O founder brasileiro foge do estereótipo do jovem que recém saiu da faculdade (ou abandonou os estudos) e começou a empreender na base do idealismo. Por aqui, os empreendedores têm, em sua maioria, entre 35 e 44 anos (35,3%) e entre 45 e 54 anos (25,9%). Ou seja, os founders brasileiros estão mais próximos dos pais de Mark Zuckerberg do que dele próprio quando fundou o Facebook, aos 19 anos. Inclusive, tal perfil (entre 18 e 24 anos) representa menos de 4% dos founders do nosso país.
Os dados são do relatório Founders Overview 2024, desenvolvido pela ACE Ventures em conjunto com o Sebrae Startups. A pesquisa entrevistou cerca de 900 fundadores cujas empresas apresentam um faturamento anual entre R$ 360 mil e mais de R$ 300 milhões. O levantamento traz um panorama atualizado sobre o perfil dos empreendedores de startups no Brasil, considerando as estruturas das empresas, a maturação dos negócios, os setores de atuação e o mercado de investimento de risco.
“Se, antigamente, a visão era de que os empreendedores eram jovens recém-formados, hoje vemos profissionais sêniores que vivenciam o mercado e decidem atacar uma oportunidade”, afirma Pedro Carneiro, sócio e Diretor de Investimentos da ACE Ventures, em nota. De acordo com o estudo, o perfil do founder de startup no Brasil é cada vez mais composto por pessoas bem qualificadas e experientes, sejam executivos do mercado corporativo ou empreendedores de segunda viagem.
Cerca de 44,5% dos fundadores decidiram empreender depois de ter trabalhado no mercado corporativo. “Por muitas vezes, as startups criadas estão conectadas com alguma dor que o founder viveu durante sua passagem por outras corporações. Além disso, nesse contexto, ainda é possível aproveitar os relacionamentos formados no mercado corporativo”, destaca Pedro.
17,5% dos respondentes já tinham empreendido em outro setor e 12,3% tinham atuado como profissionais autônomos. Outros 8,4% são ex-funcionários de startups, 6,3% vieram do funcionalismo público e apenas 4,2% não tiveram experiência profissional prévia.
O que os levou a empreender? Para a maioria (77,6%), foi o desejo de mudar o mundo de alguma forma. Os respondentes da pesquisa também citam a ambição por um maior retorno financeiro (35,3%), a oportunidade de liderar (17,9%) e a busca por maior flexibilidade no trabalho (15,7%).
Perfil das empresas
As edtechs lideram entre as startups ouvidas pela Founders Overview de 2024, com 8,75% de participação, seguidas pelas fintechs (6,85%), retailtechs (5,95%) e construtechs/proptechs (4,6%). Uma novidade relevante é o aumento das greentechs (4,49%), indicando a crescente preocupação com a sustentabilidade e o impacto ambiental. Outros setores de destaque são as HRTechs (3,93%), agtechs (3,82%), martechs/adtechs (3,7%), foodtechs (3,48%) e biotechs (3,25%).
O modelo SaaS domina o cenário das startups brasileiras, com cerca de 40% das companhias adotando esse formato. Já a venda direta de produtos corresponde a 17% e o modelo de marketplace responde por 10% das startups. O foco no mercado B2B é evidente, com mais de 54% das startups direcionando suas soluções para outras empresas. Já o formato de B2C corresponde a cerca de 19% das startups.
As parcerias têm ganhado importância como canal de vendas, com 50% dos fundadores apontando-as como fundamentais para o crescimento dos negócios. “Houve uma substituição na terceirização de canais de vendas, de Google e Meta via Ads para o uso de parceiros. O empreendedor brasileiro ainda sofre para construir uma estrutura proprietária de vendas. Quem dominar métodos de venda tem muita vantagem no nosso mercado”, avalia o sócio da ACE Ventures. Além das parcerias, os empreendedores entrevistados pela Founders Overview também ressaltaram o WhatsApp (39,7%), Inside Sales (33%) e Eventos (29,2%) como forma de venderem seus produtos.
A maioria das startups no Brasil ainda segue o caminho do bootstrap, com 70% dos fundadores indicando que não receberam investimentos externos. Para os que buscaram capital, o networking e as mentorias oferecidas pelos investidores foram apontados como os maiores benefícios, superando até mesmo o aporte financeiro.
Sem muitas novidades, a pesquisa aponta um crescente interesse de investidores por startups que utilizam inteligência artificial (IA), com 36,7% dos fundadores notando um aumento nesse interesse. As empresas que implementaram IA em suas operações relataram ganhos de eficiência operacional, especialmente na análise de dados (28%) e automação de processos (24%).
O relatório também revela que sete em cada 10 fundadores têm planos de realizar um M&A no futuro, com 37% deles planejando vender suas empresas nos próximos cinco anos e 21% nos próximos 10. Os dados refletem a visão estratégica e de longo prazo dos empreendedores brasileiros, que buscam crescimento e valorização antes de um eventual exit.