
No mundo tech, não há quem não gosta de uma previsão – e o South By Southwest costuma ser um lugar muito propício para isso. Além do já costumeiro (e disputado) painel de Amy Webb, quem também faz isso são os especialistas do MIT Technology Review. E em seu painel para anunciar as 10 tecnologias emergentes para 2025, algumas foram especialmente chamativas: modelos pequenos de linguagem em IA, robotaxis e remédios para arrotos de vaca. Calma que eu já explico.
Ao subir no palco para apresentar as previsões de seu time, o editor-chefe do MIT Technology Review, Niall Firth, aproveitou para elencar alguns dos acertos e dos erros da publicação ao longo dos anos. Do lado dos acertos, Niall listou a mineração de dados em 2001, mega constelações de satélites em 2020 e assistentes virtuais em 2009. “Previmos isso quando a Siri ainda era uma pequena startup, antes de ser adquirida pela Apple“, se orgulhou o editor.
Dos erros, o jornalista reconheceu a aposta mal fadada do veículo na Magic Leap (lembra dela?) em 2015. Segundo Niall, na época a realidade aumentada parecia uma grande aposta para o futuro, mas até hoje é uma tecnologia que tem suas dificuldades em cair no gosto dos consumidores – é só ver o exemplo do Apple Vision Pro.
No fim das contas, é isso aí mesmo: previsão é tentativa e erro, e aqui vão as tecnologias que o MIT Tech Review acredita que serão decisivas a partir deste ano:
Observatório Vera C. Rubin
Segundo Niall Firth, esse entrou na lista por um simples motivo: que a equipe da publicação é apaixonada pelo espaço e por grandes aparelhos que podem trazer descobertas inéditas sobre as galáxias. Nesse caso, o observatório Vera C. Rubin, que fica no Chile e iniciará suas operações este ano, contará com a maior câmera digital já construída.
“É uma câmera de um tamanho de um carro, que vai tirar fotos do espaço de forma contínua durante anos”, disse Niall. Segundo ele, isso ajudará astrônomos a estudar matéria escura, explorar a Via Láctea com mais detalhes e talvez até detectar novos corpos celestes com suas lentes.
Busca com IA generativa
Essa previsão não chega a ser uma grande novidade, já que players como Google já estão fazendo seus testes com isso, assim como o ChatGPT já está sendo usado como plataforma de pesquisa e busca por alguns usuários – isso sem contar o crescimento de nomes como a Perplexity AI.
“A busca com IA generativa trará a maior mudança em décadas na forma como navegamos na internet”, destacou Niall.
Pequenos modelos de linguagem de IA
Ainda vivemos no momento dos modelos de linguagem de IA em larga escala (como GPT, Claude, Llama), mas segundo o time do MIT Tech Review, não vai demorar muito para as coisas mudarem. Segundo Niall, 2025 trará os primeiros casos de sucesso na aplicação de modelos reduzidos de IA, treinados com sets reduzidos de dados para atender demandas específicas.
“Eles serão menores, mais baratos e privados, e empresas os treinarão em cima de seus dados para entregar resultados. Eles podem não ter tantas informações, mas serão capazes coisas incríveis em áreas como direito, por exemplo”, pontua o editor.
Remédios para arroto de vaca
Esse foi um dos pontos mais inesperados da lista, mas segundo o time do MIT Tech Review, o trabalho de algumas startups poderá trazer um importante impacto para o setor pecuário. Uma delas é a inglesa Bovaer, que criou um medicamento que inibe as enzimas que produzem metano no estômago de uma vaca, reduzindo as emissões de metano de vacas leiteiras em 27% e em 45% em gado de corte.
A Bovaer já foi testada em 100 fazendas em mais de 20 países, incluindo no Brasil. “Existe uma grande possibilidade de valor na produção de carne ou leite com baixa emissão de metano, e tem países que já estabeleceram metas de redução nas emissões da pecuária, mercados onde este medicamento poderá ser utilizado”, destacou Niall.
Robotáxis
“Eles estão chegando, estão realmente chegando”, disparou Niall. Segundo o editor, não se trata nem de futurologia. Em países como a China, o mercado de veículos de transporte sem motorista já está em funcionamento, com empresas como Baidu, Pony.ai, e WeRide já disponibilizando estes veículos, com resultados satisfatórios.
Nos Estados Unidos, em 2025 um dos grandes testes será a da Waymo com a Uber, que já está em andamento em cidades como São Francisco e Austin – inclusive, durante os dias de SXSW, diversas pessoas estão testando em primeira mão a experiência de pegar um taxi sem ninguém o dirigindo.
Combustível aéreo verde
A busca por combustíveis mais limpos para a indústria aeronáutica é algo que tem acontecido por anos, mas parece que finalmente estamos chegando a um resultado satisfatório. Segundo o MIT Tech Review, novos combustíveis produzidos a partir de óleo vegetal, resíduos industriais e biogases podem ser uma alternativa à via fóssil.
“Isso está se tornando um grande negócio, com indústrias se desafiando a desenvolver e produzir estes combustíveis, que será importantes para atender metas governamentais de redução no uso de combustíveis fósseis”, destacou Niall.
Robôs que aprendem rápido
Um futuro com um robô inteligente como o dos Jetsons pode não estar mais tão distante. Segundo a publicação, a evolução constante das técnicas de treinamento de IA estão criando robôs que se adaptam rápido e que serão cada vez mais eficientes em tarefas antes feitas somente por humanos.
“Hoje eles são capazes de aprender novas tarefas mais rápido do que nunca. Os autômatos atuais não são mais unidimensionais e estão se aproximando dos robôs multiuso, que poderão fazer imediatamente uma variedade de tarefas em nosso lugar”, destacou o palestrante.
Remédios de longa duração para HIV
Um laboratório norte-americano chamado Gilead desenvolveu uma droga – uma injeção que só precisa ser administrada duas vezes ao ano – que poderá transformar o modelo de tratamento para pacientes com HIV. Segundo dados do laboratório, 5 mil mulheres africanas participaram dos testes clínicos e o medicamento teve 100% de eficácia, substituindo o tradicional coquetes de drogas que existe atualmente.
“É algo que raramente se vê em testes de medicamentos, e uma descoberta que pode ajudar a erradicar a AIDS. O desafio é garantir que isso seja acessível para o maior número de pessoas possível”, disse o editor da MIT Tech Review.
Aço ecológico
“Sei que isso não é tão cool quanto robotáxis e busca com IA, mas é uma tecnologia que poderá ter um impacto tão grande quanto nos próximos anos”, disparou Niall. Segundo o jornalista, o mercado de aço deverá crescer em até 30% até 2050, e a alta emissão de gases poluentes que vem dessa indústria virou uma preocupação.
É nesse cenário que startups como a sueca Stegra está se destacando – e valendo US$ 7 bilhões por isso. Sua primeira usina industrial de aço verde, que usa hidrogênio produzido com energia renovável que deve iniciar suas operações no ano que vem no norte da Suécia.
Terapias de célula-tronco que funcionam
A promessa da cura de doenças através do uso de células-tronco é uma promessa antiga, mas segundo os especialistas do MIT Technology Review, parece que agora vai. Em junho do ano passado, um teste liderado pela Vertex Pharmaceuticals relatou resultados iniciais promissores.
“Pacientes com diabetes tipo 1 tiveram células-tronco injetadas em seus fígados. Após três meses, todos os participantes começaram a produzir insulina, e alguns não precisaram mais de injeções de insulina”, destacou a publicação.
A cobertura do SXSW 2025, diretamente de Austin, é um oferecimento da Nomad.