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*O jornalista viajou a Portugal a convite do Web Summit

Os fundos de venture capital estão altamente capitalizados e têm necessidade de alocar seu capital. Mas o medo de ser um otário substituiu o medo de ficar de fora e o ritmo de investimento continuará lento, com cheques menores, privilegiando negócios que já dão algum resultado, em detrimento de quem queima caixa para crescer. Por quanto tempo esse cenário vai se manter ainda é uma incógnita. Então é melhor deixar dinheiro em caixa por até dois anos e “abraçar” os downrounds.

Essas são algumas das conclusões de um dia inteiro de apresentações e conversas com gestores de fundos de venture capital no penúltimo dia do Web Summit. “Tem muito debate e pouca ação. Os VCs estão esperando para ver o que vai acontecer. A comunidade está procurando a sua essência. Tem muita consolidação acontecendo. Estaremos em um mundo diferente em 1 ano”, disse Maëlle Gavet, CEO da Techstars.

Para ela, é preciso abraçar os downrounds. “Significa que ainda tem alguém querendo investir em você”, cravou. Segundo Maëlle, is investidores estão pedindo mais e mais proteções nas negociações. E se a startup acha que faz sentido ter, ou se manter com um determinado investidor, vai na fé! “Temos 3 mil empresas no portfólio e tem gente que fez downround e saiu melhor do outro lado”, afirmou.

Josh Wolfe, fundador da Lux Capital seguiu em uma linha parecida. “Um balanço forte vai ganhar de um captable fraco”, disse. Para ele, o momento é de consolidação, e quem tiver um bom caixa, ou conseguir fazer uma captação, deve direcionar o dinheiro não para crescimento por meio de marketing e novos clientes, mas para aquisições.  

Para ele, os próximos dois anos serão brutais. A avaliação é que, apesar de terem quase US$ 300 bilhões disponíveis para investir, os fundos de VC não devem colocar isso tudo em novos negócios. A maior parte desses recursos serão destinados a empresas que já estão nos portfólios, na tentativa de evitar downrounds. Josh classifica o atual sentimento dos investidores com medo de ser um otário (FOBAS), ao invés do medo de ficar de fora (FOMO) que imperou nos últimos anos.     

Fora de controle

Sitar Teli, fundadora da Connect Ventures, fez uma leitura interessante sobre o atual momento. “As coisas estavam fora do controle. Não é necessariamente que o mercado esteja ruim”, disse. A lógica é seguinte: com menos contato pessoal e tantas videoconferências e conversas à distância por conta das medidas de isolamento da pandemia, os investidores ficaram exageradamente animados com os negócios.

Agora, o momento é de correção. “Estamos voltando para os patamares de 2018, 2019, que já foi um momento bom para a Europa”, disse.

Christian Nagel, cofundador da Earlybird Venture Capital, discordou da avaliação de que os valuations subiram nos últimos tempos simplesmente porque subiram. Para ele, o que aconteceu foram ajustes que acompanharam a inflação, de forma a garantir os retornos dos investidores dos fundos de venture capital.

Mas se for isso mesmo, quer dizer que a correção está fazendo os valores terem perda real. Só que ele não teve tempo, nem foi instigado a elaborar sobre isso.

Para Christian, é difícil saber se o mercado chegou ao fundo do poço. A única certeza é que ele vai voltar a subir. “É como uma onda. As coisas sobem em descem [a cada ciclo]”, filosofou. Ele disse acreditar na velha máxima que bons negócios vão continuar levantando dinheiro.

Já negócios considerados medíocres, ou que levantaram muito dinheiro e ainda não se provaram, não devem sair para captar. “Se você fez um seed de US$ 20 milhões, sendo que podia fazer a empresa com US$ 3 milhões ou US$ 5 milhões, e agora precisa captar de novo, porque eu deveria investir? Mostra que o seu modelo não está comprovado”, disse.

Mais equilíbrio

Tudo isso só mostra que o balanço de poder nas negociações de rodadas está mais equilibrado, segundo Stephan Morais, managing partner da Indico Capital Partners. Ou, segundo o PitchBook, pendendo mais para os investidores. “Pela 1ª vez em 5 anos o mercado está virando para ser mais amigável ao investidor”, disse Nizar Tarhuni, diretor da empresa de pesquisa.

Nesse sentido, é de se esperar que outro reequilíbrio aconteça no mercado: uma queda na concentração de aportes em algumas poucas empresas. Segundo dados apresentados por Nizar, quase metade do valor de mercado das startups – 46,7% para ser preciso, ou US$ 3,9 trilhões – estava concentrada nas companhias avaliadas em mais de US$ 1 bilhão no ano passado. Dez anos antes, a fatia era de menos de 10% (US$ 183 bilhões).

Do lado dos fundos também houve uma corrida para colocar dinheiro nos gestores de maior porte. Ano passado, foram US$ 162,7 bilhões destinados a fundos que olham estágios mais avançados, contra US$ 113,5 bilhões de quem está nas etapas mais iniciais. Em 2022, até agora, late stage já recebeu US$ 130,7 bilhões, contra US$ 91,2 bilhões de early stage. Mas assim como no mercado acionário, no mercado privado, as companhias de maior porte estão sendo mais afetadas pelo atual cenário.

Segundo Nizar, as companhias que representam 10%% do valuation do setor, perderam 63,2% de valor. Na média, o recuo foi de 15,1%. Curiosamente, no outro extremo, das companhias menores, houve um avanço de 8,7%, o que indica que, voltando às conclusões gerais, dinheiro e interesse de investir em bons projetos ainda existe.

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