A Sportheca vive um momento importante para fortalecer a sua atuação no mercado e impulsionar o setor esportivo por meio da inovação e da tecnologia. Fundada como uma fábrica de startups do esporte (as chamadas sportstech), a companhia agora está expandindo o seu modelo de negócio, abraçando novas verticais de negócio para ir além do venture building e gerar ainda mais valor para o ecossistema.
“Quando criamos a Sportheca, em 2019, o mercado de sportstech era muito incipiente. Então, o formato de venture builder e startup studio fazia muito sentido para ajudarmos a criar negócios do zero ao exit”, afirma Marcelo Nicolau, head de Venture Building da Sportheca. Com o amadurecimento do setor, novas portas se abriram. “A grande visão é ser um polo de geração de negócios no esporte e entretenimento por meio de tecnologia. Essa é a proposta da Sportheca“, destaca o executivo.
Segundo Marcelo, a expectativa é começar a atuar em verticais como soft landing, ajudando a trazer sportstechs de fora para o Brasil, e matchmaking, conectando as startups com grandes empresas para gerar negócios. Ele também enxerga oportunidades na área de eventos para educar o ecossistema e, quem sabe, também criar veículos de investimento próprios da Sportheca. “Temos conversas avançadas com um investidor internacional que deve aportar um capital interessante na Sportheca em breve. A ideia é que, a partir do fim de setembro, a gente use esses recursos para desenvolver estruturas que atendam às novas frentes de negócio”, revela.
Isso não significa que o modelo atual da Sportheca deixará de existir. Pelo contrário, a companhia segue firme em sua missão de criar e desenvolver negócios inovadores de alto impacto para o mercado esportivo. De acordo com Eduardo Tega, fundador e Chief Strategy Officer da Sportheca, a previsão é fechar 2024 com pelo menos três novas ventures.
Ao fim do ano, a empresa terá algo entre oito ou nove ventures no portfólio. “São startups em diferentes estágios. Algumas bem maduras, outras que estão saindo do forno e umas prestes a entrar”, explica. “Nossa estratégia funciona como peças de lego. Uma startup cria condições para que outra nasça, construindo novas soluções pelo caminho ao notarmos gaps de tecnologia ou serviço que podem atender o mercado. Estamos sempre olhando para as nossas empresas para que elas, de alguma forma, se encaixem nesse ecossistema.”
Rumo ao exit
Os negócios desenvolvidos pela companhia começam como empresas 100% da Sportheca, mas, conforme evoluem, as startups vão ao mercado e abrem suas próprias rodadas de investimento, atraindo parceiros de fora e negociando o equity entre todos os sócios. “Com o tempo, a gente dilui a participação da Sportheca para que a startup vá para o mundo e seja independente. Elas startups nascem para serem spin-offs, ou seja, para sair”, explica Marcelo.
Em breve, a Sportheca deve começar a fazer os seus primeiros exits. “A gente busca fazer saídas entre cinco e dez anos. A partir do ano que vem, temos a expectativa de fazer umas duas saídas de startups, buscando múltiplos de cinco a dez vezes maior do que foi investido inicialmente”, diz o executivo.
Uma boa aposta para o exit é a Onefan, a primeira startup da Sportheca – e também o seu case de maior sucesso. O app foi criado para promover o engajamento digital dos torcedores e ser o principal ponto de contato e de relacionamento do clube com seu fã, e hoje já atua com uma equipe e estrutura totalmente à parte da empresa-mãe.
Considerada uma das 30 sportstech mais inovadoras do mundo pelo “Global Sportstech Ecosystem Report 2023”, a OneFan atraiu investimentos do Grupo SBF, dono da Centauro e da distribuição oficial da Nike no Brasil, e atende grandes clubes como Flamengo, Corinthians e São Paulo. O portfólio da Sportheca também inclui a Match Party, que oferece soluções de personalização e interatividade para as transmissões ao vivo de jogos.
Segundo Marcelo, os empreendedores não são os únicos a se beneficiar do venture building. “Empresas do segmento esportivo têm se aproximado com interesse em criar coisas em conjunto. Grandes clientes que querem ter uma maior presença no setor, e com quem faz muito sentido fechar parcerias para desenvolver startups”, explica. A Sportheca já é parceira oficial do São Paulo Futebol Clube para criar novas startups e atualmente está trabalhando em um projeto para o desenvolvimento da inteligência emocional e habilidade cognitiva dos jogadores.
O processo de venture building se inicia com um estudo aprofundado. A cada dois anos, a Sportheca faz um mergulho no setor para entender as dores, tendências e oportunidades, e aí sim começar a estruturar as startups, atuando em colaboração com founders, empreendedores, investidores, marcas e entidades esportivas desde a concepção até a implementação e tração dos negócios.
Potencial de mercado
“As sportstechs tiveram um período de maturação muito diferente dos outros segmentos. Enquanto mercados como fintechs e retailtechs passaram por um período pujante de captação e crescimento, as startups com soluções para o esporte ficaram para trás”, observa Marcelo.
O cenário mudou a partir de 2021. “Talvez por conta da pandemia, com aumento do consumo do esporte e do entretenimento, houve um grande salto, criando um novo patamar de recursos e consumo de produtos das sportstechs”, acrescenta.
Até então, era raro encontrar veículos de investimento dedicados exclusivamente para as sportstech. Até havia alguns de entretenimento e fundos agnósticos que, eventualmente, aportavam recursos nessas startups. Mas a mudança real aconteceu nos últimos dois anos, quando começaram a surgir veículos de investimento com teses específicas para o setor, muitos deles capitaneados por grandes atletas.
É o caso da Play Time, de Lionel Messi, criada para fomentar a conexão entre esportes, comunicação e tecnologia. Em seu site, o veículo indica ter US$ 200 milhões para investir e incubar negócios. “Lebron James, Shaquille O ‘Neal e uma série de atletas globais estão sendo âncoras para a criação do movimento de sportstech, principalmente nos Estados Unidos e na China. E, de repente, o mercado aconteceu”, destaca Marcelo.
Para o executivo, as sportstech vivem hoje o que fintechs, retailtechs, HRtechs e healthtechs viveram no passado. “As sportechs estão em seu grande momento, com investidores percebendo que há muitas oportunidades no mercado esportivo e também de gerar negócios em outros mercados a partir dessas soluções”, pontua.
Embora tenha grande foco no Brasil, a Sportheca já nasce mirando tendências globais. “A gente olha para onde a tecnologia e a inovação caminham, principalmente com base em mercados mais maduros como o norte-americano, onde as ligas profissionais, incluindo NBA e NFL, realmente dão o tom da inovação. Mas temos que cruzar isso com a nossa realidade”, diz Eduardo Tega.
Para se ajustar ao cenário brasileiro, a companhia baseia-se naquilo que é possível fazer com o custo em moeda nacional, para depois exportar para a moeda internacional. A Sportheca conta com um laboratório no Brasil para testar as soluções antes de partir para a escala.
O momento atual é de internacionalização. A empresa tem um escritório em Madrid, na Espanha, e recentemente fez missões no Oriente Médio, com projetos sendo desenvolvidos no Bahrein e na Arábia Saudita. O executivo explica que essa é uma região que tem investido muito em esporte, impulsionada por grandes eventos como a Copa do Mundo FIFA de 2022, no Catar, e a de 2034, que será sediada na Arábia Saudita.
“O mercado de sportstech finalmente está aberto para negócios, tanto do lado dos investidores quanto do lado dos empreendedores. Nunca esteve tão maduro e está pronto para ser relevante a nível global”, conclui Eduardo.