Referência no Brasil na inserção de mulheres no mercado de tecnologia, a PrograMaria está se preparando para ampliar o escopo de suas iniciativas de capacitação. Além da expansão, a startup de impacto social também tem a realização do que é o maior festival de diversidade de gênero em tecnologia entre suas principais entregas previstas para este semestre.
Desde seus primórdios em 2015, quando começou como um grupo de mulheres que queriam aprender a programar e posteriormente como negócio, estabelecido em 2018, a PrograMaria foi responsável pelo treinamento de mais de 13 mil pessoas. A startup se posiciona como a porta de entrada para mulheres que buscam adentrar o mercado de tecnologia com um curso de programação front-end, cujo objetivo é desmistificar a área e mostrar às alunas que uma carreira no setor é possível.
Além da capacitação – que até antes da pandemia era presencial, em São Paulo, e agora acontece online, de forma assíncrona – a startup liderada por Iana Chan também tem uma frente de ações de engajamento. O foco destas atividades é o desenvolvimento das participantes do curso em suas novas carreiras em tecnologia, bem como apoiar a permanência destas mulheres no setor.
“Quando se fala em possibilidades de carreira, [a mudança] parece muito trivial, [as pessoas dizem] que a mulher pode fazer o que quiser. Mas somos uma sociedade estruturalmente machista, onde as oportunidades e acessos não são distribuídos de forma igualitária”, diz Iana, em entrevista ao Startups.
“Muitas vezes, mulheres deixam de seguir uma carreira que as interessa, por terem ouvido que essa opção é só para homens. Viramos a chave na cabeça delas – e desenvolver essa visão é muito importante, pois uma vez inseridas no mercado, essas mulheres também vão trabalhar para que o mercado seja mais diverso,” acrescenta.
Fortalecimento da comunidade
Entre as prioridades para a PrograMaria nos próximos meses, está a expansão no escopo dos cursos. De acordo com a fundadora da startup, o plano é adicionar uma continuação da introdução à programação front-end, em que as alunas aprendem a fazer sua primeira página web. Também há a intenção de oferecer um curso de programação back-end.
A PrograMaria também tem uma série de iniciativas em curso na frente de ações de engajamento, cujo objetivo é fortalecer a comunidade. Uma delas é o Potências Tech, em que o objetivo é encorajar mulheres a se candidatarem para as vagas no mercado e potencializar conexões. A startup analisa as vagas abertas e os perfis que empresas estão buscando, e faz uma busca entre as mulheres da sua rede para fazer o “match” entre candidatas e empresas, com um público pré-selecionado.
Recrutamento de talentos em tecnologia com foco em diversidade também está entre as propostas do PrograMaria Summit, que acontecerá de forma híbrida entre os dias 16 e 19 de novembro, dia do Empreendedorismo Feminino. O evento, que está em sua quinta edição, deve reunir um público de mais de 3 mil pessoas com diversas ações para o que Iana define como uma “celebração das mulheres em tecnologia”.
Além de palestras, painéis e workshops, a programação deve incluir mentorias para mulheres e uma feira de oportunidades, em que empresas poderão divulgar suas vagas abertas em tecnologia. “[O evento] é uma chance de ter contato com o público [mulheres], que tem curiosidade de saber como é ser uma mulher em tecnologia naquela empresa específica. Também vemos muito interesse pelas rodadas de entrevistas entre o público participante e pessoas recrutadoras das empresas”, diz Iana. “O Summit é um festival de oportunidades de conhecimento, de troca, de networking, e de conhecer caminhos possíveis.”
Além do Summit, também existem outras iniciativas que acontecem ao longo do ano e representam a principal fonte de receita da startup, que Iana não revela. Entre estas ações, está o programa Encontros, em que empresas trazem cases de tecnologia e usam o espaço para falar de seus desafios e iniciativas de diversidade. O Sprint é uma semana de imersão com conteúdos variados com metodologia ágil com o intuito de acelerar o desenvolvimento de pessoas em temas específicos na carreira de tecnologia.
Clientes da PrograMaria nessas frentes incluem empresas de tecnologia como Intel, Totvs e Avanade, startups como Olist, Nubank e C6 Bank, e organizações de outros segmentos, como Renner, EY, Globo e Grupo Boticário. “No começo, atraíamos muitas empresas de tecnologia. Temos visto essa mudança de empresas em que, além do posicionamento em relação a diversidade, organizações de outros setores também se posicionam como empresas de tecnologia e olham para isso como algo estratégico”, observa Iana.
Foco em interseccionalidade
O curso de front-end da PrograMaria buscou oferecer um formato que pudesse atender a todos, em que a pessoa escolhe o valor que mais se adequa à sua realidade. Há um valor subsidiado, de R$ 74,90, um valor “ideal”, de R$ 104,90, e uma opção em que é possível ajudar uma outra pessoa a estudar, de R$ 149,90. Esse último modelo possibilitou a criação de um fundo para a oferta de bolsas, que também são viabilizadas via parcerias com empresas como a Trimble, empresa de tecnologia que recentemente custeou 100 lugares.
Para se candidatar às bolsas, as mulheres preenchem um formulário socioeconômico e fazer um teste online. Esta triagem visa garantir a representatividade de recortes como mulheres negras, periféricas, trans, mães e desempregadas, e validar o compromisso e real interesse na capacitação.
“Nos discursos sobre diversidade, precisamos pensar sobre qual diversidade estamos falando, pois é comum falar desse tema [em referência a] mulheres brancas, cis e de classe média. Claro, é importante [também considerar esse recorte] mas é fundamental dar um passo além”, ressalta Iana.
“Priorizamos grupos vulneráveis na distribuição de bolsas, justamente por entender este papel social, entendendo também a tecnologia como uma oportunidade bastante frutífera de carreira, com muitas oportunidades, mercado aquecido, salários atrativos. Vemos o trabalho em tecnologia como uma possibilidade de empoderamento econômico destes grupos”, conclui.