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Benefícios corporativos com foco na saúde dos colaboradores têm se tornado uma prática comum no mercado de trabalho. Algumas empresas já oferecem acesso a academias, convênio odontológico, plano de saúde, sessões de terapia, massagem vale-meditação e até brigadeiro. Mas ainda há vários segmentos a serem explorados.

De olho nesse potencial, a polonesa Aleksandra Jarocka criou a Fertably, startup de benefícios corporativos que fornece cuidados de fertilidade e assistência de planejamento familiar. A companhia visa reduzir os custos de saúde e democratizar o acesso a procedimentos como fertilização in vitro (FIV), inseminação intrauterina (IIU) e congelamento de óvulos.

A empresa conecta colaboradores a uma rede clínicas de reprodução humana e oferece uma equipe de médicos especializados para apoiar o paciente nessa jornada. A startup cuida da administração financeira e dos benefícios, reunindo a gestão de reembolsos, relatórios sobre inscrição, engajamento e custos em uma única plataforma.

A semente do negócio começou a ser plantada quando Aleksandra ainda trabalhava como negociadora de contratos de planos de saúde na startup Deel, plataforma de RH com foco em times globais. “Percebi que nenhum plano cobria saúde reprodutiva e fertilidade. E, na maioria das vezes, esses tratamentos são muito caros em qualquer lugar do mundo”, conta Aleksandra, em entrevista ao Startups. Depois de estudar o mercado mais a fundo, ela decidiu empreender no Brasil, para onde se mudou há cerca de um ano após se casar com Igor Marinelli, cofundador da Tractian.

Aleksandra Jarocka, fundadora e CEO da Fertably
Aleksandra Jarocka, fundadora e CEO da Fertably (Foto: Gabriel Reis/Divulgação)

Mercado em expansão

Segundo Aleksandra, a oferta de benefícios corporativos voltados à fertilidade é algo comum, embora não mainstream, em grandes corporações no exterior. “Nos Estados Unidos existe uma vertical de fertility benefits e quase 20% das empresas com mais de 500 funcionários oferecem cobertura para o congelamento de óvulos”, afirma.

As big techs estão puxando a fila, custeando parte ou 100% dos tratamentos de fertilidade dos funcionários. Em 2014, a Apple e o Facebook lançaram programas para cobrir até US$ 20 mil dos procedimentos de congelamento de óvulos por funcionária. No ano passado, a Microsoft Brasil ampliou a cobertura do plano de saúde para incluir fertilidade, tratamento de câncer e cirurgia bariátrica, além de transição de gênero de funcionários transexuais e tratamento para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O número de empresas globais oferecendo algum tipo de benefício de planejamento familiar saltou 60% de 2019 para 2021, chegando a 758 companhias, segundo a startup FertilityIQ. No Brasil, o mercado ainda é bastante incipiente: apenas 3% das empresas cobrem fertilização in vitro ou inseminação artificial, e somente 1% cobre o congelamento de óvulos, de acordo com uma pesquisa de 2021 feita pela Mercer Marsh Benefícios.

No mundo das startups, empresas especializadas em reprodução humana ganharam o nome de fertility techs. Em 2021, elas levantaram mais de US$ 800 milhões em investimentos globais, de acordo com a PitchBook. Até abril de 2022, o número chegava a quase US$ 200 milhões.  Nos Estados Unidos, o segmento já tem até unicórnios. É o caso da Maven, plataforma de serviços de fertilidade e planejamento familiar que atende mais de 500 clientes como Microsoft e L’Oréal, e da Kindbody, rede de clínicas de reprodução humana que atende funcionários de empresas como a Tesla.

Transformando a cultura

Segundo Aleksandra, o grande desafio da Fertably é educar o mercado brasileiro sobre a questão da fertilidade e benefícios corporativos no setor. “Brasileiros têm problemas grandes de fertilidade”, afirma a empreendedora. A infertilidade conjugal afeta de 10 a 15% dos casais em idade reprodutiva no mundo e, por aqui, oito milhões de pessoas podem ser inférteis, de acordo com dados de 2019 da Associação Brasileira de Reprodução Assistida divulgados pela Agência Brasil.

“O Brasil faz parte do grupo em que mulheres engravidam mais tarde, o que afeta a fertilidade e saúde das pessoas”, acrescenta Aleksandra. As mulheres brasileiras priorizam a gestação após os 30 anos de idade, segundo as Estatísticas do Registro Civil, divulgadas em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além de apoiar casais que não querem ser pais tão cedo ou que têm um diagnóstico de infertilidade, o acesso à saúde reprodutiva também é importante para pessoas solteiras que querem ter filhos ou casais LGBTQIA+.

Demanda existe, mas é preciso conectar a sociedade com os médicos, as clínicas e as tecnologias. Mais do que impactar as pessoas, a Fertably tem que conquistar as empresas. E, de acordo com Aleksandra, as corporações ainda não entendem as vantagens de oferecer benefícios ligados à fertilidade. “É difícil para elas enxergar que isso pode reduzir custos e reter colaboradores. Se alguém faz uma fertilização in vitro segura e de qualidade, é possível evitar problemas de saúde da mãe e dos bebês, e a pessoa pode voltar a trabalhar com mais facilidade”, explica.

A companhia pretende investir fortemente em educação de mercado e desenvolvimento da plataforma. Para isso, está estruturando uma rodada de investimentos – a primeira após captar recursos com investidores-anjos. Aleksandra ainda não pode dar muitos detalhes, mas diz já estar planejando a captação.

Para 2023, a startup tem planos de crescer 20% ao mês em número de vidas atendidas, que hoje está na faixa dos 6 mil colaboradores. A expectativa é chegar a 20 mil usuários até junho e 3 milhões nos próximos 5 anos. Como estratégia de escala, a empreendedora aposta na rede que construiu ao longo dos anos e busca empresas que já mostraram estar preocupadas com a saúde e bem-estar dos colaboradores. A Fertably também tem parcerias com clínicas de reprodução humana, entre elas, a Engravida.

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