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Unicórnio de cursos online Domestika reinventa estratégia no Brasil

A liderança da empresa falou com o Startups sobre como vai atrair um espectro mais amplo de usuários com cursos de criatividade

Unicórnio de cursos online Domestika reinventa estratégia no Brasil

A edtech Domestika está em meio a uma construção de seu novo posicionamento no Brasil. A empresa espanhola está investindo pesado na expansão internacional e quer aumentar a base de usuários de seus cursos focados em áreas da criatividade com uma estratégia orientada por demandas locais.

A empresa fundada em 2002 é um dos unicórnios da nova safra. O status foi conferido em janeiro deste ano com um valuation de US$ 1,3 bilhão depois de uma Série D de US$ 110 milhões liderada pelo fundo israelense Zeev Ventures. O valor de mercado da empresa deu um salto gigantesco desde a rodada anterior, em outubro do ano passado, quando a startup fechou uma Série C de US$ 20 milhões a um valuation de US$ 350 milhões, segundo dados do PitchBook.

Com um portfólio de mais de 2 mil cursos online, o público-alvo da Domestika são praticantes amadores e profissionais do campo criativo. Dos cerca de 8 milhões de usuários da edtech, cerca de 700 mil estão no Brasil e este número tem tido um crescimento anual na faixa dos 30%. Em termos de faturamento no mercado brasileiro, o crescimento tem ficado em cerca de 20% e a previsão é de manter este ritmo em 2022.

Mais de 110 novos cursos em áreas desde aquarela e marcenaria até moda e marketing digital são lançados na plataforma todas as semanas. Gravados em estúdios próprios ao redor do mundo com foco na estética e nos aspectos práticos do que está sendo ensinado, os cursos são estrelados por uma curadoria com mais de 1,300 instrutores e celebridades. No Brasil, o cast da Domestika inclui personalidades como o músico Carlinhos Brown.

Segundo Rodrigo Ferreira, ex-Rappi e country manager da empresa no Brasil desde janeiro, a estratégia da empresa é baseada nas crenças de que existe um criativo em cada pessoa, e de que o momento atual pede que mais pessoas sigam suas paixões e exerçam sua habilidade e disposição de produzir coisas novas.

“Entendemos que a criatividade realmente pode ser aprendida, e que podemos desenvolver isso nas pessoas. Isso nos faz úteis tanto para quem quer aprender algo novo, quanto para profissionais de qualquer tipo de indústria: o processo de criatividade se retroalimenta e melhora as pessoas como um todo”, diz o executivo, em entrevista exclusiva ao Startups.

Criando “brasilidade”

Quando a rodada que tornou a Domestika um unicórnio foi anunciada no começo deste ano, o cofundador e CEO da empresa Julio Cotorruelo lembrou a “origem humilde” da companhia em Madri, que nasceu como um pequeno fórum onde criativos trocavam ideias sobre seus ofícios. O fundador ressaltou que a empresa quer continuar a viabilizar este ambiente de troca de ideias e aprendizado para usuários ao redor do mundo.

“Planejamos acelerar esse crescimento ao expandir nossa oferta em vários idiomas e continuar a trazer o nível mais alto possível de treinamento criativo de uma forma acessível e que todos possam pagar”, disse o empreendedor, à época do anúncio da rodada.

No Brasil, os cursos custam R$35 em média e duram cerca de três horas. Quando o assunto é o conjunto de vantagens que apoiam o objetivo da startup alcance um espectro mais amplo, o custo baixo ajuda, assim como a disponibilidade de conteúdos já gravados em português, além dos cursos legendados. Mas Rodrigo planeja trazer ainda mais “brasilidade” para a plataforma e a Domestika está tocando uma série de pilotos e projetos com startups rumo a esta visão.

“Temos sorte de não precisar mexer no conteúdo, que é incrível e funciona muito bem, ou no custo. Queremos adaptar nossas formas de comunicação para que a marca se estabeleça de forma muito forte junto a um público mais amplo”, ressalta o country manager.

As intenções do líder da edtech no Brasil e os objetivos para os próximos meses vem de encontro a uma visão estratégica que já havia sido estabelecida há algum tempo, em que o objetivo é gerar mais identificação com os públicos locais para acompanhar a expansão global.

A ideia é fazer com que, para além de um público elitizado, a Domestika comece a falar com uma audiência em potencial de mais de 100 milhões de brasileiros das classes A, B e C, incluindo os 12 milhões de desempregados no país, diz o executivo. “Podemos ser um mecanismo inclusivo e efetivo de apoio na construção de um brasileiro mais autônomo e empreendedor”, pontua.

Buscando parcerias

Para alcançar o mainstream no Brasil, um dos métodos que a Domestika está usando por aqui é a criação de uma série de parcerias. Discussões entre a startup e bancos estão em curso para formar acordos em que os cursos de criatividade serão oferecidos aos correntistas, e com empresas, que poderão ofertar o portfólio da startup como benefício para colaboradores.

Além disso, a associação com outras instituições de educação para oferecer os cursos como componente complementar aos currículos também está entre as possibilidades que a edtech espanhola está considerando, bem como acordos com organizações como o Serviço Social do Comércio (Sesc) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que podem impulsionar a startup com sua capilaridade, além de projetos sociais. “As possibilidades são infinitas. A construção dessa brasilidade deve passar por abordagens menos ortodoxas”, diz Rodrigo.

“Quero que uma pessoa descubra que pode ter uma saúde mental melhor ao desenvolver um hobby ou uma atividade que é interessante para ela através da Domestika; que uma pessoa descubra que ao usar o cartão de crédito poderá ter descontos nos nossos cursos, ou que uma pessoa que estes na faculdade use nossa plataforma para complementar o currículo tradicional. Assim, vamos criando uma brasilidade não necessariamente de mensagem, mas de presença”, ressalta.

Com uma concorrência que inclui a Crehana, edtech peruana também focada em cursos de criatividade que chegou no Brasil no ano passado, bem como outros players incluindo UOL Edtech, Hotmart e provedores de educação tradicionais que começam a focar em educação a distância, Rodrigo diz que a Domestika tem a vantagem da curadoria e produção de conteúdo proprietário. “Estas plataformas acabaram gerando espaços para centenas de milhares de criadores venderem seus conteúdos, mas este não é o nosso foco”, pontua.

“Além disso, diante de um cenário tão escasso em termos de oportunidade para as pessoas e de busca das pessoas por qualificação, temos centenas de concorrentes, mas minha leitura é que ainda há espaço para todos eles,” acrescenta o executivo, que se diz animado com os movimentos da empresa para os próximos meses em seu maior mercado na América Latina.

“Daqui a um ano, quero poder contar que estamos praticando uma Domestika mais brasileira, com comunicação, parcerias e produto em consonância com a realidade local. E que estejamos ajudando o criativo que existe nos brasileiros florescer, em um espectro ainda maior”, finaliza.