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A finlandesa MaaS Global, dona do aplicativo de integração de serviços de transporte urbano Whim, adquiriu a Quicko, startup brasileira de mobilidade urbana. Após a compra, de valor não divulgado, a Quicko planeja fechar uma série C ainda em 2022 para consolidar mercados e lançar novos serviços.

No mercado desde 2018, a startup com sede em São Paulo reúne os meios de transporte disponíveis na cidade e fornece todas as informações para um deslocamento mais eficiente. Os recursos incluem atualizações em tempo real da situação do transporte, sugestões das melhores rotas e localização das estações de compartilhamento de bicicletas. O app conta com mais de 500 mil usuários, distribuídos em mais de 100 cidades brasileiras, e triplicou seu GMV (Volume Bruto de Mercadorias) no ano passado.

“Nos aproximamos da MaaS Global no ano passado e, desde então, percebemos que há uma complementaridade muito grande entre os negócios e oportunidade para crescermos juntos”, afirma Pedro Somma, diretor-executivo da Quicko, em entrevista ao Startups.

A plataforma brasileira será integrada ao Whim. Segundo o executivo, a incorporação permitirá que a Quicko acelere sua capacidade tecnológica. Na Europa, o Whim oferece um programa de assinatura integrada que permite pegar ônibus, metrô, patinetes elétricos, bicicletas individuais ou compartilhadas, táxi ou carro alugado. “A gente quer adotar o modelo no Brasil, e devemos lançar ainda este ano um pacote de assinaturas”, diz Pedro.

A vantagem do modelo, de acordo com o representante da Quicko, é dar mais liberdade para os usuários. “Hoje, em São Paulo, o dinheiro do bilhete único só funciona para o transporte público, não dá para usar o saldo para, por exemplo, alugar uma bicicleta”, pontua. “Integrando tudo em uma plataforma e vendendo um pacote com vários meios de deslocamento, oferecemos mais flexibilidade para as pessoas que não têm carro e podem misturar uma série de transportes”, completa.

Do outro lado, a MaaS Global aproveita a aquisição para expandir as operações e entrar oficialmente na América Latina. “Vemos uma grande oportunidade para dar um salto de sustentabilidade no Brasil”, diz Sampo Hietanen, diretor-executivo e fundador da startup finlandesa, em comunicado, acrescentando que os serviços da MaaS podem melhorar o bem-estar das pessoas, resolver os problemas de tráfego e fornecer uma maneira eficiente de reduzir as emissões de CO2. 

No ano passado, o player finlandês adquiriu a rival espanhola Wondo, como parte de sua estratégia para expandir rapidamente para novos mercados e aumentar a oferta de serviços B2B e B2C. Meses depois, a companhia levantou US$ 33 milhões da BP Ventures, Mitsubishi Corporation e Nordic Ninja.

O que muda com a aquisição

Até o momento, a Quicko fazia parte do Grupo CCR, holding brasileira especializada em infraestrutura de mobilidade urbana. Em 2019, a companhia investiu US$ 10 milhões na startup brasileira e, no ano seguinte, injetou mais R$ 100 milhões por uma participação de 80%. A série B foi coliderada pela J2L Partners, focada em investimentos de capital privado. Com a venda para a MaaS Global, ambos se tornam acionistas minoritários da empresa finlandesa.

Nos próximos 3 meses, será decidido qual marca – Quicko ou Whim – será usada no Brasil. Em todos os países em que atua, incluindo Finlândia, Bélgica, Reino Unido e Japão, a MaaS Global opera sob a marca Whim. “Temos vontade de fazer parte de uma marca global, porque atrai muito valor. É algo que ainda será estudado, mas existe o interesse”, diz Pedro Somma, diretor da Quicko.

Os mais de 60 funcionários da empresa brasileira serão incorporados ao time da companhia finlandesa, e Pedro assumirá o cargo de diretor de estratégia. “Meu trabalho é criar caminhos para entrar nos mercados, com uma visão de integração muito mais eficiente”, diz o executivo. O objetivo da companhia, pontua Pedro, é transformar o setor de transporte global, que deve crescer 900% nos próximos 5 anos e chegar a US$ 53 bilhões de receita até 2027, segundo a Juniper Research, empresa inglesa que realiza pesquisas de mercado e business intelligence.

Próximos passos

Em entrevista ao Startups, Pedro adiantou que a Quicko espera fechar uma nova rodada de investimentos ainda em 2022 para “acelerar os mercados que temos hoje e entrar em novos”.

A rodada deverá ser liderada por um investidor estrangeiro, para acompanhar a movimentação da Quicko de se tornar uma empresa global – algo que já foi impulsionado pela aquisição. “A Europa está muito avançada nas discussões de mobilidade urbana, com países tentando substituir o carro pela integração de transportes, explica Pedro, acrescentando que os fundos da região estão de olho nessa tendência.

Com o caixa reforçado, a startup espera crescer no Brasil e na América Latina como um todo. Por aqui, a Quicko está presente em 8 cidades e vai focar seu crescimento em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. “Queremos consolidar os municípios como nossos principais mercados nacionais, mas agora temos uma postura LatAm, e começamos a olhar para as oportunidades que existem no continente”, afirma o executivo.

Sobre são os desafios para crescer no Brasil, Pedro destaca a preparação tecnológica do ecossistema. “Alguns mercados, como São Paulo, têm um sistema de bilhetagem de transporte público muito atrasado, no qual o cartão tem que ser validado na estação. Existe um desafio de modernização, mas estamos animados porque a MaaS Global tem a tecnologia mais avançada do mundo no setor e vamos levar isso para as cidades brasileiras”, diz. A outra dificuldade é mais cultural: as pessoas se acostumarem com as alternativas de deslocamento e adotarem um comportamento pró-mobilidade sustentável. 

Em termos globais, a preocupação é tornar o transporte público mais previsível, acessível e confortável para as pessoas. “É um desafio de comportamento, mudar os costumes. Na Europa, muitos querem ter e usar carro, e a maior parte usa 1 veículo por pessoa, o que é ineficiente”, pontua.

Quebrando essas barreiras, a Quicko projeta dobrar o número de usuários para 1 milhão até o final do ano e aumentar a receita em cerca de 3 vezes. Sem dar muitos detalhes, Pedro adianta que o serviço de assinatura será lançado aos poucos, começando, provavelmente, por Salvador, onde a empresa tem um sistema integrado que permite que o passageiro carregue o bilhete. “Criar assinaturas envolve transformar o sistema de mobilidade da cidade, incorporando muita tecnologia para simplificar os processos”, conclui.

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