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Pegar dinheiro em uma rodada de venture capital é demais. Mas uma captação de recursos vai muito além da injeção de recursos em uma companhia iniciante. Os contatos e o conhecimento que os novos sócios trazem para a mesa são tão ou até mais importantes.

E o investimento mais recente recebido pela carioca Mobees é um bom exemplo disso. Como 1º cheque de sua série A, a startup que oferece renda extra de até R$ 1 mil para motoristas de aplicativos com a instalação de telas de LED no teto dos carros para exibição de publicidade, trouxe a We Ventures, o fundo de VC com pegada de impacto criado pela Microsoft. O aporte foi de R$ 5,5 milhões.

E por que isso é importante? Por vários aspectos. A Mobees tem como cofundadora e diretora de marketing Flávia Coelho. Então entra na pauta do estímulo ao empreendedorismo feminino. A proposta da startup é ajudar uma categoria profissional (bem judiada, diga-se de passagem) a gerar renda extra. Então estamos falando de impacto social. Além disso, a We Ventures tem como investidores a própria Microsoft e companhias como a montadora de produtos eletrônicos Flex e a brasileira Multilaser. Ou seja, boas fontes nas áreas de software e hardware juntos. Tudo que a Mobees precisava.

“Foi um golaço. E a gente não queria esperar até a rodada estar concluída para começar os trabalhos com eles, queríamos andar. Por isso adiantamos o processo”, brinca Fábio Barcellos, cofundador e presidente da startup. A Mobees ainda tem como cofundador é José Lyra Júnior, que já tinha montado com Fábio a edtech Affero Lab, vendida para a Bertelsman em 2018.      

Cofundadores: José Lyra Júnior (à esq.), Flávia Coelho e Fábio Barcellos 

Rodada ainda está aberta

Segundo Fábio, a série A deve ser encerrada até o fim do ano e levantará entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões – que serão destinados a a contratações, tecnologia e marketing. A tríade básica de uma rodada. O montante será composto por equity, mas também por uma fatia de dívida que deve ficar entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões. A ideia é usar a modalidade de venture debt como fonte de recursos para a compra das telas de LED que vão nos carros – já que usar o dinheiro dos sócios para a compra de equipamentos não é o melhor caminho quando se trata de companhias de hardware.

Nesse ponto, a We Ventures ganha ainda mais um ponto. Isso porque o fundo está sob responsabilidade da gestora M8 Partners, que opera outros produtos na área financeira. Segundo Marcella Ceva, diretora do fundo, as conversas estão começando para a estruturação dessa ponta. “Deu total match. Fizemos questão de inaugurar essa rodada. São bons empreendedores e é um setor sub-aproveitado”, diz. O aporte na Mobees é o 3º anunciado pela We Ventures fez desde sua criação, em 2019. De acordo com Marcella, outros 3 negócios já foram fechados, mas ainda não são públicos. “2021 é o ano de construção de portfólio. Já falamos com 2 mil startups com participação de mulheres. O ecossistema existe, só está sub-representado”, diz.

Nos próximos meses a Mobees vai multiplicar por 5 a sua frota de outdoors ambulantes, chegando a mil carros. Além do Rio, onde ela nasceu e opera atualmente, a ideia é chegar a outras capitais, incluindo São Paulo. Segundo Flávia, há uma fila de espera de 30 mil motoristas cadastrados. Como cada carro tem dois painéis instalados, a startup vai precisar comprar pelo menos 2 mil telas nessa fase. Isso sem falar nos equipamentos que vão junto. Que são, aliás, o coração do que a companhia faz.

Smart digital out of home

A publicidade exibida pelas telas da Mobees está muito longe de ser apenas um espaço pago. Cada anúncio é apresentado na hora e no local mais adequado levando em consideração a localização do veículo, a estimativa de público feita com a triangulação de dados de celulares em uso em um determinado local e dados enriquecidos com fontes externas. Isso significa que o anunciante hipersegmentar campanhas e ainda fazer ajustes em tempo real. “A visão é transformar a mídia de rua em uma extensão do marketing digital e dar ao anunciante a mesma experiência que ele tem no online”, diz Flávia.

Em 1 ano de operação, a Mobees trabalhou com 25 marcas e cerca de 100 campanhas. A ideia é chegar a 40 marcas até o fim do ano. Entre os nomes que já rodaram anúncios estão Boticário, Descomplica, Globoplay, HBO Unimed e Motorola. Mas segundo Fábio, a ideia não é ficar apenas nos grandes nomes. A ideia é tornar o formato acessível também para pequenas marcas que atualmente não têm recursos para investir em uma campanha de mobiliário urbano.

Pelo seu modelo de negócios, a companhia é remunerada pelas marcas pela inserção de filmes de 8 segundos em seus painéis. Os motoristas recebem um valor fixo de R$ 500 por deixar as telas ligadas por um período de 80 horas ao longo de 15 dias. Outros R$ 500 são uma remuneração variável, atrelada ao desempenho. Em 1 ano de operação, a companhia repassou R$ 750 mil aos motoristas.

A estimativa é que um motorista de aplicativo precisa rodar de 10 horas a 14 horas por dia para fazer uma renda de R$ 4 mil por mês. E a tendência é de mais achatamento. O Uber, que é o aplicativo mais usado no país, tem mais de 1 milhão de motoristas cadastrados. Então qualquer grana adicional é muito bem-vinda.

Nascimento e futuro

Depois de uma captação de recursos de pouco mais de US$ 800 mil com Canary, Norte Ventures e outros fundadores como Rafael Duton (iFood), Maurício Feldman (Volanty), Gabriel Benarros (Ingresse), entre outros,  no fim de 2019, a Mobees ia entrar em operação na 1ª quinzena de março/20. Mas os planos foram adiados por conta da pandemia. Depois de alguns meses de avaliação do cenário, a companhia começou a operar oficialmente em junho. “A avaliação foi que se o que a gente estava propondo já era importante para os motoristas antes da pandemia, durante esse período então seria mais fundamental ainda”, conta Fábio. A operação conta hoje com 18 pessoas – 50% a mais do que há 2 meses.

Apesar de o mercado de mídia out of home ser grande e contar com nomes de porte como a francesa JCDecaux, ele avalia que é difícil para esses players competirem com o formato da Mobees. “Nosso contato é direto com o motorista, não é um contrato institucional com uma Prefeitura para usar o mobiliário urbano, isso já é uma dinâmica bem diferente para eles”, diz. “Além disso, somos uma empresa de tecnologia que atua com mídia. E temos visto que os nomes mais tradicionais de vários setores têm tido dificuldade em fazer a adaptação para os novos cenários”, completa

Na avaliação dele, as perspectivas são promissoras para a Mobees com a aceleração na vacinação e a reabertura da economia. Ele diz acreditar ainda que o modelo de atuação da companhia é replicável para outros mercados além do Brasil. “Um carro é a mesma coisa em qualquer lugar. E a dor dos motoristas é a mesma também”, comenta, sem dar um prazo para essa expansão internacional. Outro ponto de crescimento é usar os dados coletados e gerados pela companhia dentro dos conceitos de cidades inteligentes e de mobilidade inteligente que estão em voga com a chegada das conexões 5G e o avanço da digitalização. “Se o que estamos fazendo com mídia não existe, quando formos para a próxima fronteira, aí que não tem ninguém mesmo”, se gaba Fábio.

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