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Operações de Investimento em Startups: você conhece os tipos de investimento e de investidores?

Investimentos em startups
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*Por Bernardo Freitas, Pedro Vidigal e Paula Mello

O termo “startup” se popularizou aqui no Brasil durante o final da década de 1990 e o início dos anos 2000, período no qual houve uma alta valorização das empresas de tecnologia conhecido como “bolha ponto-com”. Em 2020, o mercado das startups teve um crescimento bastante expressivo, principalmente em razão da pandemia da Covid-19, que gerou uma emergencial demanda por inovação. Entretanto, a partir de 2021, diante um cenário político-econômico global conturbado, aumento da taxa de juros e da inflação, o mercado apresentou uma retração significativa e vive o chamado “inverno das startups”, marcado por demissões em massa e redução dos aportes em startups

A boa notícia é que existe luz no fim do túnel e, ao que tudo indica, a primavera está se aproximando. Principalmente em razão da ascensão da Inteligência Artificial (IA) nos últimos meses, a expectativa é que o mercado de startups se aqueça novamente. Com isso, expressões como “investimento-anjo”, “seed capital”, “venture capital”, “private equity” e “corporate venture capital” voltarão a ficar em alta. Mas você sabe o que significam esses tipos de investimento e qual é o melhor para a sua startup? 

Antes de explicar esses conceitos, é preciso compreender que, na busca de capital para impulsionar suas atividades e na escolha do investidor com o melhor potencial de alavancagem para o seu negócio, o empreendedor deve levar em consideração o perfil do investidor que aportará os recursos em seu negócio, para fins de alinhamento de interesses e minimização de conflitos. 

Outra questão muito importante e diretamente ligada ao tipo de investimento que será realizado é o estágio, ou grau de maturidade, da startup – para saber quais são os estágios de uma startup, acesse o nosso artigo “Como uma assessoria jurídica pode impulsionar sua startup em todas suas fases?”.

Perfil do Investidor

É importante que o empreendedor tenha clareza acerca da diferença entre o investidor financeiro e o investidor estratégico

Investidores financeiros são indivíduos ou entidades que aportam dinheiro em startups com o objetivo principal de obter retorno financeiro. Nesse contexto, a depender do nível da rodada de investimento, investidores financeiros podem desempenhar um papel mais passivo ou ativo na gestão empresa, com o objetivo final de aumentar o valor de mercado da investida e maximizar o seu retorno financeiro no momento do desinvestimento, esperado para ocorrer em um curto ou médio prazo. 

O investidor estratégico, por outro lado, investe em startups com o objetivo de aproveitar as sinergias existentes entre a startup e a sua própria operação, integrando os recursos e know-how da investida. As vantagens estratégicas são as principais motivadoras do investimento e o retorno financeiro esperado é decorrente da própria operação da startup e/ou do desinvestimento a médio ou longo prazo. Nesse sentido, o investidor estratégico possui uma atuação mais ativa nas atividades e na gestão da empresa, com objetivos de crescimento diversos, como aumento de marketshare, expansão geográfica, ganho de escala, otimização fiscal e tributária e, muitas vezes, verticalização de processos, buscando o máximo de alinhamento com os objetivos comerciais da investidora. Para esse tipo de investidor, o horizonte de investimentos é mais estendido e o desinvestimento não é a linha de chegada.   

Tipos de Investimentos

Além da distinção do perfil dos investidores, as operações de investimento se diferenciam de acordo com o grau de maturidade da startup.

FFF, Investimento-Anjo e Seed Capital

A grande maioria das startups em fase de idealização ainda não possuem faturamento e, geralmente, não possuem acesso a fontes tradicionais de financiamento, como financiamentos bancários ou outras modalidades de investimento em capital de risco (como o venture capital, que será mencionado abaixo), diante do alto risco de insucesso e a falta de liquidez. Portanto, investimentos em startups em estágios iniciais, usualmente, é realizado inicialmente por amigos e familiares (carinhosamente conhecidos como FFF – Family, Friends and Fools) e por pessoas físicas e entidades que possuam expertise e capital suficientes para investir em empresas com alto risco e potencial de sucesso, os famosos “investidores-anjo” (também conhecido como pré seed).

