Durante o South Summit, evento de inovação que acontece esta semana em Porto Alegre, representantes de fundos se reuniram para trocar algumas duras verdades sobre o atual cenário de venture capital no país. Um deles foi o medo dos fundadores em aceitar a nova realidade dos valuations, especialmente no mid e late stage, em que os downrounds e flatrounds se tornaram uma realidade inevitável.
“Se até as gigantes do mercado estão fazendo downrounds, por que a sua empresa não vai fazer?”, disparou Marcus Toledo, cofundador e managing partner da Canary, durante o evento. “Se tiver que fazer downround ou flat round para estender o runway, é melhor fazer”, completou.
Apesar do comentário não ter citado uma empresa específica, não é preciso procurar muito para encontrar exemplos. A fintech Klarna, um dos nomes mais poderosos do BNPL global, captou US$ 800 milhões em um aporte que avaliou o negócio em US$ 6,7 bilhões (post-money). Antes disso ela valia US$ 45 bilhões.
De acordo com o executivo, o cenário de startups buscando rodadas está congestionado, e está se desenhando um outro, em que nem todo mundo vai conseguir. “Todo mundo está querendo levantar capital”, pontuou Marcus, fazendo menção ao fato de que muitas startups que levantaram cheques em 2021 estão chegando ao fim do seu runway.
Entretanto, para Igor Piquet, Head de LATAM na Endeavor Catalyst, na hora de levantar novas rodadas, muitos founders enfrentam um dilema quando deparados com uma possível desvalorização do seu negócio. “É o chamado ‘analysis paralysis’, mas enquanto uns ficam parados sem definir uma decisão, outros agem e tomam riscos para continuar andando rápido”, disparou o executivo.
Na visão do executivo da Canary, não dá para ficar pensando muito em uma hora dessas, ainda mais quando se trata de garantir a sobrevivência do negócio. “Se sua empresa precisa de capital, e tiver que fazer um downround ou flatround para sobreviver, tem que fazer”, afirmou.
Para Rodrigo Baer, cofundador e managing partner da Upload, o momento é dos fundadores pararem de ser apaixonados pela empresa e pelo crescimento do negócio, voltando a se interessar pela sustentabilidade e pela proposta de suas startups. “No geral, todo mundo que entrou neste mercado pensando só em ficar rico rápido, já está voltando para o emprego anterior”, pontuou.
“Foi-se o tempo que falar do crescimento da base de colaboradores era um indicador de sucesso”, completou Marcus, elaborando em cima das distorções criadas pelo mercado durante o período de “vacas gordas” do venture capital em 2021.