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Tradicionalmente voltados ao financiamento de grandes obras e empresas, os fundos de pensão brasileiros devem começar a se abrir ao risco e direcionar recursos para o mercado de venture capital. O maior apetite pela classe de ativos é um reflexo da queda da Selic e da baixa rentabilidade da renda fixa.

A tendência foi apontada por Renato Ramalho, CEO da KPTL, e por Eduardo Fuentes, responsável pelo InsideVC, do Distrito, na live sobre o atual cenário do mercado de venture capital no Brasil realizada pelo Startups. A integra da conversa já está disponível no YouTube.

“Acho que os fundos já estão começando a se preparar para olhar alternativas, não só venture, mas também private equity, mas ainda não terminaram de fazer a lição de casa e arrumar os erros do passado. Têm aspectos regulatórios, de gestão e de governança que ainda precisam ser resolvidos”, disse Ramalho. A nova trajetória de investimentos dos fundos de pensão brasileiros deve seguir a linha do que acontece com os dos Estados Unidos de buscar mais risco em diferentes classes de ativos para alcançar retorno.

Os fundos de pensão têm cerca de R$ 1 trilhão em ativos sob gestão, com expectativa de chegar a R$ 2 trilhões em duas décadas, segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Os três maiores nomes do setor são ligados a estatais: Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica). Em 2019, o venture capital movimentou US$ 2,96 bilhões, segundo o Distrito. No acumulado de janeiro a outubro de 2020, o total chega a US$ 2,49 bilhões. “Nós vivemos de dinheiro de longo prazo e o maior dinheiro do Brasil ainda está nos fundos de pensão, que nem sequer olharam para o nosso mercado. Tem muito dinheiro para vir”, reforçou Ramalho.

Para Fuentes, o mesmo vale para outros investidores, como os family office, mas é preciso que eles entendam como escolher os ativos para obter o retorno. “Tem de saber separar as oportunidades, das que são hype das que são negócios que vão perdurar por mais tempo”, assinalou.

Dinheiro local

Na avaliação de Ramalho, as oportunidades em venture capital têm sido exploradas e continuarão a ser exploradas de forma mais intensa por brasileiros porque o país coloca na conta itens adicionais que preocupam os estrangeiros, como a instabilidade política e a burocracia. Para ele, a ideia de que o Brasil ficou barato por conta da desvalorização do real não justifica isoladamente novos investimentos. O câmbio só torna um negócio mais atraente se já há um interesse em se fazer um comprometimento.

O maior interesse dos brasileiros também é um reflexo da necessidade de diversificação de investimentos diante dos juros mais baixos. “Devemos estar vivendo um momento único para nós de venture. Para comparar, é mais impactante do que vivemos no Plano Real. A queda de juros e o choque na poupança nacional que a gente está vivendo estão muito no começo.

Balanço de 2020 e expectativas para 2021

Os prognósticos de ambos são positivos para 2021. “O jogo mal começou”, destacou Ramalho, ao comentar que o mercado de venture capital ainda é incipiente no Brasil. “Tem muito dinheiro para vir para fomentar muitas iniciativas bacanas. Para onde você olha, em tese, há ineficiências que podem ser melhoradas. Se o brasil não atrapalhar a CNTP, não tem por que parar. Qualquer dinheiro que venha, se for bem administrado, bem trabalhado, é importante”, completou, citando o crescimento de opções como o equity crowdfunding, a distribuição de fundos para pessoas físicas por corretoras e o mercado secundário.

Fuentes disse acreditar que a expectativa é que o mercado deva acompanhar o crescimento que ocorreu no segundo semestre de 2020. “Tendo a acreditar que, em 2021, teremos alguma normalidade, voltando ao ritmo tradicional e isto é bom para o mercado. Novos fundos estão surgindo. Os pré-seed e seeds de 2020 terão reflexo para 2021 em novas rodadas de investimentos”, disse.

 Apesar do fim do primeiro trimestre conturbado, com a chegada da pandemia da Covid-19 ao Brasil — e suas consequências —, o mercado não foi impactado negativamente. Passada a fase quando empreendedores e investidores não sabiam o que iria acontecer, ficou claro, independentemente do setor, o potencial do uso da tecnologia.

“O mercado não sofreu tanto, porque tinha demanda reprimida por mais inovação e este choque [da pandemia] deixou tudo muito evidente. Nunca tivemos um evento com tamanha capacidade de esfregar na cara como a vida por ser mais eficiente, mais barata e mais simples, se usar a tecnologia de forma correta”, apontou Ramalho.

No InsideVC, Eduardo Fuentes observou que, do lado das corporações, a pandemia acelerou a transformação digital e, do lado dos fundos, houve movimentações. “Vimos recorde de M&A e fundos que estavam com capital em mãos, após passarem por período de extrema incerteza, voltaram a investir com uma intensidade muito grande”, apontou.

Fuentes ressaltou que o número de investimentos que foram feitos em estágio inicial tem tido alta. “Se a gente somar anjo, pré-seed e seed, neste ano, foram mais de 290 aportes dos quase 340 de captações que tivemos, ou seja, quase 80% dos deals, mas, em contrapartida, grande parte do volume não está neste estágio, está em estágios mais avançados como séries B e C”, disse.

Para Fuentes, o cenário no Brasil, onde ecossistema não é tão maduro, ocorreu o contrário dos EUA, que, o estágio seed foi o mais impacto. “Empreender tem sido cada vez mais explorado e isso tem sido superbacana. Quando se olha para os estágios avançados, eles são reflexos do que foi feito nos estágios iniciais. O que está acontecendo hoje em series B, C e D é reflexo [de investimentos em estágios iniciais].”

(Roberta Prescott, especial para o Startups)

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