fbpx
Compartilhe

Em um clássico caso de aluno que supera o mestre, o iFood está incorporando as operações de sua controladora, a Movile. Segundo apurou o Startups com fontes familiarizadas no assunto, a holding vai integrar a sua estrutura operacional ao iFood, deixando de atuar de forma independente. A ideia é que a Movile passe a dar atenção a alguns dos negócios em que o iFood investiu ao longo dos anos, como a fabricante de robôs de entrega Synkar

Com a reorganização, a maior parte dos 70 funcionários que ainda estava na Movile foi dispensada, restando de 10 a 15 pessoas, disseram fontes com conhecimento das movimentações ouvidas pelo Startups.  

Na semana passada, Patrick Hruby, que tocava a operação da Movile desde março de 2020, anunciou que estava deixando a operação para tirar um ano sabático. “Liderar a Movile foi a experiência de aprendizagem de uma vida. Ser um CEO é, em si, um desafio. Assumir a liderança quando a pandemia chegou foi algo totalmente diferente”, escreveu Patrick. “E quando pensei que tínhamos lidado com essa questão, o apocalipse tecnológico global nos forçou mais uma vez a nos adaptar e mudar os planos. Dizem que o crescimento acontece quando você está fora de sua zona de conforto… bem, é verdade”, acrescentou.

“Sou grato pela oportunidade de ter trabalhado com um grupo de pessoas tão talentosas e dedicadas. Da Prosus, das nossas empresas investidas e principalmente da própria Movile. Acredito que deixamos uma marca positiva no ecossistema de tecnologia da América Latina”, disse Patrick, em um post no LinkedIn.

Otimização e outros negócios

Em nota enviada ao Startups, iFood, Movile e Prosus explicaram as mudanças. “Estamos passando por um ciclo de restrição de capital decorrente das condições macroeconômicas em todo o mundo. E quando isso acontece, temos que tomar decisões muitas vezes difíceis para nos preparar para o próximo período de crescimento. É por conta disso, que tomamos a decisão de otimizar a estrutura operacional da Movile, integrando a mesma com a do iFood, afinal, agora a Movile detém quase a totalidade da nossa empresa e terá como foco o suporte ao ecossistema do iFood. A Movile segue com bases mais enxutas, de acordo com o momento do mercado”, disseram as empresas. 

As empresas não falam nada sobre o destino de outros negócios nos quais a Movile é investidora, como Zoop, Sinch, Moova, Mensajeros Urbanos, a55, Sympla e Afterverse. O caminho mais natural é que ela venda esses ativos, continuando o processo de redução de participações em negócios que a companhia já vinha fazendo nos últimos anos.

Um pouco de contexto

A relação entre Movile e iFood começou em 2013, quando a holding investiu US$ 2,5 milhões no delivery de comida. No ano seguinte, ela comprou mais uma parte das ações da plataforma de entregas e tornou-se sua acionista majoritária. Em agosto de 2022, a Movile passou a deter 100% do iFood após adquirir 33,3% das ações pertencentes à Just Eat Holding Limited, em uma transação de até R$ 9,4 bilhões. Já a Prosus tem cerca de 94% da Movile.

À medida que o app de entregas se fortalecia, a Movile precisou se reposicionar para mostrar que era muito mais do que a dona do iFood. O unicórnio de delivery ficou tão grande que fez sombra sobre os outros e negócios da holding e acabou por ser emancipado do restante da operação. As métricas e lideranças das empresas foram separadas para evitar distorções – e a sensação de viver sempre sob a sombra do filho bem-sucedido.

Com isso, a Movile passou a ampliar o seu portfólio com a Zoop, Sinch, Moova, Mensajeros Urbanos, a55 e Afterverse, além da já investida Sympla e da criação de marcas próprias como a fintech MovilePay e a Wavy. No entanto, a holding não conseguiu encontrar um novo big hit. Em 2020, a Wavy foi adquirida pela sueca Sinch (na qual a Movile passou a ter uma participação). Depois, a Movile vendeu a PlayKids para a britânica Sandbox & Co. Em julho/22, o Startups apurou que a MovilePay seria integrada às operações do iFood para ser uma solução de cartão, crédito e conta digital do app de entregas.

O enxugamento das operações da Movile já vinha ocorrendo desde o ano passado, quando a holding cortou mais de 100 funcionários, além de outros 40 da fintech MovilePay e 60 da Afterverse. Em janeiro de 2023, a Movile fez uma nova rodada de demissões, reduzindo sua atual estrutura na justificativa de que iria se integrar cada vez mais ao iFood.

Ao Startups, a companhia já dizia na época que iria operar com uma estrutura mais enxuta e que faria cortes para reduzir as redundâncias com a operação do iFood. “A Movile vai operar com uma estrutura mais enxuta e cada vez mais alinhada ao iFood, visto que ambas as empresas contam com o mesmo acionista (Prosus). Assim, a atual estrutura da Movile será reduzida onde houver sobreposição com o iFood e as empresas trabalharão ainda mais juntas para transformar vidas por meio da tecnologia com foco no ecossistema do iFood”, disse a empresa, em nota enviada à reportagem quando rolaram os desligamentos.

A Movile ainda era umas das empresas brasileiras com status de unicórnio. E com as mudanças de rota, certamente perde esse posto.

LEIA MAIS