fbpx
Compartilhe

*Por Claudia Penteado, especial para o Startups

Na semana que vem, pelo menos 20 mil pessoas são esperadas no Riocentro, o centro de convenções localizado na zona oeste do Rio de Janeiro, para 1ª edição do Web Summit no Brasil. A construção, que data dos anos 70 e que, apesar de distante e árida, costuma receber os eventos de dimensões mais avantajadas no Rio, foi a escolha para acolher de maneira mais confortável o badalado evento de tech, segundo me explicou Paddy Cosgrave, o jovem e bem apessoado irlandês que criou o encontro em 2011, em Dublin.

O Riocentro parece especialmente inóspito se comparado à área cheia de opções turísticas no centro histórico de Lisboa, em Portugal, onde o Web Summit acontece desde 2016. Mas Paddy garante que o espaço acolherá perfeitamente o primeiro “filhote” de seu tradicional evento de tecnologia, viabilizado com o apoio dos patrocinadores Itaú BBA, Senac, Transfero e Prefeitura do Rio de Janeiro. E é importante lembrar que eventos como este sempre ocupam muitos outros espaços da cidade ao longo de uma semana, através da intensa programação paralela promovida pelas empresas participantes.

Do imenso céu azul à arquitetura, a cidade tem muito em comum com Lisboa.

“O Rio me pareceu o lar perfeito para o Web Summit. É uma cidade muito especial, não apenas dentro do Brasil, mas globalmente. É lindo, lindo, lindo.”, diz Paddy.

A briga foi boa entre várias capitais brasilerias que “disputaram” a oportunidade de sediar o evento. Porto Alegre e Brasília estavam fortes no páreo, mas o Rio levou pela dobradinha infraestrutura hoteleira/aeroporto internacional, e também, claro, pelo forte apoio da Prefeitura – além, claro, do apelo turístico especialmente junto ao público estrangeiro, que aportará por aqui vindo de 100 países diferentes.

“Porto Alegre é uma verdadeira cidade de negócios, conheci alguns empreendedores realmente impressionantes. Brasília também é muito funcional. Seria um lugar neutro, e talvez à noite menos divertido”, relata.

Casa cheia

Paddy conta que a meta original era ter cerca de 5 mil pessoas na edição carioca. Mas os ingressos simplesmente não paravam de vender, até chegarem à casa dos 20 mil. No momento em que conversamos, diante da vista do mar de Copacabana, em um andar alto do hotel Fairmont, Paddy ainda não tinha a conta final da presença de estrangeiros – entre palestrantes e delegados.  Mas comemorava os ingressos rapidamente esgotados – não, não há mais ingressos à venda, você precisa achar alguém que esteja revendendo – e a total ausência de contratempos na organização de uma maneira geral, apesar dos muitos avisos e alertas especialmente de portugueses sobre as possibilidades de tudo dar errado.

“Por mais estranho que pareça, tudo funcionou até agora. Mas sinceramente, depois de sediar tantos eventos internacionais como Copa e Olimpíadas, há experiência de sobra com eventos globais de grandes dimensões”, argumenta Paddy.

Ele conta que a escolha de fazer uma edição do Web Summit no Brasil foi natural, prestigiando a  sempre impressionante presença brasileira nas edições portuguesas. “No nosso 1º ano em Lisboa, talvez houvesse uma dúzia de brasileiros. Com o tempo, passamos a ter 3, 4 mil brasileiros no evento. Totalmente louco.”, conta o organizador.

Apesar das dimensões, esta 1ª edição no Rio ainda será um test-drive: para o público estrangeiro avaliar se vale a pena investir em passar uma semana no Brasil. E para expositores e empresas sentirem seu potencial. Por isso, já foi importante ter superado as expectativas iniciais de público. “Este é um país muito maior do que as pessoas percebem.”, observa Paddy.

A expansão pelo mundo

Paddy traz no rosto o sorriso tranquilo e confiante de quem sabe estar no rumo certo na expansão de seu negócio, que conta com outras duas conferências: o Collision (realizado pela 1ª vez em Las Vegas em 2014, depois New Orleans, em 2016, e transferido para Toronto a partir de 2019) e o Rise, que estreou em Hong Kong em 2015 e retorna em 2025. Além de Lisboa e Rio de Janeiro, o Web Summit terá uma  edição no Qatar em março do ano que vem. Sim, no Qatar, o polêmico destino da última Copa do Mundo.

