Esses dias, conversando com um grupo de amigas, comentamos sobre as diferenças entre homens e mulheres no ambiente corporativo. Eu havia recebido um e-mail de uma profissional que se dizia “constrangida” depois de eu ter apontado uma correção em sua mensagem anterior. Nada grave, inclusive.
Mas ela não só pediu desculpas, como disse que “vacilou”, que “ficou constrangida” e que, claro, faria as correções e agradeceu a orientação. Me chamou a atenção o destaque que ela deu ao próprio erro e o esforço, muito além do necessário, para se desculpar.
Um estudo publicado no Financial Times nesta sexta-feira mostra que, nos Estados Unidos, as mulheres estão deixando os homens para trás no mercado de trabalho. Com maior acesso ao ensino superior, elas possuem um nível menor de desemprego, mesmo assumindo a maior parte dos cuidados com a família. Diversos estudos já mostraram também que startups fundadas por mulheres geram mais receita e são mais eficientes que aquelas fundadas por homens.
A capacidade e a performance das mulheres como funcionárias, gestoras, CEOs e líderes é inquestionável. Não faltam exemplos de mulheres em posições de destaque mesmo em áreas historicamente consideradas masculinas, como Tecnologia, ou como investidoras de capital de risco. Mas, ainda assim, é comum que a gente se sinta como se não pertencesse ao ambiente corporativo, como se não tivéssemos lugar à mesa, e como se, para nós, errar fosse inadmissível. A situação piora, é claro, para mulheres pretas, lésbicas e trans.
Homens, porém, não têm esse problema. Homens se sentem confortáveis no erro. “Errei, fui moleque”, e vida que segue. Nesta quinta-feira (19), depois de publicar, um dia antes, um texto misógino em suas redes sociais, um fundador disse que foi “infeliz”. Que tocou em “pontos sensíveis” e que “gerou desconforto”. Ao contrário da colega que mencionei acima, ele não disse ter ficado constrangido com seu erro. Nem disse que “vacilou” ou que “faria as correções necessárias”.
Mas este texto não é sobre este homem. Este texto é sobre mulheres brilhantes, que existem aos montes por aí, nas empresas, nos conselhos de administração, nas associações, na política, na administração pública, que sentem que seus erros importam mais que os seus acertos. Parte da nossa busca por igualdade deve estar na igualdade do direito de errar.
Em um mundo que julga mulheres independentemente da situação e das suas escolhas (não vou repetir aqui todo o monólogo do filme da Barbie), desafiar o nosso próprio constrangimento é um processo revolucionário. É como cantou Dalva de Oliveira, “Errei, sim”. E é isso aí. Fica o aprendizado, mas sem autodepreciação. Estamos combinadas assim?
Enquanto conversava com as minhas amigas, uma delas disse que tem uma técnica para sobreviver no mundo corporativo: errar como um homem e acertar como mulher. O nome dela é Michelly e ela é gerente de Marketing na maior empresa de delivery do Brasil, e faz um trabalho incrível. Eu converso diariamente com mulheres incríveis. Algumas já são CEOs, outras serão um dia, sem dúvida.
Todas elas erram, acertam, me inspiram, me ensinam e tornam as empresas em que trabalham melhores, em todos os sentidos. A quem continua buscando líderes brilhantes em apenas metade da população, desejo boa sorte.