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Onde está o dinheiro para as founders femininas?

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Por Beatriz Ambrósio, CEO e fundadora da Mention

A ascensão das startups fundadas por mulheres é um fenômeno que tem ganhado cada vez mais destaque no cenário global de empreendedorismo. Mas, apesar dos avanços e das conquistas, ainda há um abismo de desigualdade quando se trata de financiamento. Ultimamente, muitos programas de mentoria surgiram para incentivar o crescimento das fundadoras pelo mundo. Mas será que a ausência da alocação de capital realmente vem de uma falta de orientação?

A desigualdade de financiamento é uma realidade alarmante no Brasil. De acordo com o relatório anual “Female Founders Report Forum”, atualizado em 2023, em uma parceria entre Distrito, Endeavor e B2Mamy, as startups lideradas por mulheres ainda representam 10% do total de negócios acordados, contra 75% daquelas lideradas por homens. Esse número é um reflexo da falta de oportunidades e do viés de gênero que permeia o ecossistema de investimento na área de tecnologia, que já avança como tartaruga, com certas negligências a ideias, diversidades e talentos, por todo o mundo.

Na Europa, por exemplo, o relatório “State European Tech 2023”, produzido pela Atomico em parceria com diversos especialistas do setor, revela que, no último ano, as startups fundadas por mulheres levantaram apenas 3% de todos os dólares investidos no continente. Enquanto isso, as equipes mistas receberam 15% dos investimentos e aquelas fundadas por homens ficaram com impressionantes 82%.

É preocupante que, mesmo no setor de tecnologia, tão conhecido por sua inovação e disrupção de mercado, as mulheres continuem sendo marginalizadas quando se trata de financiamento, com um progresso que, desde 2019, aumentou apenas 1%.

Sem contar que a falta de recursos para as founders femininas não é apenas uma questão de justiça social, como também um obstáculo para o crescimento econômico. Estudos como o do Boston Consulting Group (BCG) mostram que empresas lideradas por mulheres têm um desempenho significativamente melhor do que aquelas lideradas exclusivamente por homens, com receitas anuais 12% maiores, com um terço a menos de capital.

Então, se o potencial de inovação já é expressivo na economia, onde está o dinheiro para as founders femininas? Os recursos que deveriam ser delas, para investirem ainda mais em seus negócios?

Entendo que os programas de mentoria desempenham um papel fundamental para a construção de perfil das empreendedoras. Afinal, são eles que nos incentivam a estudar, se aprofundar, compartilhar experiências e a não perder o timing desse ecossistema tão grande de conhecimento, essencial para o sucesso a longo prazo de qualquer startup.

No entanto, é até um pouco óbvio que a mentoria, por si só, não pode superar as barreiras impostas pela falta de financiamento. E, para isso, é necessário um compromisso coletivo de investidores, aceleradoras e governos para corrigir essa desigualdade e garantir que as mulheres empreendedoras tenham acesso igualitário a oportunidades de financiamento.

Investidores e fundos de capital de risco, por exemplo, poderiam estabelecer metas claras para o financiamento de startups fundadas por mulheres e implementar políticas que promovam a diversidade em seus portfólios. E, falando em diversidade, deveria ser um dever sugerir a criação de novos fundos de investimento exclusivos para empreendedoras.

Além disso, governos e instituições públicas não ficam de fora dessa responsabilidade, pois desempenhariam um papel ativo no incentivo à igualdade de gênero por meio de políticas de contratação que promovam a diversidade.

Mulheres, fomos jogadas à cova dos leões. A jornada rumo à igualdade de gênero no empreendedorismo digital está longe de terminar. E sei que machuca celebrar as conquistas das nossas startups enquanto procuramos, a todo o momento, por captações tão tendenciosas, que parecem se esquecer que a missão da tecnologia e da inovação é, justamente, desprender-se do tradicional. Mas prometo que os números estão à mostra para provar o quanto podemos ser muito mais do que já somos capazes sozinhas. E quem sabe, gritando mais as estatísticas, criemos um novo modus operandi para o conceito de investimento em inovação?

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