O conceito de economia compartilhada no Brasil é mais conhecido por serviços como Uber e Airbnb, mas nos últimos anos, startups de vários segmentos embarcam nessa leva a fim de solucionar problemas do dia a dia de forma rápida, prática e, de quebra, sustentável. É o caso do mercado da moda. Para se ter ideia, o setor é responsável por 10% das emissões globais de carbono – o que supera as emissões combinadas de voos internacionais e do transporte marítimo.
Segundo estudo da Research and Markets, neste ritmo, as emissões de gases causadores de efeito estufa do segmento aumentarão mais de 50% até 2030. Mas nem tudo está perdido. Diante deste cenário alarmante, começam a surgir novos caminhos. A demanda por materiais ecológicos, por exemplo, tende a aumentar significativamente ao longo dos próximos anos, impulsionando o mercado de moda sustentável até 2025.
Um outro movimento que vai ganhar força é a ideia de reduzir a compra de itens novos para o guarda-roupas e a opção pelo compartilhamento e até mesmo aluguel de roupas por assinatura, nos moldes de uma Netflix.
E advinha? Já tem muita startup de olho nisso. Pioneira no ramo, a novaiorquina Rent the Runaway já fez até IPO. A empresa, que surgiu em 2009 com a proposta inicial de alugar vestidos de festa, hoje oferece um estoque gigantesco, que permite criar um closet completo na nuvem. Avaliada em US$ 1 bi, ela arrecadou US$ 357 milhões em sua estreia na Nasdaq realizada em outubro.
De peças avulsas à malinha de viagem
Inspiradas no modelo de negócio da startup americana, as administradoras de empresas Ana Teresa Saad e Eduarda Ferraz foram umas das pioneiras em trazer o conceito para a moda brasileira. Em 2018, fundaram a Clorent, marketplace de aluguel de roupas femininas focado em mulheres com independência financeira, entre 24 e 35 anos.
“Começamos com o aluguel de peças avulsas, mas não demorou para incluirmos o modelo de assinatura, por uma demanda vinda das próprias clientes”, conta Ana Teresa. Segundo ela, em média são feitos 450 aluguéis por mês. Os planos de assinatura variam de R$ 189 a R$ 549.
A Clorent também oferece malinhas, serviço mais usado por clientes que querem se manter na moda quando viajam. Nesta opção, a usuária pode escolher uma mala com 3, 5 ou 10 peças por 15 dias de uso, pagando entre R$ 350 a R$ 950. Para quem prefere provar as peças antes de alugá-las, a startup possui um espaço físico/escritório na cidade de São Paulo.
Zara, Iodice, Bobô e Cris Barros são algumas das marcas que compõem o acervo com quase 4 mil peças. Sim, é roupa pra caramba. Por conta de tantas opções, oferecem ainda um serviço de personal stylist para ajudar a cliente na escolha das roupas que vai alugar, principalmente em relação a tamanho e estilo (seja no modelo avulso, assinatura ou malinha).
Feat com o B2B
Durante a pandemia, como quase toda startup e empresa, as fundadoras tiveram que reinventar o negócio. Sair um pouco do óbvio. Decidiram então focar em estruturar a operação e tecnologia, focando num produto 100% digital e de fácil acesso. As mudanças chamaram a atenção do mercado.
“Fomos procuradas por algumas marcas e estamos lançando nosso primeiro white label no modelo B2B com uma grande varejista”, conta Eduarda. A Clorent vai licenciar sua tecnologia para a loja de departamento poder usar com a cara dela e cuidará de 100% da operação (entrega, coleta e lavagem). A novidade deve rolar antes do Natal. [ATUALIZAÇÃO: a parceria foi firmada com a Riachuelo. Assim como na plataforma da Clorent, o serviço terá três opções: o aluguel único de um (ou mais) itens, assinaturas mensais (que permitem usar 3 peças ao mês) e malas de viagem.]
Homens também têm vez
O público feminino conta com diversas opções de marketplaces de aluguel de roupas. Mas e os homens? Ao olhar o mercado internacional e brasileiro, Carlos Alberto Silva, fundador da WeUse, que nasceu como HOTD (sigla para Have Options to Dress), identificou que o público masculino era esquecido. Nem mesmo a americana Rent the Runway tem peças para homens.
Foi então que, há 3 anos, se juntou ao irmão e sócio Humberto Silva para criar o guarda-roupas virtual de consumo compartilhado. “Nossa missão é democratizar esse novo modelo de consumo, atendendo homens e mulheres das classes B e C”, diz Carlos. O acervo da startup é adquirido em lojas no atacado.
Os planos oferecidos são mensal (R$ 109,90) e anual (R$ 89,90 por mês). As pessoas escolhem 4 peças por semana (femininas e masculinas) que são embaladas em plásticos retornáveis e entregues em uma ecobag personalizada. De acordo com a região de SP, há um dia fixo para a entrega de novas peças e a retirada das que foram utilizadas naquela semana. A lavagem fica por conta da startup.
Guarda-roupa maior e sempre na moda
Em janeiro, a WeUse também vai começar a atuar no B2B em parcerias com marcas, as quais poderão criar closets na plataforma. Além das peças femininas e masculinas, a startup pretende no futuro expandir o guarda-roupa virtual com roupas infantis, plus-size, bolsas, calçados e acessórios.
Para dar um gás nos novos planos, no mês passado a companhia ingressou na plataforma eqseed em busca de uma rodada seed de R$ 800 mil, por 11,5% de participação societária. Até agora a startup conseguiu 11% do total (R$ 90 mil). “Vamos investir em marketing de forma mais agressiva, influenciadores, para suportar a mudança do modelo de negócio”, afirma Carlos.
A ideia é que a WeUse se torne um híbrido de assinatura de aluguel de roupas com brechó online. Nos mesmos moldes que um Enjoei, mas com alguns diferenciais: os usuários poderão compartilhar suas roupas na plataforma para que outros possam alugar os itens. A pessoa coloca a roupa para vender, mas enquanto isso não acontece, ela acumula créditos na carteira digital do site, toda vez que alguém aluga a peça. Quando vender, recebe todo o valor acumulado.
Com 200 assinantes atualmente, a expectativa da empresa é de passar de mais de 2 mil até o fim de 2022. Se depender de tantas novidades, deve rolar até antes disso.