O empreendedorismo é a grande alavanca para o desenvolvimento do Brasil. Essa é a opinião de Marcelo Lombardo, confundador e presidente da Omie, plataforma de gestão (ERP) na nuvem. Ele participou hoje (5) de um bate-papo com Monica Hauck, fundadora e presidente da HRTech Sólides, no 2º dia do Startup Summit, em Florianópolis. A conversa foi conduzida pelo editor-chefe do Startups, Gustavo Brigatto, e abordou o momento atual do ecossistema, oportunidades de mercado e a era dos decacórnios.
Segundo Marcelo, o grande desafio do país é também a sua maior vantagem. “Aqui é Velho Oeste. Tem praticamente tudo a ser feito e existe um mar de possibilidades em todos os segmentos”, explica. Ele argumenta que as ineficiências geram oportunidades para empreendedores construírem negócios grandes, sólidos e que vão transformar o país. “A força de mudança do Brasil está na mão do empreendedor. Não em esperar reformas públicas ou ajuda do governo”, pontua.
Monica Hauck, da Sólides, traz uma visão semelhante. “O Brasil é o melhor lugar do mundo para se fabricar empreendedores. Tem volume de pessoas, um mercado interessante e estrutura populacional – e nada funciona direito. Então tem muita coisa para fazer quanto empreendedor e muita oportunidade de construir grandes negócios”, afirma.
Mesmo com esse potencial, a executiva deixa claro que o mar não está para qualquer peixe: o mercado vive o cenário ideal para o empreendedor raiz. “Quando não há condições ideais, somos forjados de uma forma diferente, o que nos dá consistência e qualidade muito maiores do que qualquer empreendedor fora do Brasil”, diz Monica.
Para a fundadora da Sólides, consistência é a palvra-chave para navegar. “Os rótulos (unicórnio, decacórnio, etc) são importantes, mas muitas vezes as pessoas fixam na vaidade. Os empreendedores precisam trabalhar para construir um crescimento consistente”, explica. Monica acrescenta que o que faz uma empresa valer bilhões de dólares é ter uma execução perfeita dos processos, trabalhar duro diariamente e realmente criar valor para se manter ao longo do tempo.
A vez das PMEs
Com tantos problemas para serem endereçados, quem quer começar um novo negócio pode ficar um pouco perdido sobre qual caminho seguir. No caso do B2B, as possibilidades são olhar para pequenas ou grandes empresas, mas é importante escolher um foco e não desviar as atenções dele.
“Existem oportunidades e desafios para todos lados. Qualquer um que estiver criando uma startup pode olhar para qualquer um deles – só não pode querer atender os dois”, diz Marcelo, da Omie. Quer trabalhar com pequenas empresas? Ótimo. Prefere olhar para os grandes players? Tudo bem também. Mas não dá para fazer os dois. Segundo o executivo, o melhor é focar em um público e direcionar todos os seus esforços para ele.
Para Monica, da Sólides, a decisão tem que partir de onde está a vocação do empreendedor. Ela conta que quando criou a HRTech, os investidores não estavam muito interessados em startups que olhassem para PMEs. Quando vem a crise, elas são as primeiras que sentem. Quando está tudo bem, são as últimas que recebem. É um setor mais sensível e volátil do que as grandes corporações.
Mesmo assim, ela diz que se a vocação do empreendedor aponta para essa direção, vale a pena arriscar – mas é preciso ter disciplina para seguir mesmo quando o cenário não estiver muito favorável. “Minha vocação está nas pequenas empresas, então vou permanecer com elas. Crises econômicas acontecem e temos que ser firmes para seguir nos dias difíceis.”
A executiva diz que o momento atual “não mudou absolutamente nada” na vida da Sólides e talvez esteja gerando ainda mais oportunidades. “A gente tinha um tese e planos muito bem definidos”, explica. Vale lembrar que a empresa também tinha um caixa cheio com os R$ 530 milhões que recebeu da gestora de private equity Warburg Pincus em fevereiro.
Marcelo, da Omie, explica que a turbulência de agora é diferente da de 2020. “A crise atual está na Faria Lima e em Wall Street. Claro que a alta da inflação e taxa de juros afeta a pequena empresa, mas com menos força”, pontua. O executivo diz que a plataforma de ERP não está percebendo uma crise tão forte do lado do cliente e que o desafio maior está para empresas que precisam de dinheiro vindo dos investidores.
Desde 2020, com o fechamento de vários pequenos negócios por conta da pandemia, a Omie teve que reestruturar o seu negócio. Marcelo diz que quando viu os efeitos da Covid-19 no exterior, a startup começou a se preparar para o impacto, mas ele veio de uma forma que não esperavam. As vendas para novos clientes caíram muito, o que forçou a Omie a ampliar o raio de atuação e olhar para as médias empresas. “A primeira responsabilidade como gestor é a continuidade da empresa, porque milhares de clientes precisam da sua plataforma e você não pode sair do mercado”, afirma.
Para ter sucesso
“O segredo do dia a dia é dizer não e persistir quando ninguém está vendo nada”, diz a presidente da Sólides. Monica afirmou que ao longo da jornada viu HRTechs focando só em recrutamento de talentos e, refletindo sobre essa possibilidade, resolveu negar porque não fazia sentido para seus clientes. Hoje a Sólides tem uma plataforma completa com de desenvolvimento e produtividade, engajamento e performance, retenção de talentos, uso inteligente dos dados e também o recrutamento e seleção.
“Isso fez a gente andar muito tempo sem investimento. Entre captar dinheiro e ser fiel à nossa tese, escolhemos a segunda opção. Depois, quando o investidor viu que estávamos com a tese bem consolidada, entendeu que fazia sentido apostar na Sólides”, explica Monica. A startup foi fundada em 2015, mas a série A veio só em 2019, com um aporte de R$ 14 milhões da DGF Investimentos.
Como dica para os empreendedores ao captar dinheiro, ela diz para não olharem apenas o valuation. “Foque em entender quem são os sócios que você está trazendo para a empresa. Eles acreditam verdadeiramente na sua empresa?”, questiona. O smart money, pontua Monica, também é fundamental para agregar conhecimento e valor ao negócio.
Já Marcelo Lombardo, da Omie, destaca a importância de construir relacionamentos com o investidor antes da captação. “Escolha os fundos que mais te interessam e se aproxime deles pedindo conselhos, opiniões sobre aspectos do negócio e vá engajando o investidor pelo menos um ano antes de estruturar uma rodada”.
Segundo ele, esse foi o grande segredo da série C da Omie, uma rodada de R$ 580 milhões em agosto de 2021 liderado pelo SoftBank com participação de Riverwood Capital. “Se o investidor te acompanhar, vai entender como é a sua consistência de execução – e execução é o que diferencia os vencedores dos perdedores. Tendo esse acompanhamento de perto, o fundo ganha uma confiança muito maior”, conclui o executivo.
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