Depois de receber R$ 86 milhões em outubro do ano passado, a Sami, que opera como um plano de saúde empresarial corporativo para empresas e microempreendedores individuais (MEIs), decidiu adicionar um pouco mais de gasolina no tanque. A healthtech levantou mais R$ 111 milhões em uma extensão da série A.
O round foi coliderado por Valor Capital, Redpoint Ventures, monashees e DN Capital, fundo inglês que participou dos IPOs da Auto 1, na Alemanha, e da Remitly, na Nasdaq. Também participaram da rodada Endeavor Scale Up Ventures, StartUp Health, The Fund, Two Culture Capital, a boutique de wealth management Lakewood e os executivos Ricardo Marino (presidente do conselho de administração do Itaú para a América Latina) e Kevin Efrusy (sócio do fundo norte-americano Accel).
A empresa registrou um crescimento acelerado no último ano, saltando de 100 clientes para quase 7.000 no final de 2021. O número de funcionários aumentou de 96 para 400 e o de hospitais parceiros, de 2 para 20, incluindo Beneficência Portuguesa, Oswaldo Cruz, Labi, Lavoisier e ProMatre. Em junho, a healthtech, que começou operando apenas na capital paulista, iniciou as operações em outras 6 cidades do estado: Osasco, Guarulhos, Taboão da Serra, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.
A “2ª parte” da série A chega para sustentar esse crescimento. A expectativa é multiplicar a base de clientes por 4, chegando ao final de 2022 com cerca de 30 mil usuários. “Se um paciente precisa fazer o tratamento de um câncer, por exemplo, no valor de R$ 1 milhão, precisamos estar bem capitalizados para atendê-lo sem dificuldades”, explica Vitor Asseituno, presidente e cofundador da Sami.
A startup também quer melhorar a tecnologia. Para isso, o aporte vem acompanhado de uma contratação estratégica. Alexandre Freire, ex-diretor sênior de engenharia do Nubank, chega à Sami como diretor-chefe de tecnologia. “Ele traz toda sua expertise para nos ajudar a levar a tecnologia para o próximo nível”, diz Vitor.
Nubank como inspiração
O executivo já falou publicamente sobre a admiração que sente pelo banco roxinho. “Eu quero ser o Nubank dos planos de saúde”, disse em uma entrevista no ano passado. Aqui para o Startups, ele explicou melhor o que está por trás dessa afirmação.
“O Nubank é um grande exemplo de geração de impacto de verdade. Ao invés de lançar vários produtos de uma vez, a empresa começou com um cartão de crédito e focou nele por 5 anos. De forma semelhante, a proposta da Sami é trabalhar muito bem o produto que já temos, para oferecer um plano de saúde excepcional. Podemos até ter outras soluções no futuro, mas agora a proposta é ter uma linha de produto, mas que essa seja a melhor e mais barata do mercado”, diz Vitor.
Assim como o Nubank, Vitor quer melhorar a experiência digital dos usuários por meio da tecnologia. O paciente contrata o serviço da Sami de forma 100% online, da escolha do planos à assinatura do contrato. O app vem com um chat por texto, áudio ou vídeo, por onde o usuário pode falar com os médicos e enfermeiros na palma da mão. Os hospitais parceiros oferecem consultas telemedicina 24h, também pela plataforma.
“O Nubank criou uma marca com atendimento muito diferenciado, ao ponto de ter clientes fazendo pedidos de casamento com a ajuda do banco”, relembra Vitor. “Como um serviço de saúde, queremos participar da vida das pessoas com uma profundidade muito maior do que qualquer outra empresa, tendo o acolhimento das pessoas como um diferencial importante”, completa.
Low price
A Sami se inspirou nos modelos britânico e canadense do médico de família, que faz o acompanhamento de toda a jornada e histórico do paciente. Esse profissional presta assistência em quaisquer situações clínicas, urgentes ou rotineiras, orienta o paciente sobre medidas de prevenção e tratamento e, em muitos casos, é a porta de entrada do paciente no sistema de saúde.
“No modelo tradicional, a pessoa que precisa de uma consulta no cardiologista, por exemplo, tem vários profissionais à sua disposição. Ela não sabe qual deles é o melhor para a sua condição e, normalmente, escolhe o que é mais perto da sua ou casa ou tem a agenda mais livre. Isso é ineficiente, porque faz um leigo tomar decisões baseadas em pouca informação”, alerta Vitor, que também é médico.
Ele explica que, além de pouco eficiente, esse modelo também é mais caro. A pessoa demora para marcar a consulta. Vai ao médico, tem que fazer vários exames e ainda marcar o retorno. Às vezes, o médico não é especializado no quadro do paciente e o paciente precisa buscar um outro profissional, gastar dinheiro com mais uma variedade de exames até (tentar) chegar no tratamento.
A proposta da Sami é evitar todo esse processo caro e exaustivo. A pessoa fala diretamente com o médico da família, que direciona o paciente para o especialista ideal. É como se fosse um Waze. O app, dá instruções de trajetos, mapas de trânsito e alertas de incidentes. No final, o motorista gasta menos gasolina, porque chega ao seu destino muito mais rápido.
“Na Sami, o que queremos fazer é encurtar o percurso de cura e atendimento. Vamos economizar a gasolina: eliminar exames e idas ao médico desnecessárias, e fazer o diagnóstico nos estágios iniciais da doença para o tratamento ser mais simples e barato”, explica Vitor.
É assim que a healthtech garante planos de saúde a preços mais acessíveis. “Criamos um percurso eficiente de atendimento. Isso nos permite chegar no cura de forma mais rápida e assertiva.” Segundo o executivo, mais da metade dos casos da Sami são solucionados por telemedicina, o que elimina a necessidade de exames presenciais e infraestrutura dos consultórios, e barateia o custo do plano de saúde.
Em 2021, o reajuste do plano de saúde da Sami foi apenas de 6,2%. Segundo a startup, essa porcentagem é quase 40% menor do que a média dos planos comerciais destinados a PMEs no Brasil, de 9,95%.
Mais um diferencial: enquanto os planos de saúde tradicionais têm hospitais, laboratórios e clínicas, a Sami fechou uma parceria com o Gympass, plataforma que dá acesso a academias, estúdios e aulas ao vivo para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar. Todos os clientes da healthtech podem fazer, diariamente, aulas de zumba, cross fit, yoga, pole dance e muitos outros.
Próximos planos
“Mais do que uma extensão da série A, vemos essa rodada como uma pré-série B”, diz o empreendedor, com grandes expectativas de fechará a série B ainda maior em 2022. Os planos da Sami são ainda maiores, e contam com o apoio dos investidores globais para saírem do papel. “Temos investidores em comum com 14 dos 17 unicórnios brasileiros (até agosto de 2021), que trazem expertise para crescermos ainda mais.”
A healthtech ainda não tem planos de expandir para outras regiões do Brasil. “São Paulo é uma região muito grande, com várias oportunidades de crescimento. A maioria das pessoas ainda não tem plano de saúde, então temos muita coisa para conquistar por aqui”, afirma Vitor.