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Embora as agtechs façam parte de um mercado em ascensão no Brasil, quem não está tão familiarizado com o mundo das startups pode não saber exatamente o que elas fazem e o porquê de estarem transformando o agronegócio nacional.

Antes de chegar em uma definição para as agtechs, precisamos entender o que é uma startup. De forma resumida, é uma empresa de base tecnológica, que busca desenvolver um produto ou serviço inovador com crescimento rápido e ganhos em escala.

As startups podem operar em diversos segmentos, como varejo, jurídico, publicidade, energia renovável, seguros, serviços financeiros e, é claro, agronegócio. É aí que entram as agtechs, startups que criam soluções tecnológicas para promover a inovação no agronegócio. 

Essas empresas utilizam ferramentas como Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial e big data para otimizar a atividade agropecuária no país por meio de inovações na produção, financiamento, cadeia de insumos e distribuição dos alimentos. As aplicações permitem gerar melhoras na gestão de custos, automação das tarefas, redução de desperdícios, tomada de decisões e previsibilidade nos negócios, entre outros.

“A tecnologia e as agtechs, têm ocupado um papel fundamental na produção cada vez mais sustentável, inclusiva e competitiva do agronegócio. Elas trazem uma economia de tempo e recursos financeiros, químicos ou naturais”, afirma José Tomé, presidente do hub de inovação AgTech Garage. “Essas startups estão na fronteira da inovação no agronegócio e geram benefício para a cadeia produtiva, do campo à mesa do consumidor e para a sociedade.”

As agtechs no Brasil

O agronegócio é responsável por mais de 27% do PIB brasileiro, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP) em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Essa é a maior taxa do setor desde 2004.

De olho nesse potencial de mercado, empreendedores em todo o país têm se movimentado para causar um impacto positivo no setor. Embora o mercado ainda seja pequeno comparados com outros setores como financeiro e varejo, a tendência é de crescimento. 

O relatório Agtech Report 2022 da plataforma Distrito indica que as agtechs fecharam 24 deals e receberam cerca de US$ 109,2 milhões em 2021 – recorde do setor em volume captado e número de rodadas. Este ano, considerando pouco mais do 1º trimestre e apenas 10 deals, o volume já alcançou mais da metade do total investido no ano passado, movimentando US$ 54,7 milhões até 11 de maio.

“O potencial de mercado das agtechs no Brasil é gigantesco, uma vez que elas oferecem soluções que vão desde o ‘antes da porteira’ (com marketplaces de insumos, crédito, análise genômica do solo), passando por ‘dentro da porteira’ (sistemas de gestão, IoT para detecção de pragas, telemetria) até ‘fora da porteira’ (marketplaces de comercialização de grãos e hortifrútis, rastreabilidade de alimentos, logística)”, pontua José Tomé.

Apesar do aumento dos aportes e de o Brasil ser potência agrícola, o país ainda não tem um unicórnio agro. Em entrevista recente ao Startups, o fundador do fundo SP Ventures, Francisco Jardim, explicou que o setor tem maturidade lenta, porque a validação do produto é feita pelo prazo da safra, passando por 2 ou 3 ciclos até estar realmente validado.

Além de ter um ciclo de inovação e desenvolvimento mais longo, o agro demanda forte especialização por parte dos investidores, além de infraestrutura e conectividade, que chegaram depois no campo. Especializada em investimentos no setor de AgFoodtechs, a gestora está confiante de que o primeiro unicórnio brasileiro do agro já nasceu, e é só uma questão de tempo para alcançar o valuation de US$ 1 bilhão. 

Segundo José Tomé, do AgTech Garage, o setor tem performado muito bem, apesar de desafios como a alta recente [no preço] dos insumos. “Para avançarmos ainda mais, vejo que o caminho é o da cooperação e da inovação em rede. Isso traz velocidade para o agronegócio alcançar seus objetivos e se tornar ainda mais sustentável, inclusivo e competitivo”, pontua.

Quem lidera o ecossistema por aqui

No ano passado, o Startups fez uma lista com as candidatas ao posto de primeiro unicórnio do agronegócio nacional, que lideram o ecossistema na corrida por inovação e crescimento. 

Uma delas é a Agrotools, plataforma de soluções para diferentes elos da cadeia, de cooperativas, traders e resseguradoras ao varejo alimentício. A companhia atende mais de 200 clientes em 6 países (Brasil, Paraguai, Argentina, Austrália, Bolívia e Canadá) e monitora mais de 250 milhões de hectares. Em junho, a Agrotools levantou R$ 85 milhões para focar em M&As e internacionalização.

Fundada em Araçatuba (SP), a Solinftec atua no monitoramento e operações em tempo real, logística e automação de processos, traçabilidade dentro da porteira e gerenciamento do campo. A empresa distribui soluções para 11 países, com 9 milhões de hectares monitorados no mundo. Em 2016, a startup fechou uma série A de US$ 20 milhões, liderada pela TGP Art. Três anos depois, foi a vez da UnBox Capital, da família Trajano, liderar o aporte de US$ 40 milhões.

Quem também merece o destaque é a Aliare, resultado da fusão entre o Grupo Siagri e a Datacoper. Com a proposta de ser uma solução 360º para empresas e propriedades rurais, os produtos vão de softwares para gestão de fazendas e análise de dados a consultorias, relacionamento com o produtor rural e assinatura digital. A startup emprega mais de 780 colaboradores e conta com 52 mil usuários.

Com sua tecnologia para expandir a oferta de crédito aos pequenos e médios produtos rurais, a agfintech Traive levantou uma série A  de quase US$ 17 milhões no ano passado, coliderada por SP Ventures e Astella. A startup já havia recebido US$ 2,5 milhões em 2020 com a SP Ventures e as gestoras norte-americanas Bread & Butter Ventures e Techstars.

O Distrito tem sua própria lista de agtechs mais influentes no mercado, feita com base em seu índice de maturidade de startups, avaliações de especialistas e análise de tendências. Além de Agrotools e Solinftec, o levantamento menciona a Terra Magna, agfintech de crédito rural fundada em São José dos Campos (SP), e a SoluBio, companhia goiana que auxilia na produção de bioinsumos para produtores rurais.

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