Os investidores FFF são pessoas de confiança dos fundadores das startups, familiares e amigos, e que geralmente não possuem conhecimento suficiente para entender o tamanho do risco do investimento. Além disso, esses investidores não costumam realizar diligências usualmente realizadas em outras modalidades de investimento, e por isso são classificados como “tolos” (tradução literal de “fools”). Muitas das vezes, esse tipo de investimento se quer é formalizado da maneira correta, em razão da proximidade entre os fundadores e investidores, o que potencializa a chance de conflitos societários futuros – para saber como prevenir esses conflitos, confira o nosso artigo “Prevenindo disputas societárias em startups”. 

O investidor-anjo, por sua vez, é um investidor mais sofisticado e o seu papel principal é a disponibilização de recursos financeiros. Nada impede, no entanto, que os investidores-anjos colaborem com desenvolvimento e sucesso da startup, seja por meio de conselhos e orientações, ou promoção de conexões e networking. Apesar dos benefícios complementares que podem advir do investimento-anjo, esta é uma modalidade de investimento financeiro, pois a finalidade do investidor é maximizar seu retorno financeiro, através da valorização exponencial da investida. 

O seed capital (capital semente) também é um investimento realizado em startups em estágio embrionário, mas em fase de desenvolvimento um pouco mais avançada do que as startups que recebem investimentos-anjo. No caso do seed capital, a startup está buscando a validação do seu negócio e, portanto, os recursos captados normalmente são utilizados para financiar pesquisas iniciais, testes de mercado e outras atividades essenciais para o lançamento do produto ou solução (e da própria startup) no mercado. Portanto, o seed capital é um investimento recebido quando a startup ainda está em uma fase “pré-operacional”. 

Em razão do alto risco do investimento-anjo e do seed capital, a sua formalização normalmente se dá por meio de instrumentos de mútuo (empréstimo) conversível em participação societária da investida. Por meio desses instrumentos, o investidor aporta recursos e, ao invés de se tornar sócio desde o início, passa a ser titular de um crédito contra a startup, que pode ser convertido em participação societária, caso determinadas condições sejam implementadas e/ou renunciadas pelo investidor. 

Os investidores de seed capital podem ser pessoas físicas, grupos de investidores, ou até mesmo empresas de capital de risco que acreditam no potencial de escalabilidade da startup e que estão dispostos a assumir um risco mais acentuado, diante das incertezas que marcam as empresas em estágio tão inicial. 

Venture Capital 

O venture capital (também conhecido como “capital de risco”) é uma modalidade de investimento de alto risco, por também ter como alvo empresas em fase inicial ou emergente, que apresentam grande potencial de crescimento e, consequentemente, alto retorno financeiro. Atraem investimentos em venture capital as startups que já tenham desenvolvido e lançado seu MVP (produto mínimo viável) já validado pelo mercado, ainda que em pequena escala ou em caráter preliminar. 

De forma geral, o veículo utilizado pelos investidores de venture capital são os fundos de investimento, que geralmente não possuem um papel tão ativo na gestão da startup e no desenvolvimento do produto. Apesar disso, é comum que os fundos de venture capital exijam cadeiras no conselho de administração e/ou o direito de indicar o diretor financeiro da investida.

O objetivo principal do venture capital é maximizar o retorno em operação de desinvestimento – ou seja, o investidor venture capital assume um risco maior na entrada, quando a investida possui menor valor de mercado, apostando em seu potencial de valorização, com a expectativa de um retorno financeiro na venda de sua participação ou em caso de abertura de capital. Portanto, o venture capital tem caráter financeiro e temporário

Private Equity 

O private equity é uma modalidade de investimento similar ao venture capital, mas se diferencia em relação ao estágio das empresas investidas. No private equity, o investimento é realizado em empresas amadurecidas, em fase operacional, já consolidadas, lucrativas e com menor risco de insucesso. Consequentemente, o valor de mercado dessas empresas é significativamente maior do que o valor de uma startup em fase inicial.

O objetivo do private equity também é se beneficiar de uma valorização das empresas investidas no momento do desinvestimento, esperado para ocorrer em um médio ou longo prazo, que pode se concretizar via oferta pública de ações, conhecido como IPO (initial public offering). Portanto, os investimentos de private equity também são classificados como investimentos financeiros.

