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A cobertura do SXSW 2024 tem apoio da

Imagine se, ao invés de comprar um computador fabricado por uma marca como a texana Dell, você pudesse cultivar um a partir de uma célula do seu cérebro que vai funcionar de forma personalizada para as suas necessidades e estilo de vida. Em uma década, talvez isso pode se tornar uma realidade, na avaliação da futurista Amy Webb.

Isso porque a intersecção de três movimentos tecnológicos que vêm ganhando força nos últimos anos (inteligência artificial, o ecossistema de dispositivos conectados e e a biotecnologia) criou o que ela chamou de superciclo de tecnologia. O termo, emprestado da economia se refere a um período de alta demanda por um produto ou serviço, que causa mudanças na economia. Exemplos disso são a revolução industrial e a própria internet.

Normalmente, isso acontece por conta de uma única tecnologia – como o motor a vapor. Mas não é o que está acontecendo agora. “Essas três tecnologias de aplicação geral [General Purpose Technologies, ou GPT] já se conectam, de alguma forma, a todas as outras tecnologias que existem. Elas se conectam com a ciência, o espaço, os esportes, com os negócios, com qualquer pessoa sentada nesta sala e com todas as facetas da nossa vida cotidiana. O que significa que a onda de inovação que está vindo é tão potente e pervasiva que vai, literalmente, remodelar a existência humana”, disse ela na abertura do segundo dia do SXSW 2024.

A palestra é uma das mais aguardadas e disputadas do evento. Para conseguir um bom lugar, centenas de brasileiros ficaram na fila desde cedo. O que não passou despercebido por Amy. “Quem não conhece brasileiros não sabe o quanto é difícil tirar eles da cama de madrugada”, brincou. Depois ela gastou um pouco do português que tem aprendido com as consultorias que tem dado para empresas brasileiras como o Itaú para agradecer a presença do público. O Brasil é o segundo país com mais visitantes no SXSW, depois dos EUA.

Medo, incerteza e dúvida e a geração T

Para Amy, o momento atual é de medo, incerteza e dúvida, ou FUD na sigla em inglês para Fear, Uncertainty e Doubt. “Eu sei que vocês estão profundamente preocupados com toda essa tecnologia porque ainda é tudo muito pouco concreto para vocês. Você está preocupado com a transformação digital. Alguns nem começaram esse processo porque é caro e leva tempo. Você está preocupado em atingir sua meta de receita, se vai continuar tendo um emprego. E nem falamos ainda das questões da cadeia de suprimentos global, do aquecimento global e dos problemas geopolíticos que trazem a ameaça de uma  Terceira Guerra Mundial. Estamos todos preocupados”, avaliou.

Segundo ela, isso tudo faz da atual geração a ‘Geração T’, que vai fazer a transição para uma sociedade bem diferente que vai surgir que o processo estiver completo. Uma sugestão dada por ela, aliás, é que governos criem uma espécie de Ministério da Transição, que vai avaliar os impactos que as mudanças terão sobre a economia e como preparar o país para o novo cenário.  

Para as empresas, a dica é olhar toda a cadeia de valor, parceiros e entidades impactadas pela sua atuação. Ao avaliar essas relações e seus efeitos, segundo ela, é possível “desacelerar o tempo” prevendo o que pode acontecer. E esse precisa ser um exercício de atualização constante.

Ela colocou o exemplo da Research In Motion, dona do BlackBerry, que, durante um bom período de tempo dominou o mercado de telefonia por entender bem a sua cadeia de relacionamento. A companhia, no entanto, não viu o movimento da música e do vídeo chegando, e acabou ficando para trás.

Large Action Models

O boom da IA generativa que tomou o mundo no último ano é impulsionado pelo uso de grandes modelos de linguagem conhecidos como LLM, que permitem que uma máquina “preveja” o que será escrito. Para Amy, nos próximos dois anos, as bases de conteúdo para treinamento desses modelos vão se esgotar, e novas fontes terão que ser usadas.

Isso vai criar o movimento dos Large Action Models, que vão prever o que vai acontecer na sequência. E isso será impulsionada por uma explosão de dispositivos conectados, os Connectables. Na lista estão produtos como o Rabbit e o Vision PRO, da Apple.

Para Amy, colocar um computador grudada na cara das pessoas, ou a computação facial, será uma nova frente de batalha entre as empresas de tecnologia. O objetivo, avalia, é dominar a íris das pessoas. “Seu olho se mexe antes mesmo que você pense em uma coisa. O que significa que m um computador facial vai saber o que vai fazer antes mesmo que você pense”, alertou.

Tecnoautoritarismo

Em uma visão distópica, ela acrescentou que isso pode aprofundar a divisão entre ricos e pobres no mundo. Com a possiblidade de fazer precificação dinâmica de produtos baseada no conhecimento sobre cada individuo, quem é pobre poderá ser induzido a ter que assistir publicidade para ganhar cupom de desconto. E a atenção terá que ser total, já que, enxergando os movimentos da íris, será possível garantir isso. Já os ricos vão simplesmente poder pagar pelo que consomem.

Ainda na linha pessimista, Amy criticou o poder que as Big Techs e seus líderes estão ganhando sobre a sociedade, e clamou por mais transparência e responsabilidade na forma como as empresas operam. “Dentro em breve os messias da tecnologia vão tentar nos salvar do superciclo da tecnologia. Eles têm a sua própria definição para isso, que é o tecnotimismo. Mas de fora, o que isso parece é muito mais com um tecnoautoritarismo de livre mercado”, cravou.    

O material apresentado por Amy está disponível na integra aqui.

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