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O iFood acabou de anunciar mais um nome de peso do segmento de compras de supermercado para ganhar força nesse segmento. Dois meses depois de divulgar a Justo como um de seus supermercados oficiais dentro do app, agora a Daki também se tornou parceira da plataforma de entregas.

Segundo destacaram ambas as empresas em comunicado ao mercado, a Daki também é um supermercado oficial do iFood, sendo a única opção de entregas expressas, esta que é a especialidade no modelo de negócios da Daki. Sob o nome Express by Daki, a empresa terá uma aba dedicada dentro do app do iFood e assume a responsabilidade exclusiva pelas entregas de mercado em São Paulo e Belo Horizonte.

Contudo, essa não será a única opção oferecida pela Daki dentro do app do iFood. Outra modalidade é a Super by Daki, se tornando a solução oficial da plataforma também para compras maiores e de reabastecimento, com oferta de cerca de 10 mil produtos, disponíveis na modalidade de entrega agendada.

Na prática, a colaboração entre as empresas funcionará dentro da rede de atendimento da Daki, que fará as entregas utilizando a sua estrutura de logística e tecnologia proprietárias. Com isso, a Daki tem acesso aos mais de 43 milhões de usuários ativos da plataforma, e o iFood ganha um parceiro de entregas, passando a contar com as dark stores e a rede de entregadores da empresa de mercado online.

“Desenvolvemos a tecnologia e a infraestrutura necessárias para viabilizar uma oferta de supermercado online de altíssima qualidade, confiabilidade, variedade e com preços acessíveis. Estando hoje unicamente posicionados nesta categoria no Brasil, seguimos entusiasmados em unir forças com o iFood e levar esta experiência para cada vez mais clientes”, comenta Rafael Vasto, CEO e cofundador da Daki, em nota.

Em conversa exclusiva com o Startups, Rafael falou mais sobre a decisão, dizendo que foi algo que surgiu de uma visão compartilhada entre as duas companhias, que é a de “revolucionar a compra de supermercado online”. Segundo ele, o plano do iFood, com o apoio da Daki, é o de fazer com a parte de supermercado o mesmo que já fez com a parte de food delivery, ou seja, dominar o mercado.

Perguntado sobre a possibilidade da entrada no iFood criar uma concorrência com o próprio app da Daki, Rafael frisou que ter um canal próprio ainda é prioridade. “Nosso canal próprio é um passo importante da jornada do consumidor, que já tem uma escala relevante, que consideramos ainda mais relevante que nossa participação no iFood“, pontuou Rafael.

Rafael Vasto, CEO e cofundador da Daki (Crédito: divulgação)
Rafael Vasto, CEO e cofundador da Daki (Crédito: divulgação)

Entretanto, olhando para os últimos números divulgados pela empresa, a base de usuários é irrisória perto da presença massiva do iFood no mercado. Segundo dados divulgados em 2023, a empresa tem pouco mais de 230 mil usuários ativos recorrentes, número que não chega a 1% da base atual do iFood.

Uma nova estrutura

Para o iFood, as parcerias se tornaram a grande aposta para aumentar o poder de fogo da companhia no segmento de supermercado, onde ela ainda enfrenta a concorrência agressiva de players como o Rappi. Ao trazer nomes como a Daki e até mesmo a Justo para dentro de sua plataforma, o iFood reforça sua posição de marketplace.

O que isso quer dizer: diferentemente do rival colombiano, que ainda assume boa parte da estrutura de entregas através de uma rede logística própria – e que recentemente se tornou rentável – o que se vê é o iFood se tornando um canal de vendas para os parceiros, oferecendo sua base de clientes e sua tecnologia, enquanto a parte logística fica com as empresas que entram para o app.

Vale lembrar que o iFood descontinuou a maior parte de sua operação interna de delivery de supermercado, uma decisão para otimizar custos. Por exemplo, no Rio de Janeiro, a empresa vendeu sua estrutura de dark stores para o grupo Cencosud.

É esta lacuna que a Daki chega para preencher, colocando sua infraestrutura em ação. “É um tráfego incremental ao nosso negócio, da mesma forma que eles, saindo do business de entrega própria, trazem uma oferta de qualidade e uma experiência que não tem dentro de casa”, pontua.

“Temos o arcabouço e a tecnologia para operar esse business de forma inteligente e escalável de forma diferenciada para o cliente. O nosso setup como Daki é bastante robusto, com CDs e darkstores, algo que o iFood descontinuou”, completa o CEO.

Parceria com algo mais na frente?

Entretanto, será que a parceria entre Daki e iFood pode ser o prenúncio de algo maior? Segundo uma fonte de mercado ouvida pelo Startups, a parceria pode ser um teste para que no futuro o iFood tenha a Daki como seu braço operacional de entrega expressa de supermercado. “Creio que o trade off interno já foi feito. É construir a operação ou acelerar um player estrategicamente. Acredito que irão iniciar com parcerias-chave, mas algo já previsto para que avancem como operadores exclusivos no futuro”, avalia o especialista.

Contudo, voltando à análise, para nomes como a Daki e Justo, estar dentro do iFood é uma forma de chegar a mais usuários fora de seus apps nativos, aliviando a pressão de concorrer com apps mais difundidos e encontrando novas avenidas de sobrevivência em um mercado que já fez diversas vítimas no Brasil.

Exemplos disso são a da colombiana Merqueo, que viu sua operação afundar no Brasil e e anunciou seu fim em julho do ano passado, um desfecho semelhante à conterrânea Muni, que em 2022 encerrou operações na Colômbia, Brasil e México, após falhar na busca por uma nova rodada de investimento.

Por falar em encerrar atividades, até mesmo a Daki teve que repensar seus negócios. Em entrevista ao Startups em julho do ano passado, a empresa afirmou que estava se reposicionando no mercado, com a intenção de ir além das entregas rápidas e mirar clientes que fazem as chamadas compras de reabastecimento.

A “sacudida” no modelo de negócio veio no rastro uma mudança substancial que a Daki fez em sua operação geral. Após captar US$ 50 milhões em uma rodada série C em fevereiro do ano passado, a startup desligou a sua operação no México – ela já tinha suspendido operações nos EUA (onde se chamada Jokr), Chile e Colômbia antes disso – e apostou todas as suas fichas no Brasil. Em setembro passado, ela reforçou ainda mais o seu caixa, levantando mais US$ 50 milhões em uma série D liderada pela Convivialité Ventures, braço de investimento da Pernod Ricard.

Entretanto, até mesmo com recentes injeções de capital, é possível que os investidores da Daki tenham sobre a mesa a carta de um possível exit com uma gigante tipo o iFood. Afinal de contas, a líder do food delivery hoje tem um valor de mercado de US$ 5 bilhões, enquanto a Daki viu seu valor cair nas últimas rodadas, deixando de ser unicórnio para ficar na casa dos US$ 800 milhões de valuation.

“Talvez esse movimento seja a saída da Daki. A questão principal é: não sei se a Daki (e investidores) ainda topam queimar mais caixa para construir base. Rentabilidade em cima de uma estrutura já instalada, só há uma forma, que é crescer base. E se for a base do iFood, tem um preço”, finaliza a fonte ouvida pelo Startups.

Do lado da Daki, porém, a possibilidade de um exit ou fusão a partir do acordo com iFood foi prontamente rechaçada. “Para a Daki, isso não tá nos planos”, frisou a empresa, em resposta ao Startups.

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