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O mercado brasileiro de venture capital tem crescido de forma significativa nos últimos anos. No entanto, ainda está bem distante do norte-americano. De acordo com o estudo “Venture Capital – Master Guide”, produzido pela ACE Ventures em conjunto com o SoftBank e a Emerging VC Fellows, o Brasil recebeu US$ 4 bilhões em investimentos no último ano, enquanto os Estados Unidos, US$ 245 bilhões.

O levantamento atenta para uma diferença entre o perfil dos investidores nos países. Em mercados mais consolidados como o norte-americano, há uma grande presença de investidores-anjo e mais experientes. Já o ecossistema nacional está se expandindo com a atuação de fundos, aceleradoras, investidores e incubadoras desenvolvendo um trabalho de base.

De acordo com o time de analistas da ACE, o ecossistema brasileiro precisaria de pelo menos 15 vezes mais investimento nos estágios iniciais para chegar ao patamar norte-americano. Para chegar a essa conclusão, eles levaram em conta o número de startups fundadas, deals no valor de até US$ 1 milhão e o número de IPOs realizados entre os mercados do Brasil e Estados Unidos.

A pesquisa ressalta que nos EUA os investidores contam com uma regulamentação mais simples para o mercado de capitais do que no Brasil. Por outro lado, temos uma cultura de empreendedorismo crescente, com pessoas motivadas pelo propósito de inovar para mudar a realidade em que vivem. O estudo foi desenvolvido com 25 dos principais fundos do país – incluindo Bossa Invest, Headline, Alexia Ventures, Astella, DOMO Invest, Latitud e Valor – com o objetivo de compreender melhor o cenário atual do venture capital no Brasil, principalmente no estágio inicial com deals de até US$ 1 milhão.

“Os empreendedores nos estágios iniciais são os menos representados na mídia e nos estudos. É muito mais comum encontrar notícias das super rodadas. Todo mundo fica sabendo de quem levantou US$ 200 milhões. Quase ninguém sabe dos que captaram US$ 500 mil, porque o nível de exposição é muito diferente. O objetivo do relatório é mostrar a realidade do empreendedorismo brasileiro, que é bem diferente do que aparece só nas manchetes”, afirma Pedro Carneiro, diretor de investimentos da ACE Ventures, em conversa com o Startups.

Pedro Carneiro, diretor de investimentos da ACE Ventures
Pedro Carneiro, diretor de investimentos da ACE Ventures (Foto: Divulgação/ACE Ventures)

Análise de mercado

Segundo Pedro, apesar do mercado passar por momentos de ajustes, a expectativa é bastante positiva ao considerar uma janela de três a cinco anos. Isso porque os empreendedores terão passado por momentos de alta volatilidade e incerteza, e negócios com mais potencial de retorno são criados justamente no período de maior dificuldade, enfrentando menos competição. “Boa parte das empresas do nosso portfólio que tiveram maior sucesso foram fundadas em tempos de crise”, diz.

Analisando os resultados do estudo, Pedro conta que se surpreendeu ao descobrir que quase 50% das startups são auto-financiadas. “Metade das empresas nunca vai receber dinheiro do mercado venture capital, o que não só mostra um pouco de como é o perfil empreendedor brasileiro, como também indica que o primeiro estágio é, normalmente, o mais punitivo. A maioria das empresas fica no early-stage”, avalia.

Ele também não esperava encontrar a categoria ‘vendas’ como um dos maiores desafios das empresas. “Fizemos uma análise e descobrimos que não é necessariamente vendas, porque o Brasil é um país com um público consumidor ávido. Muitas vezes, problemas como não construir um produto bom o suficiente ou escolher um mercado que não é grande suficiente se manifestam em vender pouco. O empreendedor ainda olha muito para o sintoma, e não tanto para o diagnóstico”, explica.

O relatório aponta que para 86,9% das gestoras de venture capital brasileiras, houve uma correção no mercado, refletida em cortes no valuation das startups. Cerca de 21% dos respondentes citaram que os downrounds (quando uma nova rodada de investimentos é fechada a um valor de mercado inferior ao da anterior) passaram a ser uma prática comum após 2021.

Ainda assim, 66% dos respondentes disseram ter mantido, em média, o número de investimentos; 20% aumentaram o valor aportado por startups; e apenas 14% disseram reduzir o valor de investimento. O período mínimo reportado para levantar o capital foi de 10 dias, entre a primeira conversa e a assinatura do cheque. Já o prazo mais longo foi de 2 anos. Em média, o prazo máximo para aporte é de 4 meses.

Independentemente do momento da startup, os VCs afirmam que a avaliação de perfil dos fundadores é o ponto de partida para qualquer investimento. Para 73% dos respondentes, um bom relacionamento com os fundadores é fundamental para manter o casamento saudável entre fundo e startup. Eles também citam a experiência dos founders no mercado (70%), fit do produto (20%) e potencial de mercado (10%) critérios de prioridade para investimento.

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