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Mercado secundário: O que é e por que sua relevância cresce no ecossistema de startups?

Foto: Canva
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Até o ano passado, as startups contavam com um contexto de prosperidade. Havia recursos em abundância, noticiavam-se aportes milionários e novos unicórnios surgiam. Todavia, o cenário macroeconômico mudou e, frente à inflação, à alta dos juros e à crise econômica global, os aportes feitos pelos fundos de Venture Capital encolheram, principalmente para as empresas em estágio mais maduro, em rodadas Series C adiante. 

Será que, frente aos desafios enfrentados em 2022, o mercado secundário pode ser uma solução para driblar a crise e garantir a continuidade da operação das startups? É isto que vamos discutir neste artigo.

Venture Capital – momento atual

Após um ano de bonança, o mercado de Venture Capital está em uma fase de correção. Em 2021, o segmento movimentou US$671 bilhões globalmente, segundo o levantamento “Venture Pulse”, da KPMG Private Enterprise. No Brasil, os investimentos somaram R$53,8 bilhões, valor 128% maior do que em 2020. Um montante recorde, que encheu o mercado de ânimo e expectativas. 

Mas, em 2022, o mercado está se ajustando.

No primeiro semestre, as startups brasileiras captaram US$2,92 bilhões, o que representa uma redução de 44,4% com relação ao mesmo período do ano passado (dados do Inside Venture Capital, da Distrito com apoio do Bexs Banco). Consequentemente, muitas startups têm feito revisões de rota e temos visto o reflexo disso nas demissões em massa anunciadas pela imprensa recentemente: Loft, QuintoAndar, Facily, Ebanx, Kavak, Loggi… A lista não para de crescer.

Frente aos desafios para captar recursos de VC e manter suas operações, as startups vêm buscando alternativas, dentre elas o mercado secundário. Vamos conhecê-lo um pouco melhor?

O que é o mercado secundário

O mercado secundário é composto por soluções que conectam investidores a empresas com potencial de crescimento, por meio da negociação de ativos feita fora do ambiente mais tradicional da Bolsa de Valores. Isso porque estas empresas ainda não têm condições de fazer um IPO na B3, mas precisam de recursos para ampliar sua atuação e já contam com um modelo de negócios mais estruturado.

Um exemplo destas soluções: as plataformas de crowdfunding. Não, não estou falando de “vaquinhas virtuais”, como o crowdfunding ficou conhecido no início dos anos 2000. O financiamento coletivo amadureceu e ganhou novos ares, inclusive com categorias como o “equity crowdfunding” (ou crowdfunding de investimento), voltado para a captação de recursos ajudando a acelerar o crescimento das empresas.

Não confunda equity crowdfunding com vaquinha

O equity crowdfunding está em franco crescimento e foi regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2017, quando havia apenas 5 plataformas. Ao fim de 2021, este número pulou para 56. O volume captado por esta modalidade mais que dobrou em um ano, alcançando R$188 milhões em 2021 e a quantidade de investidores cresceu 139%, chegando a 19.797. 

Graças a esta expansão, a CVM aprovou recentemente uma nova regra para este tipo de negociação, que permitiu, por exemplo, a divulgação das emissões publicamente que, até então, era vetada, e aumentou o limite de captação. 

A mudança abriu espaço para a chegada de novas plataformas ou exchanges, que funcionam por meio da negociação de ativos tokenizados, como se fossem “ações” de empresas de pequeno e médio porte. As transações são feitas em plataforma blockchain, que dispensa a participação de bancos e outras instituições financeiras como intermediárias. Para participar destas rodadas, as empresas devem ter R$40 milhões como teto da receita anual e o limite de captação é de R$15 milhões.

Novas exchanges 

Uma destas novas exchanges é a Bee4, primeiro mercado regulado de ações tokenizadas do país, que funciona no sandbox da própria CVM. Atualmente, para que as empresas possam listar seus ativos, é preciso fazer uma oferta inicial (como um IPO) na beegin, plataforma que estrutura o projeto de captação. Depois, os ativos são disponibilizados para a negociação dos investidores em um pregão semanal.

Outro player deste novo mercado é a plataforma Captable, criada pela StartSe e responsável por 40% do volume total investido em crowdfunding no Brasil em 2021. Hoje, contam com um modelo de marketplace, no qual é possível consultar facilmente quais startups estão com rodadas de captação abertas, para comprar e vender papéis relacionados a elas. O foco está, principalmente, em empresas early stage, com rodadas de captação que vão até o Series A.

Já há outras empresas “surfando esta onda”, o que mostra que o mercado tem se movimentado para que o equity crowdfunding se torne um dos modelos praticados para comercialização das ações de empresas privadas no mercado secundário. As novas regras fortalecem o desenvolvimento do segmento e a chegada dos novos players também.

Por isso, é o momento de deixar preconceitos com a modalidade de lado e encará-la como uma forma viável – e promissora! – para a captação de recursos – especialmente em um cenário desafiador para outras fontes de investimentos. O que você pensa sobre isso?