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A cobertura especial do Startups no Web Summit Rio 2023 tem o apoio da Headline.

Desde o começo do frisson do ChatGPT e da subsequente discussão sobre consequências e implicações da inteligência artificial na vida humana, a pergunta que não quer calar é: a tecnologia vai matar o jornalismo? A questão foi discutida por chefes de redações em painel realizado no palco principal do 2º dia do Web Summit Rio, nesta quarta-feira (3). 

Uma pequena gafe exibida no telão serviu como alívio ligeiramente cômico logo no início da apresentação: anunciado como “convidado” e questionado sobre o motivo da discussão, o ChatGPT não respondeu. 

Diante da pane no sistema, Steve Clemons, mediador do palco, leu a resposta em um papel: “Como um modelo de linguagem de inteligência artificial, eu não tenho a habilidade de matar qualquer coisa, incluindo o jornalismo. Na verdade, eu acredito que o jornalismo é um aspecto importante e necessário para uma sociedade funcional. O avanço da tecnologia e a ascensão das mídias sociais mudaram, sem dúvidas, o panorama do jornalismo. Cabe aos próprios jornalistas e às organizações para as quais trabalham que estejam aqui para garantir padrões de ética altos e para fornecer reportagens precisas e equilibradas a fim de informar a sociedade”.  

Clemons emenda, em seguida, que a IA colocou a pressão em cima dos jornalistas sem tomar para si a responsabilidade. Cada qual com suas argumentações, os participantes chegaram a um denominador comum: todos concluíram que o ChatGPT não é uma ameaça ao jornalismo. Até agora, pelo menos.

O uníssono comedido deu certo tom de monotonia ao que era discutido, diferentemente, por exemplo, das declarações incendiárias da CEO da Signal, Meredith Whittaker, no 1º dia do Web Summit Rio. Se jornalismo também é o direito ao contraditório, talvez tenha faltado algum entusiasta da inteligência artificial para fazer o papel de advogado do diabo no painel. 

“Há muitas tarefas repetitivas que podemos delegar ao ChatGPT. Mas precisamos de enquadramento ético e legal. Temos que discutir isso em redações: como e quando usar o ChatGPT. A precisão é muito importante para nós”, apontou Laura Bonilla, chefe de redação da AFP na América Latina. “Vai mudar o trabalho para nós, e também as pautas. Pode nos liberar para fazermos um trabalho mais original e criativo. Mas, no final, os humanos terão a última palavra [sobre determinado artigo].”

Greg Williams, diretor-assistente global da revista Wired, descreveu o ChatGPT como uma “máquina de baboseiras”. “A melhor resposta que ouvi sobre o assunto foi de Gary Marcus, um especialista em IA: Ela não tem nenhum relacionamento com a verdade. As respostas são soltas e cheias de imprecisões. O que ela produz é algo que relativamente um ser humano poderia transferir. Sabemos que pode estar cheia de falhas, porque, adivinhem: é baseada em conteúdo de internet, e a internet está cheia de mentiras. É uma forma de agregar conhecimento da internet, e muitos deles não são confiáveis”, avaliou. 

Já Paula Mageste, chefe da Edições Globo Condé Nast, apontou que a profissão precisa se aprimorar. 

“Algumas tarefas básicas podem ser feitas pela inteligência artificial – algumas delas muito mecânicas e muito objetivas que podem ser feitas pelo ChatGPT. Mas sempre temos que voltar aos humanos para verificar novamente [a informação]. É por isso que precisamos estar no topo desse jogo. Precisamos também distinguir o que nos faz melhores do que a inteligência artificial, e o que nos torna humanos: trazer um ponto de vista, subjetividade, desenvolvimento de fontes e relacionamentos. Isso é o que faz a diferença na qualidade de produção de conteúdo, que provavelmente vai restaurar nossa fé como humanos que fazem jornalismo.” 

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