*Flávia Mello é investidora e mentora de empresas fundadas por mulheres que estejam desenvolvendo soluções para o público feminino
Quando se fala em boas práticas corporativas – resumidas em siglas como ESG ou termos como compliance, hoje já incorporados à linguagem dos mais variados idiomas – um fato positivo é que tais discussões, que envolvem especialmente diversidade e inclusão, parecem não se esgotar nunca, ganhando novos vieses com enorme frequência. E um dos motivos desse assunto ‘não morrer’ é que ele tem sido ‘alimentado’ por inúmeros estudos, publicados tanto pelo próprio mercado quanto por renomadas instituições de pesquisa.
Atualmente, um dos ‘recortes’ desses levantamentos que mais tem chamado a atenção da mídia são os bons resultados que as empresas lideradas por mulheres vêm conquistando, tanto entre as startups quanto entre as companhias de capital aberto. Isso apesar das dificuldades para as mulheres, ainda hoje, de alçar postos chaves nas empresas ou de conseguir aporte de capital para os seus negócios.
Manchetes sexistas dando conta de que as mulheres não chegam lá porque são menos ousadas e têm menos familiaridade com os produtos e serviços que dominam o mundo dos negócios estão dando lugar – AINDA BEM! – a números que sustentam casos de sucesso tocados por mãos femininas.
Toque feminino
Um desses dados recentes veio à público pelo grupo de investimentos XP Asset Management. Segundo a empresa, acreditar nas mulheres em cargos de liderança em empresas de capital aberto tem rendido altos dividendos aos investidores do grupo. Um dos fundos internacionais de ações da XP, o Trend Lideranças Femininas, que investe nas melhores empresas da Bolsa americana com diversidade de gênero em cargos de liderança, rendeu ótimos 34,8% nos últimos 12 meses. Com isso, bateu a rentabilidade de outro fundo da casa, o Trend Bolsa Americana, que subiu 33,6% no mesmo período e funciona de maneira similar, mas sem o filtro de gênero. “Isso mostra a importância da diversidade”, comentou, sobre este resultado, a especialista Paula Zogbi, analista de investimentos da Rico, que distribui a aplicação.
Números semelhantes foram apresentados por empresas privadas de tecnologia chefiadas por mulheres, segundo levantamento da fundação Kauffman. De acordo com o estudo, a taxa de retorno, conhecida como ROI, dessas empresas foi 35% maior do que as que têm homens no comando. Já quando recebem apoio em seus empreendimentos, os negócios liderados por mulheres somam receitas 12% superiores aos iniciados por homens.
Isso prova, de forma contundente, que empresas administradas por mulheres são – SIM – ótimas opções de investimentos tanto para investidores anjos como para quem aplica no mercado financeiro.
Tal constatação tem feito surgir, no mercado financeiro, ideias inovadoras, como a B3, primeira bolsa de valores do mundo a emitir um Sustainability Linked Bond (SLB), o que significa que ela se compromete, financeiramente, com o cumprimento de metas ligadas à Diversidade e Inclusão. Entre os compromissos previstos no SLB da B3 estão a criação de um índice de diversidade para o mercado brasileiro e o aumento do número de mulheres em cargos de liderança dentro da bolsa. O bond estabelece entre as metas a criação, até 2024, de um índice de mercado para medir a performance de empresas que tenham bons indicadores de diversidade; e atingir, até 2026, o percentual de 35% de mulheres em cargos de liderança na B3 (gerentes, superintendentes e diretoria, o que inclui também os C-levels). Caso não cumpra estas metas, a B3 deverá pagar aos investidores uma remuneração maior do que a combinada no lançamento do título, aumentando, assim, o seu custo.
Iniciativas como a da nova bolsa mostram a confiança no mercado no ‘taco’ das mulheres para os negócios. Cabe a elas, cada vez mais, acreditar em suas ideias e ousar investir.