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Mulheres na Tecnologia: parceria com aliados rumo à equidade

Mulheres na tecnologia
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Por Lisiane Lemos, cofundadora do Conselheira 101

As mulheres enfrentam uma série de desafios no mercado da tecnologia, onde a persistência da desigualdade é evidente, com múltiplas interseccionalidades que impactam as organizações de maneiras diversas. Se esta mulher é negra, LGBTQIAPN+ ou com deficiência, as barreiras a serem superadas são ainda mais significativas diante de todas as adversidades.

No início da computação, nomes como Ada Lovelace, criadora do primeiro algoritmo da história, e Dorothy Vaughan, afro-americana que trabalhou na NASA e fez grandes feitos na década de 1950 dentro da corporação, abriram caminhos para as mulheres na tecnologia. Porém, mesmo com os avanços significativos nas últimas décadas em termos de igualdade de gênero, este setor ainda é predominantemente dominado por homens. Segundo dados da pesquisa Woman in Technology,  o número de mulheres na força de trabalho no Brasil, especificamente nas áreas de tecnologia, é de apenas 25%. 

Na minha visão, a principal dificuldade enfrentada pelas mulheres no mercado de tecnologia é a falta de familiaridade e aceitação da presença feminina nesses espaços. A cultura predominante muitas vezes não está acostumada ou pronta para nos receber em papéis técnicos e de liderança, criando barreiras muitas vezes invisíveis aos homens significativas para o avanço e sucesso das profissionais.

Por outro lado, observa-se o surgimento crescente de movimento de mulheres e aliados  na área, que se dedicam a impulsionar e capacitá-las, contribuindo para a formação de novas líderes e fortalecendo a representatividade feminina. Eles desempenham um papel fundamental na superação das barreiras, pois alavancam a carreira umas das outras. Como o programa Conselheira 101, por exemplo, uma ação afirmativa que busca oferecer a formação em governança corporativa e reconhecimento no mercado para atingir um público específico que é negligenciado, as mulheres em cargos de alta liderança, acima da gerência sênior.

Lisiane Lemos, cofundadora do Conselheira 101
Lisiane Lemos, cofundadora do Conselheira 101 (Foto: Divulgação)

As ações afirmativas, que são políticas públicas e privadas que tem como objetivo combater e diminuir as desigualdades historicamente acumuladas em nossa sociedade, desempenham um papel temporário no caminho em direção à equidade, envolvendo e educando todos os segmentos da sociedade para que haja espaço e reconhecimento para todos, permitindo que cada um assuma seu protagonismo na sociedade. Quando falamos de equidade é possível beneficiar as pessoas na medida das suas desigualdades, distribuindo recursos e oportunidades de carreira de forma justa

Atualmente, há mulheres ocupando posições de alta liderança em algumas das maiores empresas do Brasil. Mas, e nas médias empresas e nos programas de trainee? É raro encontrar companhias que promovam vagas direcionadas especificamente para mulheres. Quando vejo fotos de painéis de tecnologia de eventos com 20 homens e nenhuma mulher, e mais ainda nenhuma pessoa negra, o que me fará sentir acolhida neste ambiente? Precisamos ir além do discurso, ter um olhar treinado e de percepção não só das mulheres, mas sim dos aliados. Se o mercado é dominado por homens, sejam cisgênero ou não, é essencial que essas pessoas contribuam para ampliar as oportunidades e demonstrem mais empatia em relação às mulheres.

Uma pessoa preta, de pele retinta como eu, age  para mitigar essa disparidade porque não há outro caminho para ascender. A representatividade feminina se torna verdadeiramente significativa quando inclui e dá voz a todas as mulheres, quando estas se sentem plenamente integradas e capacitadas para contribuir na construção do ambiente em que atuam. Portanto, é crucial estabelecer um ambiente de pluralidade e abertura à escuta, onde cada voz seja valorizada e respeitada.

Na minha perspectiva, estamos progredindo continuamente. Essa melhoria é resultado de um trabalho incansável, mesmo que às vezes pareça que não está impactando muitas pessoas. Para aquelas que desejam entrar no mercado de tecnologia, enfatizo que não será fácil e  exige muita resiliência. Mas, se essa é a sua paixão e traz felicidade, busque por este objetivo e encontre referências. 

Se alguém precisa dar o primeiro passo e abrir essas portas, que seja eu, pois tenho a convicção de que vou segurá-las para que outras minorias  também possam entrar. Não apenas as mulheres negras como eu, mas também em favorecer aquelas de grupos vulneráveis e minorizados, que são frequentemente excluídas. É crucial enfatizar que a responsabilidade de construir um mercado de tecnologia mais igualitário não recai apenas sobre as mulheres, mas sobre todos aqueles que almejam uma sociedade mais justa. 

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