Sem alarde – e de forma inesperada – a GP Investments apresentou há alguns dias o prospecto preliminar para listagem na B3 de uma nova empresa, a G2D Investments. A companhia criada em julho tem “o objetivo de investir em participações em empresas inovadoras e de alto crescimento, no Brasil e em outros países”.
E ela já nasceu com um portfólio de seis empresas nas quais a GP investiu nos últimos anos: as fintechs Blu, CERC e Sim;paul, os fundos de investimento The Craftory (da Inglaterra) e Expanding Capital (no Vale do Silício) e a edtech Quero Educação.
O prospecto não dá detalhes sobre as teses de investimento da G2D, mas o plano da gestora de private equity traz à mente dois nomes: a sul-africana Naspers e a defunta Ideiasnet.
A primeira entrou para a história do venture capital ao fazer um aporte inicial de US$ 34 milhões em 2001 em uma certa companhia chinesa chamada Tencent valer uma centena de bilhões quase duas décadas depois. O grupo de mídia “tomou gosto pela coisa” e fez muitos outros investimentos ao redor do mundo depois disso – inclusive no Brasil, com Buscapé, Movile e InLoco.
O portfólio ficou tão grande e relevante que ano passado precisou ser dividido em uma nova empresa, a Prosus, para liberar mais valor aos acionistas e ter uma atuação independente.
A estratégia da GP parece seguir uma lógica semelhante de criar uma unidade com estrutura própria e flexibilidade para fazer seus movimentos. Especialmente levando em consideração as diferenças entre o perfil de atuação de um fundo de venture capital (que apoia um fundador e uma empresa a acelerar seu crescimento) e de private equity (que costuma entrar mais no dia a dia da gestão).
Ter um veículo desse tipo parece oportuno diante do cenário de queda de juros, busca por investimentos alternativos e interesse crescente pelo mundo da tecnologia (tanto para uso de produtos e serviços quanto para se tornar sócio das companhias).
Não seria a primeira vez que os brasileiros teriam acesso a um fundo de investimento em venture capital na bolsa. Essa opção já esteve disponível por meio da Ideiasnet. E a história não deu muito certo – depois de anos de tentativas frustradas o fundo trocou de lugar na bolsa com sua última investida, a fabricante de equipamentos de telecomunicação Padtec.
Comparar Ideiasnet com a G2D não é justo, é verdade. O mundo é bem diferente hoje em termos de maturidade do uso da tecnologia e do próprio ecossistema de empreendedorismo, especialmente no Brasil. A GP também tem muito mais experiência e não deve se focar em companhias em estágio tão inicial de desenvolvimento (que foi um dos problemas da Ideiasnet). Mas é sempre bom lembrar do passado para evitar os mesmos erros.