Os últimos anos não foram fáceis para as startups, com as taxas de juros em patamares elevados não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Na metade de 2023, o Banco Central deu início aos cortes por aqui, com redução de 0,5 ponto percentual na Selic a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A medida tornou a renda fixa menos atrativa, o que aumenta o interesse pelos investimentos de risco, mas ainda é cedo para comemorar. Em entrevista ao Startups, Sandro Cortezia, CEO e fundador da Ventiur, afirma que 2024 ainda é um ano que “demandará uma resiliência adicional”.
“O ano passado foi um ano atípico. Até parecia que seria um cenário animador, mas teve a quebra do Silicon Valley Bank, os juros altos, foi um ano difícil. Ficamos em banho-maria no primeiro semestre, no segundo pareceu que teria uma retomada, mas foi fogo de palha. Neste ano, já sentimos um apetite maior. A cada meio ponto que baixa a Selic, vai aumentando o apetite, vai dando uma coceira por tomar mais risco”, diz o investidor.
Ritmo mais lento
O mercado esperava que o BC fosse manter o ritmo de cortes nos juros até o fim do ano, com a Selic encerrando 2024 a 9%. No entanto, a ata do Copom divulgada nesta semana mudou a sinalização e antecipou que novas reduções podem ocorrer em ritmo mais lento. No venture capital, a notícia pode significar uma lentidão maior também na disposição para investir.
“Já temos sinais macro que demostram que a retomada vai ser um pouco mais lenta. Nossa leitura é que ainda vai ser um ano complicado, que vai demandar uma resiliência adicional. Nós continuamos investindo, fazendo aportes, mas temos tido uma postura mais seletiva, avaliando com mais profundidade e cautela”, afirma Sandro.
Retomada
O fundador da Ventiur acredita que haja uma retomada com mais força no segundo semestre, com os juros mais baixos e um otimismo maior no mercado. A aceleradora gaúcha é focada em early stage e já investiu em 97 startups, com oito exits de sucesso. “Como os exits também deram uma freada, na medida em que voltar a ter, o ciclo fica sendo mais rápido”, explica Sandro.
Como as startups investidas pela Ventiur estão em estágio inicial, os exits costumam ser as aquisições, que, segundo o investidor, também estão “meio paradas”. A expectativa é que esse cenário melhores nos próximos meses, até por conta dos valuations baixos. Embora os IPOs não influenciem diretamente nesse nível de investimento, segundo Sandro, uma volta das estreias de startups na bolsa também poderia ajudar o mercado como um todo a se movimentar novamente.
Outro fator que tem contribuído para a retomada desse mercado é a volta do interesse das corporações pelo investimento em startups. “Esse movimento do CVC também vai trazer um impulso. Houve um boom em 2021 e 2022, mas a gente sente que as empresas estão voltando a investir nas startups nesse movimento de inovação. Além do CVC, também temos nos nossos veículos algumas empresas que entram com cota corporativa”, aponta o fundador da Ventiur.
Seletividade ainda maior
Para Sandro, a seletividade que já existia antes da pandemia na escolha das startups ganhou uma importância ainda maior neste momento. Cada veículo da casa investe cerca de R$ 1 milhão por startup, com um ticket médio por investidor de R$ 100 mil a R$ 150 mil. A Ventiur faz todo o processo de avaliação e seleção das empresas, unindo bons empreendedores a bons investidores.
“Como o nosso é, normalmente, o primeiro cheque, a gente espera que startup esteja com o produto no mercado, conseguindo monetizar, mesmo que minimamente. Às vezes, a gente ajuda a fazer a entrada do produto no mercado. Do ano passado para cá, a gente conseguiu colocar mais tempo e energia nesse processo, o que nos permite fazer escolhas melhores. Todas as startups que investimos de 2018 para cá estão vivas, o que nos mostra que esse é o caminho certo”, avalia o investidor.