Negócios

Stellantis reforça planos de inovação aberta e quer se tornar mobility tech

Grupo automotivo estrutura seu relacionamento com startups por meio de aportes, projetos e parcerias comerciais

Automóveis Stellantis
Foto: Leo Lara/Divulgação

O grupo automotivo Stellantis, uma das principais fabricantes de automóveis e fornecedoras de mobilidade do mundo com marcas como Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot, quer se consolidar como uma mobility tech company – e já começou a se movimentar para isso. A empresa está estruturando seu relacionamento com startups por meio de aportes, projetos e parcerias comerciais a fim de acelerar sua evolução tecnológica, melhorar a experiência dos clientes e promover mais sustentabilidade no setor.

Como Stellantis, a companhia foi fundada em janeiro de 2021, mas sua história vem de muito antes. O grupo nasceu da fusão das empresas centenárias FCA (Fiat Chrysler) e PSA (Peugeot-Citroën) – um negócio de US$ 52 bilhões que deu origem à 4ª maior montadora de veículos do mundo. Sem deixar de lado os anos de expertise e tradição de seu DNA, a Stellantis tem aumentado seus esforços para levar inovação para dentro do seu ecossistema.

Para mostrar mais de perto como pretende alcançar esses objetivos, a empresa promoveu uma visita ao seu Polo Automotivo de Betim, em Minas Gerais. Com 2,2 milhões de metros quadrados, sendo mais de 900 mil metros quadrados de área construída, e 13 mil funcionários, o espaço reúne diversas áreas do desenvolvimento de veículos, incluindo o Design Center, Lab UX, Virtual Room, Virtual Center, Safety Center, Funilaria e Montagem.

“Somos uma empresa com paredes antigas, mas tecnologias ultra-avançadas”, disse Fabrício Biondo, vice-presidente de comunicação corporativa da Stellantis para a América do Sul. “Quando falamos em auto tech company, já estamos bem avançados nesse processo, operando no conceito de startup e de uma forma bem diferente do que viriam em uma indústria deste tamanho”, acrescenta.

A companhia começou a pensar em sua estratégia de transformação digital para acompanhar as tendências e transformações globais. “Antes, a empresa era focada em vender carros. Hoje, a ideia é vender mobilidade, o serviço e focar no cliente. Para isso, é preciso ser mais adaptável e responder rapidamente às mudanças. Estamos nos movimentando para ser uma mobility tech company”, afirma Fernanda Bandeira, gerente de transformação digital da Stellantis América do Sul.

A estratégia digital é baseada em duas verticais. De um lado, habilidades e capacidades, que procura desenvolver protagonismo, colaboração, agilidade e intraempreendedorismo. Do outro, estão as plataformas digitais, que envolvem business intelligence e analytics, Low Code, RPA, Devops, cloud e API.

Design Center Stellantis
Visita ao Design Center da Stellantis (Foto: Leo Lara/Divulgação Stellantis)

Criando conexões

Com o objetivo de impulsionar a produtividade dos negócios, a Stellantis tem buscado se aproximar do ecossistema com estratégias de inovação aberta. Para isso, a empresa criou o Startup Studio, área responsável pela interação com startups e pelo reconhecimento de seu potencial inovador.  A companhia afirma que desde sua criação, em 2021, ela já se comprometeu com centenas de startups e assinou mais de 40 contratos.

“[Queremos] promover novos negócios, além de trazer oportunidades e espírito empreendedor. Ter mais a cultura do errar rápido para arrumar a rota e acertar com agilidade”, explica Marina Lima, gerente de inovação aberta da Stellantis na América do Sul. Como mobility tech, a companhia preza pela flexibilidade, permitindo identificar, avaliar e transformar pontos de dor internos em pilotos com startups e criação de valor agregado para o grupo.

A executiva ressalta que o Startup Studio dá a oportunidade da Stellantis testar tecnologias e fazer provas de conceito, que normalmente duram de 3 a 6 meses com as empresas parceiras, para verificar. A ação com startups visa aperfeiçoar 4 principais áreas: experiência do cliente, Indústria 4.0, novos serviços (veículos elétricos, direção autônoma, gestão de frota, entre outros), funções transversais (tecnologia de RH, fintech e instalações físicas) e tecnologias incluindo big data, inteligência artificial, Internet das Coisas, realidade aumentada, realidade virtual e digitalização.

Segundo Marina, a América do Sul tem se destacado na estratégia global da Stellantis pelos resultados que vem alcançando com as startups, já que cerca de um terço dos projetos em execução em todo o grupo estão localizados na região. “A América do Sul é onde temos o maior número de provas de conceito rodando, com exceção da Europa. A região é quase 40% do que a Stellantis rodou no mundo entre 2018 e 2021”, pontua.

Marina Lima, gerente de inovação aberta da Stellantis na América do Sul
Marina Lima, gerente de inovação aberta da Stellantis na América do Sul (Foto: Leo Lara/Divulgação Stellantis)

O que já foi feito

Este ano, a companhia fez a primeira edição do Startup Awards, que reconhece empresas de tecnologia de alto desempenho em diferentes áreas. Das sete selecionadas, que deverão apoiar a transformação da Stellantis em uma Tech Car Company, duas são brasileiras. A Jettacargo usa inteligência artificial para simular o carregamento de cargas em caminhões e contêineres, e a Phygitall utiliza relógios inteligentes para analisar o padrão e a intensidade dos movimentos das mãos para otimizar o processo de fabricação.

2022 também foi o ano em que a companhia lançou o seu fundo de corporate venture capital, que conta com 300 milhões de euros para investir em empresas inovadoras. O Stellantis Ventures busca startups que desenvolvam produtos orientados para o cliente e possam ser implantados nos setores automotivo e de mobilidade em diferentes fases do seu desenvolvimento.

Os investimentos incluem empresas como a Archer, produtora de aeronaves elétricas de decolagem e aterrissagem vertical, a Factorial Energy, produtora de tecnologia de bateria de estado sólido transformacional, e a Vulcan, que produz lítio com zero emissão de gases de efeito estufa, e diversas outras aquisições.

O CVC foi anunciado como parte do plano estratégico Dare Forward 2030, no qual a Stellantis se compromete a ser a líder do setor na luta contra as mudanças climáticas. A companhia pretende se tornar a campeã da indústria na luta contra as mudanças climáticas, atingindo emissões zero de carbono até 2038. Dessa forma, o Stellantis Ventures apoia empreendedores e o desenvolvimento de inovações baseadas na eco-responsabilidade, além da satisfação do cliente e soluções dedicadas à mobilidade.

De acordo com Marina Lima, a Stellantis tem um portfólio interno global de 3 mil startups. Além da conexão com empresas e seus fundadores, a companhia está conectada com diversas redes e hubs em todo o mundo, como os brasileiros Cubo Itaú e FIEMG Lab. A lista de parceiros internacionais inclui a Plug and Play Tech Center, nos Estados Unidos, e a Nasscom, na Índia.

(A jornalista viajou a Betim a convite da Stellantis)

Safety Center Stellantis
Safety Center Stellantis (Foto: Leo Lara/Studio Cerri)