Perguntei sobre o desafio de levar discussões sobre inovação, criatividade, diversidade e inclusão para um país com uma cultura tão diferente e mesmo controversa em relação ao mundo ocidental, e tão distante das conversas em geral trazidas pelo Web Summit. Paddy responde ser hesitar.

O argumento é que o Oriente Médio é uma região importante, que se transforma rapidamente, e que não pode ser ignorada. Ao longo de uma década, praticamente todos os países do Oriente Médio se tornaram parceiros do Web Summit: Egito, Israel, Jordânia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Qatar, Irã.

“Estamos levando um evento que pode e deve ter impacto positivo para a região. E sobre questões de direitos humanos, eu diria que algumas pessoas acreditam que os Estados Unidos são os maiores violadores de direitos humans do mundo, com a maioria encarcerada pertencente a um grupo étnico minoritário de afro-americanos. No entanto a propaganda deles é melhor, para que as pessoas não pensem sobre isso”, completou Paddy, claramente disposto a não se estender no tema.

Decisão tomada, próximo assunto.

Não faltam reflexões sobre outros possíveis países para expandir. A escolha de Lisboa foi polêmica, na época. Poucos acreditaram que pudesse dar certo. Espanha, Alemanha, Inglaterra, há várias possibilidades, mas Paddy diz que Portugal ainda é o país da Europa mais acolhedor para estrangeiros.

Sem pressa de fazer novas escolhas desta ordem, perguntei qual o grau de dificuldade para eleger as empresas que participam de cada Web Summit. Ele diz que faz apostas com a ajuda de um time de curadores e com base em recomendações. Mas nem sempre acerta. Acertou muito com Uber, quando era uma pequena startup com poucos funcionários, e errou muito com várias empresas de crypto que afundaram nos últimos anos. “Fazemos o melhor que podemos, mas é difícil escolher os vencedores”, observa.

Conversas ágeis, e ao vivo

Paddy gosta especialmente do formato de conversas mais curtas e ágeis, de 20 minutos, e não acredita em transmissões online. Para ele, eventos acontecem ao vivo mesmo, e o streaming é um detalhe.

“Não acredito em conferências online. As conversas no palco principal (o Center Stage), estarão disponíveis online, inclusive gratuitamente. Não vou cobrar ninguém por isso”, comenta, com a segurança de se considerar o melhor criador de eventos do gênero no mundo. Ele faz críticas ferozes ao SXSW, por exemplo, que considera ruim sob diversos aspectos.

“É um dos eventos mais mal organizados do mundo. Faliu durante a pandemia. Foi comprado por uma editora de revistas (perdão por criticar uma editoras de revistas), mas é tão mal organizado, chega a ser incompreensível. Em sinalização, iluminação, conteúdo, coordenação, timing. Uma piada completa, que representa a América – caindo aos pedaços. O império desmoronando. Gosto de ir a Austin, gosto dos bares, das festas, de encontrar pessoas. Esta parte é bacana. Mas o evento, eu considero um completo desastre”, opina.

A implicância com a América não é gratuita, claro. Paddy teve experiências ruins com o Collision, e na era Trump decidiu transferi-lo para o Canadá devido à imensa dificuldade de liberar vistos para participantes do Oriente Médio.

Paddy Cosgrave, fundador do Web Summit
Paddy Cosgrave, fundador do Web Summit (Crédito: Divulgação)

Believe the hype?

Perguntei para ele sobre os temas deste Web Summit Rio – algum foco? Algum hype? “O declínio da América? A ascensão da China?”, provocou.

Ele realmente acredita que o furor em torno do chat GPT e a IA generativa em geral é um hype. Mas sim, será um tema forte na semana que ven. Paddy também não faz apostas sobre as melhores palestras. De jeito nenhum. Consultando rapidamente o aplicativo do web summit (muito bom, por sinal), onde o público está elegendo seus favoritos até o momento, ele mencionou as conversas sobre o impacto positivo das plataformas sociais e algumas ligadas a ativismo social. Será que conversas sobre temas mais humanos vão superar o hype da IA? 

Eu sempre costumo torcer para que sim. Quem viver, verá.

*(Claudia Penteado é jornalista e mãe da Juliana, mora no Rio de Janeiro e escreve sobre qualquer assunto que renda uma boa história – com exceção de política. Vai mediar dois painéis no Web Summit Rio.)

LEIA MAIS