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*Bárbara Axt, de Lisboa, para o Startups

Na edição 2023 do Web Summit em Lisboa, as mulheres formavam quase um terço das 2.600 startups presentes nos 3 dias do evento. 

Um sistema de inteligência artificial que detecta violência doméstica e avisa a polícia automaticamente e um serviço de treinamento e mentoria profissional para mulheres foram alguns dos destaques apresentados por empreendedoras, ao lado de um mecanismo para análise físico-química de água e um aplicativo de saúde mental que oferece apoio em crises de ansiedade. 

“Usando inteligência artificial para analisar o som ambiente captado pelo celular, nosso sistema detecta quando uma mulher está sendo vítima de violência e avisa a polícia, sem que ela precise acessar o telefone para pedir ajuda, o que muitas vezes é impossível durante uma agressão”, explica Ana Paula Cavalcanti, criadora do SARA (Rede de Ajuda e Suporte Automático), uma das 400 startups brasileiras que estiveram no Web Summit, levadas pelo Sebrae e pela Apex

Com base em um banco de dados de brigas e casos de violência, o aplicativo detecta os padrões sonoros de ruído e de voz, e é capaz de identificar em tempo real se uma mulher está correndo risco de vida. 

“No Brasil, 350 mil mulheres pediram medidas protetivas na polícia no ano passado,” observa Ana Paula. “Nós estamos negociando com o governo de Pernambuco para que eles implementem o sistema, instalando o aplicativo no telefone das mulheres que correm maior risco de feminicídio,” explica, se referindo ao crime que vitimou 1.400 mulheres no país em 2022.   

Crescimento profissional por meio do “micro learning.”

Já a startup Ada Growth, de Viena, oferece mentoria e treinamento sob medida para mulheres profissionais. As funcionárias das empresas que compram o serviço definem seus objetivos e necessidades, e recebem no celular conteúdo feito por experts, em texto ou vídeos curtos. “Existe uma crise de falta de talentos qualificados no mercado de trabalho, e a mão de obra feminina é um gigantesco potencial subutilizado”, explica Kosima Kovar, fundadora da startup, relembrando de onde veio a ideia para o app. 

Ela conta que há alguns anos, tinha uma empresa de sustentabilidade, e muitas vezes não se sentia ouvida ou vista no ambiente de trabalho “E eu era a CEO! Por isso comecei a fazer cursos de retórica, de apresentação, procurava coaches”, conta. “Ao mesmo tempo, ouvia as empresas falando como era difícil atrair, reter e desenvolver os talentos femininos. E vi a conexão entre essas duas questões”, conclui. 

Segundo Kosima, o serviço, que está sendo adotado por empresas desde bancos até metalúrgicas na Áustria e na Suíça, ajuda as mulheres não só a tornarem seu trabalho mais visível no ambiente de trabalho, como aumenta a satisfação profissional.

Um terço das startups, quase metade dos participantes

Este ano as mulheres representaram 43% dos mais de 70 mil participantes totais do Web Summit. Uma marca um pouco melhor do que os 42% do ano passado, mas ainda bem abaixo dos 50.5% de participação feminina de 2019. 

Segundo Katie Bolger, diretora de diversidade e inclusão da organização, a pandemia teve uma grande influência nesta queda. “Muitas mulheres passaram a trabalhar de casa e ficar responsáveis pelo cuidado dos filhos, e isso certamente teve um impacto nos números,” avalia ela em conversa com o Startups

Uma estatística mais animadora envolvendo mulheres vem do Brasil: entre as startups da região da Amazônia, a proporção de iniciativas lideradas por mulheres chega a 76%. Uma delas é Elaine Freitas, da Chemical Inovação do Amazonas, que criou um aplicativo de análise de água. 

“O aplicativo compara o resultado da análise físico-química da água com os parâmetros e variáveis ambientais de acordo com a legislação, que está sempre atualizada, e dá um parecer sobre a qualidade da água,” detalha Elaine. “O produto foi criado pensando em fiscalização, e em indústrias como mineração e agronegócio, mas já estamos sendo contactados com propostas para expandir para outros mercados, como portos ou mesmo criação de animais”, diz. 

Já entre as empreendedoras do Espírito Santo, Ana Quiroz partiu de sua própria experiência com autismo e TDA para criar o Buddie App. Trata-se de um aplicativo que usa IA e permite ao usuário rastrear padrões de comportamento, emocionais e de sono, permitindo prever crises e dificuldades, e também tem uma funcionalidade para lidar com crises de ansiedade.

“O app faz o celular vibrar na mão do usuário, o que desvia a atenção da crise emocional, e depois conversa com a pessoa, orientando a respiração através de técnicas para acalmar o sistema nervoso. Dessa forma, é possível contornar uma crise de ansiedade em menos de 5 minutos,” garante Ana.

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