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Economia azul: como o ecossistema de inovação pode impulsioná-la?

Modelo aposta em inovações de baixo custo que geram empregos e benefícios por meio da sustentabilidade

Foto: Canva
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*Tania Gomes é diretora de inovação do Ibrawork

O ambiente de inovação é uma esfera colaborativa que incentiva a criação de novas tecnologias e negócios. Nesse sentido, reunindo todos os atores responsáveis pelo desenvolvimento de projetos inovadores, o ecossistema possui papel central no aperfeiçoamento social e econômico. Mas, afinal, o que é economia azul e qual sua relação com a inovação?

O conceito da economia azul se baseia na imitação do funcionamento da natureza, assemelhando-se ao princípio da economia circular. Isto é, convertendo resíduos em materiais eficientes, capazes de desenvolver e impulsionar a economia de forma sustentável. Resumindo, a economia azul promove o crescimento econômico baseado na preservação dos ecossistemas marinhos e, consequentemente, na sustentabilidade ambiental.

Logo, a economia azul visa promover um novo sistema econômico, totalmente desconectado do conceito de usar e jogar fora continuamente os bens que a natureza nos oferece. É, portanto, o principal motor para a recuperação dos ecossistemas e, sobretudo, para a sensibilização sobre a importância dos recursos dos oceanos e costas, que vão muito além da pesca e do turismo, por exemplo. Não à toa, ela possui papel fundamental para as empresas que buscam inovar, por meio da sustentabilidade.

Porém, não basta apenas garantir o equilíbrio dos ecossistemas, uma vez que esta prática deve ser democratizada, a partir de infraestruturas, tecnologia e práticas sociais e ambientalmente conscientes. Ainda sensível no Brasil, o tema requer estímulos e compromisso não somente das comunidades que dependem do mar para subsistência e manutenção de suas tradições culturais, como também das indústrias que produzem lixo marinho, poluição por plástico, contaminação por resíduos etc.

Inclusive, essa discussão se torna cada vez mais essencial, ao passo que de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a estimativa é que, até 2040, os mares recebam entre 23 e 37 milhões de toneladas de plástico por ano, um número três vezes maior que o atual, e que traz inúmeras reflexões sobre um cenário de desgaste mundial.

É inegável que o oceano é a principal via de comércio exterior, fonte de alimento, energia e recursos minerais. Por isso, criada para incentivar um modelo econômico que respeite o meio ambiente, a economia azul adota uma abordagem distinta, principalmente para o empreendedorismo sustentável e a inovação. Enfatizando a forma de se fazer mais com menos, de combinar riqueza com diversidade, de ver os resíduos como recursos e, em última análise, a integração de todo o sistema a nível global, o conceito impulsiona a economia do mar brasileiro e, em especial, dos ecossistemas de inovação, possibilitando inclusive vantagens competitivas.

A criação de peixes, mariscos e algas de forma sustentável é um dos grandes exemplos da economia azul, que envolve o uso de técnicas capazes de minimizar os impactos ambientais, promovendo assim inúmeros benefícios, como a saúde dos ecossistemas marinhos, energias renováveis e exploração de fontes de energias, a exemplo da eólica offshore. Além das energias retiradas das ondas e marés, que possuem o potencial de reduzir significativamente a dependência de combustíveis fósseis. Lembrando que estas e inúmeras outras frentes também impactam de forma positiva, como no caso da gestão inteligente de portos e transportes marítimos.

Quais são os desafios?

Excepcionalmente, a mudança é necessária no nosso modelo econômico, exigindo a separação do desenvolvimento socioeconômico humano da degradação do meio ambiente e dos ecossistemas. Afinal, vivemos em uma sociedade que nos aproxima de um caminho sem volta, quando o assunto é a degradação do planeta, devido à exploração dos recursos naturais e a geração de resíduos.

Hoje, o equilíbrio ecológico é a única forma possível de reverter a mudança climática. Porém, isso não depende de uma única pessoa, mas sim, de toda a população, juntamente das empresas presentes no mundo. Ou seja, é necessário uma educação global ao redor do tema.

Portanto, a economia azul tem como atual missão ser acessível a todos os tipos de consumidores, copiando assim a eficiência da natureza em seu processo. Logo, o ecossistema de inovação pode ajudá-la de forma colaborativa, onde todas as startups e empresas que quiserem inovar, terão acesso. Além disso, ao entenderem também o resíduo como um recurso, inspirado no ecodesign e no ambiente natural, esse modelo apostará em inovações de baixo custo que geram empregos e benefícios por meio da sustentabilidade.