fbpx
Compartilhe

Acho que para começar esse texto, vale um contexto. Antes de seu evento global anual se chamar Oracle Cloud World, ele era conhecido como Oracle Open World. Em meados dos 2010s, quando a Oracle resolveu entrar de vez no mercado de infraestrutura, ela decidiu mudar o nome da conferência para reforçar esse posicionamento. Mas parece que as coisas estão mudando de novo, e o próprio fundador (e contumaz fanfarrão), Larry Ellison, resolveu relembrar os tempos de Open para resumir o novo momento da companhia.

“Acho que agora vamos ter que chamar o evento de Oracle Open Multicloud World”, disparou Larry, para um auditório lotado no centro de convenções do Venetian, em Las Vegas. A razão era evidente: todo mundo queria saber como ele decidiu voltar atrás na histórica briga com a AWS para firmar uma parceria da Oracle com a gigante da nuvem.

Um dia antes, na abertura do Oracle Cloud World, a CEO da Oracle, Safra Catz, já tinha dito algo parecido, mostrando o posicionamento mais “amigo” da empresa no quesito infraestrutura cloud. “Estamos voltando às raízes do Oracle Open World, abrindo nossa tecnologia para que nossos clientes possam construir suas soluções onde quiserem”, afirmou.

“Agora, estamos entrando na era da multicloud aberta”, disse Larry. “Estamos interconectados com as outras três maiores infraestruturas globais de nuvem, e entregar essa opção aos clientes sempre nos pareceu a melhor ideia”, disse o fundador da Oracle, antes de receber no palco o CEO da AWS, Matt Garman – uma visão que seria chocante cinco anos atrás.

Treta antiga

Vale lembrar que Oracle e AWS foram notórios desafetos por mais de 10 anos, desde os tempos em que Andy Jassy liderava a AWS, comendo o marketshare em aplicações e infraestrutura que antes era da Oracle. Para completar, quando a Oracle resolveu se tornar um player de nuvem, a briga só se intensificou, com Larry Ellison nunca perdendo uma oportunidade de alfinetar a concorrente.

Contudo, parece que a Oracle não quer mais saber de guerra na nuvem, e de um ano pra cá, ajustou sua estratégia. No ano passado, ela pegou muitos de surpresa em uma parceria com a Microsoft, levando seu banco de dados para dentro do Azure. Este ano, fez o mesmo com o Google Cloud. Agora, a cartelinha do bingo foi completada com a AWS.

“Temos muitos clientes que rodam aplicações na AWS e seu banco de dados na nuvem Oracle, mas até então era algo não muito simples de fazer”, pontuou Larry. Ele explicou que levar o banco de dados Oracle para dentro dos servidores da Amazon será um atrativo para diversos clientes globais.

“Somos grandes usuários do Exadata (da Oracle) e grandes parceiros da AWS, e nos deparamos com a complexidade de todos os dados executados no Exadata”, disse Andy Zitney, CTO da consultoria financeira State Street, no palco com Ellison e Garman.

Apesar de anunciar a parceria sob o pretexto de facilidade para os clientes, olhando para os números, não fica muito difícil de ver que se trata de um cenário de “se não pode vencê-los, junte-se a eles”. Embora tenha mais de 160 data centers em todo o mundo, hoje a Oracle tem apenas 2% do market share de infraestrutura cloud global, segundo dados da consultoria Stocklytics.com. A AWS tem 31%, enquanto a Microsoft tem 24% e o Google, 11%.

O mercado gostou da aparente capitulada de Larry Ellison. Somada a um otimista demonstrativo de resultados trimestral, a parceria da Oracle com a AWS impulsionou as ações da companhia, que subiram 9% na última terça-feira (10).

Clientes estratégicos

Em conversa com os jornalistas brasileiros durante o evento em Las Vegas, o presidente da Oracle Brasil, Alexandre Maioral, explicou que o posicionamento mais open com sua nuvem chega para atender clientes estratégicos que, por definição, já operam em sistemas multicloud – e tem muito a ganhar com a interconexão de infraestruturas.

Alexandre Maioral, presidente da Oracle Brasil (Foto: Startups)
Alexandre Maioral, presidente da Oracle Brasil (Foto: Startups)

Segundo Alexandre, essa decisão não interfere na estratégia da Oracle enquanto player de nuvem ou de aplicações. “Não interfere em nada. A ideia dessa oferta é ter mais um braço de possibilidades em clientes que hoje têm muita tecnologia em AWS, em Azure, Google e em Oracle. São em clientes específicos, que já tinham essa infraestrutura híbrida, mas ainda tinham algumas dificuldades de interconexão”, avalia.

Quanto à implementação destas integrações no Brasil, Alexandre destacou que a parceria com a nuvem da Microsoft, anunciada no ano passado, estará no ar em setembro deste ano. “Estamos tentando antecipar a do Google para o fim do ano e a da AWS provavelmente vai ficar para meados de 2025″, completou.

*O jornalista viajou para Las Vegas a convite da Oracle

LEIA MAIS