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Nos encontros de família, o uruguaio Gonzalo Blanco sempre foi o sujeito que dava pitaco na saúde financeira dos parentes. Até de forma não muito polida, aproveitando o precedente da intimidade, algumas vezes.

Quando foi para Stanford para aprender a empreender, com a ex-colega de McKinsey, a portuguesa Mafalda Barros – que desembarcou na América Latina em 2013 e rodou a região em projetos com a consultoria – parecia natural usar a inquietação sobre como as pessoas administram seu dinheiro como mote de uma nova empresa.

Na foto: Gonzalo Blanco (à esq.) e Mafalda Barros

Foi assim que nasceu a Quansa, a startup que quer tornar a saúde financeira um benefício corporativo das empresas. Uma espécie de Gympass das finanças, com ofertas como orientação financeira e antecipação de salário. O custo para a empresa “fica dentro da banda de preços típica de outros benefícios”, segundo Mafalda.

Para colocar seu plano de pé, a companhia que nasceu no 2º semestre de 2020 levantou uma rodada de US$ 3,6 milhões liderada pela Valor Capital – que investe no… Gympass, e também na Caju, de benefícios flexíveis. O aporte contou ainda com a participação da americana Pear VC (1ª investidora do negócio, ainda nos estágios iniciais em Stanford), Canary, Norte, Magma e o Sequoia Scouts.

O título da matéria foi alterado por que aqui vale uma explicação: o Sequoia Scouts é o programa de indicação de oportunidades criado pela Sequoia. São fundadores da rede construída por ela, normalmente de suas investidas que fazem as recomendações. No caso da Quansa, foram duas indicações. Apesar de os investimentos serem feitos com dinheiro da gestora, ela própria não entra no cap table das companhias, nem tem participação nas conversas sobre rumos e estratégia. Isso significa que, na prática, Gonzalo e Mafalda não terão linha direta com o time da Sequoia, como a sócia Sonya Huang – diferentemente do pessoal da Pomelo, que recebeu um aporte direto da Sequoia.

Também entraram na rodada Ariel Lambrecht (99), Mariana Dias e Bruna Guimarães (Gupy), Maurício Feldman (Volanty), e Mada Seghete (Branch Metrics), entre outros investidores.

Como funciona

Assim como um Gympass, ou um plano de saúde, a ideia é que as empresas banquem a oferta para os funcionários, como um benefício mesmo. A remuneração da Quansa é só pelo que a empresas pagam por funcionário, ela não ganha na intermediação financeira de empréstimos, ou nos juros. “Monetizar assim seria ser parte do problema”, diz Gonzalo.

Segundo ele, com essa mudança de incentivo, a proposta não é usar a folha de pagamento apenas como um canal para a oferta de um produto ou serviço, mas contribuir de fato para que os funcionários tenham uma vida financeira mais organizada. O contato das pessoas será sempre personalizado, com a marca do cliente, “powered by Quansa”. E segundo Mafalda, nem sempre a solução a ser oferecida será um crédito, mas o que a pessoa precisa no momento. “Assim garantimos que a receita da Quansa não aumenta com o endividamento dos funcionários”, diz

O crédito para funcionários já vinha ganhando atenção das fintechs antes da pandemia diante do cenário de redução de juros e das medidas de estímulo ao aumento da competição no setor bancário. Isso sem contar que a principal ferramenta usada hoje, o crédito consignado, é altamente burocrático e virou uma dor de cabeça para as áreas de recursos humanos porque não resolveu o problema do endividamento.

Entre os principais nomes do setor estão Xerpa, Grupo H, SalaryFits, Creditas e Facio são alguns dos nomes disputando esse mercado. A Totvs incluiu a opção de antecipação de salário em seus sistemas de gestão no modelo de marketplace, com ofertas de empresas como a Creditas.

Nos EUA, a Brightside tem atuado em um modelo parecido com o da Quansa.

Início e planos

A Quansa nasceu durante o curso de MBA de Stanford e foi testada inicialmente no Chile. O país foi escolhido por regras mais simples e custos mais baixos para abertura de uma empresa, o que facilitaria a vida dos fundadores que estavam na Califórnia. No Brasil, a operação começou tem 1 mês. O país será o grande alvo da operação.

O temor inicia era que a abordagem remota seria um empecilho, que a resposta das áreas de recursos humanos aos contatos seria um “venha falar com a gente quando estiver por aqui”. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário, e a receptividade foi grande. “O custo de abrir uma agenda no Zoom é muito menor”, diz Gonzalo.

Em menos de 1 ano de operação, a companhia diz ter intermediado (mas sem ganhar comissão por isso, relembrando) R$ 6 milhões para atender emergências financeiras de trabalhadores.

O alvo são empresas de grande porte com funcionários CLT que ganham entre 1 e 3 salários mínimos, ou cerca de R$ 2,3 mil, que tenham dificuldades financeiros – um contingente de 68 milhões de pessoas. De acordo com Mafalda o segmento de hospitalidade tem mostrado grande abertura à proposta. Mas há também interesse em transporte, construção, varejo, supermercados e empresas de call center.

A equipe da Quansa hoje conta com 10 pessoas e o objetivo é dobrar até o fim do ano. Além de ampliar a equipe, a companhia também vai usar os recursos da rodada para investir em tecnologia e desenvolver novas ofertas de serviços.

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