Pesquisas

Brasil lidera mercado LatAm de edtechs e movimenta US$ 475M em 10 anos

País concentra quase 70% do total de edtechs da região, 80%
do volume de investimentos e 76,7%
das rodadas, segundo Distrito

Edtechs
Edtechs (Foto: Canva)

O Brasil é o principal mercado de startups de educação na América Latina. Atualmente, o país concentra quase 70% do total de edtechs da região, além de quase 80%
do volume de investimentos e 76,7%
das rodadas. Os dados são do Report EdTech 2024, realizado pelo Distrito e divulgado com exclusividade ao Startups.

Entre 2015 e o primeiro trimestre de 2024, o território brasileiro movimentou US$ 475,6 milhões, distribuídos em 280 deals. Isso coloca o Brasil bem à frente de países como a Colômbia (US$ 69,5 milhões), Argentina (US$ 42,1 milhões), Peru (US$ 7,2 milhões), Chile (US$ 5,6 milhões) e México (US$ 2,6 milhões). De acordo com o Distrito, esse cenário reflete a maturidade e o dinamismo do ecossistema brasileiro de edtechs em comparação com o restante da região.

O levantamento mapeou 898 edtechs ativas na América Latina, que juntas arrecadaram cerca de US$ 600 milhões em 316 rodadas desde 2015. O grande pico foi, como já esperado, em 2021, quando o mercado de startups em geral registrou recorde de investimentos e, em paralelo, o mercado global passou a adotar e impulsionar soluções de ensino digital aceleradas na pandemia.

Das nove maiores rodadas de todos os tempos na América Latina, oito são de edtechs brasileiras – Descomplica (2021), Digital House (2021), Winner’s Alliance (2022), Estratégia Concursos (2019), Digital House (2017), Galena (2022), Descomplica (2018) e PlayKids (2015). A excessão da lista é a Platzi, da Colômbia, que em 2021 recebeu uma série B de aproximadamente US$ 60 milhões.

Edtech Report 2024
Edtech Report 2024 (Fonte: Distrito)

“Nos anos mais recentes, 2023 e 2024, temos uma desaceleração nos investimentos, tanto no mercado geral de tecnologia como no de educação, sugerindo uma fase de avaliação mais criteriosa dos projetos e uma possível maturação do mercado de edtech, onde o foco pode estar se deslocando para a sustentabilidade a longo prazo em vez de crescimento rápido. Este realinhamento é indicativo de um mercado que está se estabilizando e se adaptando às condições econômicas globais e regionais, permanecendo atento às inovações que podem impulsionar o setor para a próxima fase de crescimento”, destaca o Distrito.

Em 2023, o volume de investimento foi de US$ 33,8 milhões, um terço do resultado de 2022 (US$ 99,5). No mesmo período, o número de deals também caiu de forma significativa, passando de 52 em 2022 para 21 no ano seguinte. O ano de 2024 começa com sinais de recuperação. “A análise trimestral revela que, apesar de uma certa irregularidade nos volumes de investimento ao longo dos anos, o primeiro trimestre de 2024 registrou US$ 5,6 milhões, sinalizando uma possível recuperação do mercado após um 2023 com altos e baixos. Entretanto, vale ressaltar que os investidores seguem mais cautelosos”, diz o relatório.

Em relação aos M&As, o mercado latino-americano registrou 66 transações de 2019 a março de 2024, com uma concentração significativa nas plataformas de ensino (46 aquisições), indicando uma forte preferência por soluções que entregam cursos e aulas para os alunos.

Edtech Report 2024 (Fonte: Distrito)
Edtech Report 2024 (Fonte: Distrito)

Perfil das edtechs

Ao contrário do mercado de tecnologia em geral, no qual prevalecem soluções B2B, o setor das edtechs mostra uma preferência significativa pelo público-alvo B2C, que representa 41,09% das startups de educação na América Latina, voltadas para atender diretamente ao consumidor final, neste caso, os estudantes. Em termos de modelo de negócio, o SaaS (Software as a Service) é o mais predominante, representando 36,41% do total.

Segundo Victor Harano, gerente de research do Distrito, os modelos de negócios e educação flexíveis tornam as plataformas de ensino uma opção atraente ao público, em especial por oferecer variedades de preços e formatos de ensino. “Muitas empresas adotam sistemas que permitem aos usuários pagarem apenas pelos cursos ou materiais que desejam acessar ou serviços via assinatura com atualizações automáticas, suportes técnicos e escalabilidade, o que torna a categoria uma experiência de ensino acessível e mais adaptável à realidade de cada aluno”, afirma, em nota.

O executivo destaca que as empresas também se beneficiam dessas plataformas. Com o apoio das edtechs, organizações dos mais diferentes portes e setores recebem um auxílio para educar sua força de trabalho e aprimorar habilidades nas funções desempenhadas.

De acordo com a pesquisa, mais da metade (51,1%) das edtechs na América Latina são plataformas de ensino, e são também as que mais recebem investimentos na região, tendo movimentado US$ 368,3 milhões até março de 2024. Em seguida, estão as ferramentas de estudo, com quase 28% das edtechs da região promovendo soluções de engajamento e auxílio da aprendizagem, seguida das categorias de gestão educacional e foco no ensino (18,15%) e viabilização do ensino (2,8%).

O que esperar

A grande tendência, sem muitas surpresas, é a inteligência artificial. O estudo do Distrito aponta para uma forte adoção da IA na educação, especialmente nos conteúdos personalizados para aprimorar a eficácia do aprendizado e na tutoria, com feedbacks individualizados para atender às necessidades de cada aluno. Destaca-se também a automação de tarefas administrativas, a criação de ambientes de aprendizagem dinâmicos e interativos por meio da realidade virtual e a incorporação crítica da tecnologia, que contribui para a formação do pensamento crítico dos estudantes e da verificação de informações. 

“Os ganhos de eficiência e produtividade proporcionados pela I.A. devem impulsionar os aportes nas edtechs early stage que têm projetos na área. Já as empresas mais maduras do segmento que não buscarem eficiências operacionais e tecnológicas, encontrarão mais dificuldade nas captações futuras”, pontua Gustavo Gierun, co-fundador e CEO do Distrito.

O estudo também chama atenção para o avanço da educação financeira por meio da integração dos conceitos práticos de economia em escolas e universidades, e para o chamado “edutainment”. O conceito, baseado na fusão das palavras em inglês “educação” e “entretenimento” corresponde a uma estratégia para tornar a aprendizagem agradável e envolvente por meio de mídias que entretêm enquanto educam.