a rotina com funções como agendamento de consultas. Uma clínica no Canadá com foco no atendimento de expatriadas brasileiras também começou a usar o produto da Gestar, abrindo uma frente de clientes corporativos.

Outras fontes de monetização são cursos para gestantes, mães e profissionais, que acontecem através da plataforma e a startup fica com um percentual entre 10% e 30%. Mais de 2,500 famílias, mais especificamente mulheres, foram atendidas pela Gestar desde a sua fundação. Pacientes não pagam para usar a plataforma, somente pelos serviços – e a startup frequentemente organiza ações de atendimento solidário. Usuários também se beneficiam de trilhas de conteúdo e grupos de WhatsApp divididos por momento da jornada maternal, desde a pré-concepção até o cuidado infantil.

Desenvolvimento e a primeira rodada da Gestar

No início do desenvolvimento da Gestar, Lettycia passou por processos de aceleração. Entre eles, participou do Shell Iniciativa Jovem, programa com foco em negócios sustentáveis. Porém, sentia falta de uma rede que oferecesse não só a expertise técnica, mas a troca e conhecimento prático da maternidade.

Isso aconteceu quando Lettycia conheceu a B2Mamy, por indicação de uma das mentoras da Shell. “Quando fiz o primeiro programa na B2Mamy, encontrei o meu lugar, um ambiente com mulheres e mães em que sou rapidamente entendida, por mulheres já viveram [situações de violência obstétrica] ou estão buscando ajudar uma outra mulher”, conta.

“Encontrar esse lugar de acolhimento dentro desse ecossistema de startups, fez total diferença, porque eu passei a não me sentir tão sozinha, eu estava ali conseguindo compartilhar com outras mulheres que também já sentiram essa dor ou tinham medo de sentir, e participavam do desenvolvimento deste novo negócio que estava para surgir”, acrescenta.

Na B2Mamy, Lettycia conheceu Giovana Sgreccia, que tinha acabado de ser demitida no retorno da licença maternidade depois de 14 anos em um grande banco. “A maternidade tinha mexido muito comigo e tive muita dificuldade de achar um lugar que unisse profissionais com esse atendimento respeitoso e queria muito ajudar outras mulheres a terem acesso a esse tipo de informação. Chamei a Lettycia, nos conectamos e nos tornamos sócias, sem nunca termos nos conhecido pessoalmente”, diz Giovana, que atua como CFO da startup e também está à frente da área de operações.

Foto das co-fundadoras da Gestar: Lettycia Vidal (CEO) e Giovana Sgreccia (CFO) - Startups
As co-fundadoras da Gestar: Lettycia Vidal (CEO) e Giovana Sgreccia (CFO)

O novo desafio na trajetória da Gestar é a captação de investimento. Em 2021, a startup teve um salto de desenvolvimento ao ser selecionada para o Black Founders Fund, programa do Google com foco em empresas lideradas por pessoas negras. Neste novo momento, a empresa escolheu abrir sua primeira captação com a 3C Invest, e espera levantar R$ 600 mil por 9,09% do captable.

“Entendemos que o equity crowdfunding seria uma solução rápida e fácil para levantar essa primeira rodada, e podemos também envolver a comunidade da Gestar neste processo, Queremos pessoas que acreditem no nosso propósito e na possibilidade de crescimento”, ressalta Giovana.

Visão para os próximos meses

Com o aporte, a Gestar quer melhorar sua tecnologia, trazendo mais funcionalidades para profissionais na plataforma. O processo está sendo liderado por outra sócia da empresa, Karla Fonseca, ex-Aché e atual CTO da startup, e deve envolver o uso de software white label. Outro objetivo é organizar a jornada da família: segundo Giovana, a ideia é que a mulher não venha só em busca de um profissional. “Queremos trazer tudo que o que a mulher precisa, desde o momento em que elas tentam engravidar, nos momentos certo da gestação, e além, fazendo o match com profissionais”, pontua.

O roadmap criado a partir da escuta das profissionais também inclui internalizar o sistema de pagamentos pelos serviços prestados pela plataforma, além de oferecer outras funcionalidades como prontuário digital. A internalização também deve incluir as discussões que hoje acontecem no WhatsApp, para aprimorar a moderação e manter as usuárias no site. Até o fim de 2022, a femtech espera chegar a uma base de mais de 1,000 profissionais cadastradas na plataforma, e atingir uma base de 15,000 usuários.

Em um horizonte de um ano, Lettycia espera que a Gestar esteja em um ritmo de crescimento intenso, facilitado pelos investimentos em tecnologia, e que a empresa esteja próxima de uma nova rodada de investimento, ou mesmo de uma compra por um grande player do setor de saúde.

“[Um potencial comprador da Gestar] poderia ser uma empresa do setor que queira começar a caminhar nesse segmento materno-infantil de forma mais respeitosa, e entregar a gama de especialidades que temos, que inclui não só profissionais de saúde, mas também de bem-estar”, diz a CEO.

Segundo Lettycia, o mercado da Gestar é promissor e o segmento de femtechs está em ascensão, apesar do debate ainda precisar evoluir. “Muitas vertentes se abrem quando falamos de saúde da mulher e da gestante. Quando falamos de gestação, há uma média de 3 milhões de nascimentos no Brasil ao ano: estamos falando com muita gente e, além disso, trazendo soluções que são realmente efetivas, que querem realmente ver mudanças na sociedade”, diz a fundadora.

“Queremos trazer informação baseada em evidência científica, através de profissionais que tenham esse pacto de atender de forma respeitosa e, a partir disso, que famílias tomem suas próprias decisões de forma consciente. Nosso desejo é ser um ponto de encontro entre bons profissionais, uma rede de apoio e um lugar que acolhe todos os tipos de mães”, conclui.

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