Corporate Venture Capital 

O corporate venture capital (conhecido como CVC) é uma modalidade de investimento que vem ganhando tração nos últimos anos – para saber mais sobre CVC, não deixe de conferir a nossa série de artigos sobre o tema: Introdução ao Corporate Venture Capital”, “Características do Investidor e do Investido em Investimentos de CVC” e “Corporate Venture Capital: regras de governança para a relação entre investidora e investida”.

De maneira geral, o CVC consiste na constituição de um veículo de investimento (uma holding ou até mesmo um fundo de investimentos) por empresas ou grupos empresariais já consolidados no mercado, que desejam incrementar seus produtos, serviços ou processos através das soluções inovadoras desenvolvida pelas startups. O CVC é um investimento estratégico por natureza, já que o principal interesse dessas grandes empresas é aproveitar-se das inovações desenvolvidas por agentes externos, por meio da montagem de um portfólio de investidas que possuem sinergia com seu core-business, incorporando esses produtos, serviços e soluções em sua operação. É um fato conhecido que as empresas, para se desenvolverem e serem perenes, necessitam estar em constante movimento, acompanhando e fomentando inovações. O CVC é, portanto, a ponte entre os grandes grupos empresariais e a inovação, sendo uma das principais ferramentas da open innovation.    

Vale destacar que o CVC não se confunde com o corporate venture Building (CVB). Diferentemente do CVC, o CVB não consiste em uma modalidade de investimento direto nas startups, e sim na criação de novos negócios, independentes ou complementares ao core business da empresa, com o objetivo de proporcionar um ambiente menos burocrático e suscetível à inovação para as startups.

Crowdfunding 

Outra alternativa de captação de recursos por startups é o chamado crowdfunding, que nada mais é do uma oferta pública realizada via plataformas digitais sob a regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários.

Por meio do crowdfunding é possível captar recursos via contratos de mútuos, vinculados a um compromisso de reembolso, com juros pré-pactuados, como também é possível captar recursos em troca de participação societária da startup. O crowdfunding é uma ferramenta de democratização do acesso a recursos financeiros por empresas emergentes, permitindo que tais empresas se conectem com uma ampla base de investidores por meio da internet. 

Aceleradoras e Incubadoras

As aceleradoras e incubadoras, via de regra, não são modalidades de investimento direto, pois não necessariamente envolvem aportes financeiros em empresas emergentes. No entanto, dado a sua relevância no ecossistema de inovação, convém mencioná-las, pois são importantes aliadas do empreendedor em fase inicial. 

As incubadoras são instituições que oferecem apoio estrutural e, ocasionalmente, financeiro, para empresas em sua fase inicial. Em razão de sua atuação nas fases mais incipientes da formação de um produto e pela sua característica de privilegiar o fornecimento de assessoria técnica e mentorias ao empreendedor, com reduzido ou inexistente apoio financeiro, as incubadoras estão comumente associadas a entes públicos, instituições de ensino ou instituições de fomento à ciência e/ou ao empreendedorismo sem fins lucrativos. A prestação de apoio a startups por intermédio de incubadoras raramente resulta em participação na investida ou retorno financeiro, mas assegura presença significativa no ecossistema do empreendedorismo, tendo acesso, inclusive, a soluções e produtos inéditos no mercado, ainda em fase inicial. 

As aceleradoras, por sua vez, são organizações que visam impulsionar as atividades de uma startup por meio da oferta de programas de mentorias e criação de redes de networking entre empreendedores. Diferentemente das incubadoras, as aceleradoras estão vinculadas a instituições privadas e seu apoio pode resultar no fornecimento de recursos financeiros e na aquisição de participação societária. Nesse sentido, as aceleradoras possuem interesse em obter retorno financeiro nos empreendimentos que participam. 

Essas organizações, contudo, embora altamente qualificadas, não possuem recursos para a realização de investimentos expressivos em startups. 

Percebe-se, portanto, que a decisão de realizar ou receber um investimento depende de um equilíbrio entre investidor e investida no que se refere o perfil das empresas envolvidas e os objetivos do investidor. A falta de sinergia e o desalinhamento dos interesses e objetivos são duas das principais causas de insucesso em operações de investimento, que resultam em grandes perdas (principalmente financeiras) para todas as partes envolvidas.

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