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O mercado de healthtechs se firmou nos últimos anos como um dos mais badalados no país, fomentando a discussão sobre como as startups poderiam ameaçar a posição das grandes operadoras de saúde nacionais. No caso da Unimed Nacional, essa “ameaça” colocou a empresa para se movimentar, intensificando seus esforços de inovação aberta e inclusive preparando seus primeiros investimentos com um fundo próprio de Corporate Venture Capital (CVC).

Atualmente uma das maiores operadoras de saúde do país, a Unimed “virou a chave” na sua estratégia de inovação há cerca de 2 anos, com a criação de uma área dedicada ao assunto de inovação. Nessa mudança, a empresa trouxe Dante Lopes para ocupar a cadeira de Head de Inovação.

“Esse plano se intensificou ainda mais a partir de 2021 com a nova gestão, e hoje a área de inovação responde diretamente ao presidente da companhia, Luiz Paulo Tostes Coimbra”, explica Dante, em entrevista ao Startups. A mudança também se refletiu em um trabalho cultural dentro da empresa, que completa 25 anos em 2023, colocando o C-Level para se familiarizar com a nova postura, através de benchmarkings e visitas a empresas inovadoras do segmento de saúde.

Antes uma empresa que tocava seus projetos de inovação praticamente dentro de casa, a Unimed começou a olhar para o mercado para endereçar seus desafios de negócio. “Passamos a analisar os processos de cada área, identificando e priorizando dores que precisam de resolução. Depois disso, passamos a ir para o mercado e fazer hunting de startups mesmo”, afirma Dante.

Em pouco mais de 2 anos da nova estratégia, a operadora já se conectou com cerca de 180 startups (de soluções de saúde e outras áreas), realizando projetos internos, POCs e desafios de inovação aberta para resolver demandas internas de gestão e inovações em saúde 5.0.

“Também abrimos nossas portas para a cocriação com players conhecidos de tecnologia para saúde. Estamos inclusive fechando uma parceria nova para a área de cuidados personalizados para usuários”, revela o executivo.

Mais do que uma operadora

Em sua jornada para se tornar mais inovadora, a Unimed Nacional aposta no conceito de plataforma de saúde e bem-estar, algo além de seu core business como uma operadora de plano de saúde. Na visão de Dante, o plano é desenvolver um ecossistema para democratizar o acesso da população a serviços de saúde, mesmo para quem não tem as condições de se associar a um plano.

Estamos falando de um pitch que diversas outras startups vendem – o de acessar os mais de 170 milhões de brasileiros que não são beneficiários de nenhum serviço de saúde suplementar. “Existem várias possibilidades a serem exploradas, como serviços preventivos, envelhecimento saudável, serviços financeiros, academia, etc”, avalia Dante.

Dante Lopes head de inovação na Unimed Nacional
Dante Lopes, Head de Inovação na Unimed Nacional (Foto: Divulgação)

O executivo não chegou a dar detalhes sobre em qual destas direções a empresa pretende atirar, pelo menos a curto prazo. Entretanto, ele diz que a empresa está com todas as cartas na mesa, e está colocando as engrenagens em rotação para fazer seus primeiros movimentos.

CVC e M&As

Por falar em movimentações em meio ao ecossistema de inovação e startups, a Unimed Nacional está engatilhando as suas. A empresa pretende anunciar nas próximas semanas o seu primeiro M&A com uma healthtech. “E o primeiro M&A que fazemos com uma startup de base tecnológica”, dispara.

No ano passado a empresa anunciou uma joint-venture com a Oncoclínicas para estender sua cobertura para pacientes oncológicos no país. Entretanto, segundo Dante, foi uma união mais voltada à cobertura no país do um investimento tecnológica.

Além dos esforços em M&As, a Unimed Nacional está fazendo os ajustes finais para colocar seu fundo de CVC na rua. “Foi um projeto viabilizado já no ano passado, que está em fase final de estruturação e será inicialmente feito com recursos próprios”, afirma Dante.

O executivo não revelou detalhes sobre o montante que a operadora pretende colocar no fundo, mas segundo ele, deve chegar na casa dos três dígitos de milhões. “Pensamos em rodadas seed e série A, com cheques de R$ 2 milhões a R$ 6 milhões, com possibilidades de follow-ons. Inicialmente, o fundo será exclusivo da Unimed Nacional, mas pensamos em convidar as Unimeds regionais para entrar posteriormente como cotistas”, explica Dante.

Que venha a concorrência

Indagado sobre a concorrência trazida pela efervescente cena “healthtecher” no país, Dante reconhece a ameaça, mas acredita nos pontos fortes que uma gigante como a Unimed Nacional tem a seu favor. Atualmente uma rede com mais de 2 milhões de benefíciários (cerca de 11% do market share no país), a empresa confia na sua presença e capilaridade para manter a posição, sem esquecer de se atualizar frente às entrantes e suas inovações.

“Essa concorrência provoca um movimento positivo. Quanto mais nos incomodam, mais a gente corre e tem a oportunidade de evoluir”, pontua Dante.

Diferentemente das incumbentes do setor, as healthechs não tiveram um grande 2022 em termos de crescimento. Mesmo em um ano em que o segmento de saúde suplementar bateu recorde de aumento, startups como Alice e Sami tiveram dificuldades em bater suas metas agressivas de crescimento.

Por exemplo, a Alice não conseguiu dobrar sua base de segurados, pulando de 7 mil vidas para 11 mil. Aliás, a startup chegou a fazer duas ondas de demissões, mesmo tendo recebido uma rodada série C no final de 2021, em que captou US$ 127 milhões. Por sua vez, a Sami conseguiu saltar de 7 mil vidas para 15 mil, mas ficou abaixo do plano, que era o de triplicar a base.

Ao analisar este mercado, o executivo da Unimed Nacional pontua que as operadoras ainda usufruem de uma posição privilegiada, tanto em estrutura quanto em confiança dos usuários. “Muitas startups não vão ter o folego pra escalar, e ter uma presença estabelecida e capilaridade pesa bastante”, afirma.

Nessa todada toda, Dante acredita que, à medida que mais gigantes começarem as suas guinadas no caminho da inovação, é possível que comece um movimento de consolidação, e a Unimed Nacional não pretende assistir à tudo isso da arquibancada. “O importante para nós é fazer parte deste momento de transformação. Eventualmente vamos comprar alguém ou criar algo para competir em algo novo que elas (healthtechs) possam trazer”, finaliza.

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