*A cobertura especial do Startups no Gramado Summit tem apoio da Sólides.
Independente da conjuntura econômica, a indústria de venture capital nunca é tão diversa quanto deveria ser. E se para pequenas empresas e fundadores de regiões, segmentos ou diversidades fora da bolha do mercado já era difícil conseguir investimento quando havia abundância de dinheiro disponível, a situação fica ainda mais complicada com a seca no VC.
“[A captação de investimentos] tem muito a ver com networking, com ser conhecido no meio em que atua, ter conexões ou já ter trabalhado em empresas de investimento. Por isso, para quem é pequeno, sempre vai ser muito mais difícil conseguir captar, seja em um momento com muita ou pouca grana”, analisa Mayara Paes, sócia-fundadora e diretora de operações da startup Troca, durante o Startup Pitch do Gramado Summit, realizado com o apoio da BlackRocks.
A Troca é um negócio de impacto social criado para transformar empresas e pessoas com o aumento da diversidade nos espaços que atuam. A startup organiza processos inclusivos de recrutamento e seleção exclusivos para grupos de diversidade; acompanha o desenvolvimento pessoal e profissional; e cria projetos personalizados de consultoria para a organização.
Cenário ainda mais desafiador
Segundo a empreendedora, o cenário que já era desafiador ficou ainda mais complicado para as pequenas empresas, devido ao momento atual do mercado que deixou os investidores mais criteriosos e dificultou a captação. “Os fundos precisam rever a forma de aportar capital nas empresas. Do jeito que está, serão sempre as mesmas pessoas e empresas levantando dinheiro, sem ver todo o potencial das startups que existem no Brasil. Independentemente do momento, nunca é tão diverso quanto deveria”, pontua.
A fintech PlayBPO sentiu na pele a mudança de ventos no ecossistema. No início de 2022, a startup anunciou que havia recebido um investimento inicial com investidores-anjo, em uma rodada concluída em cerca de 30 dias. “Foi muito rápido daquela vez. Mas hoje estamos com uma nova rodada aberta e percebemos que há dinheiro, mas que os investidores estão mais criteriosos, olhando mais para o equilíbrio do negócio”, afirma Lázuli Santos, fundador e CTO da companhia.
A Flori Tech, que desenvolve e opera máquinas de coleta gamificada de resíduos sólidos, também recebeu um investimento-anjo e se prepara para abrir uma nova rodada, mas sem pressa. “Não sinto que a fonte de dinheiro secou; O que secou é a ideia de startups que não geram lucro e faturamento, porque isso não se sustenta mais”, diz Thaís Guerra, CEO e cofundadora da empresa. A executiva destaca que as startups mais atrativas do momento são aquelas com um bom produto, com pessoas apaixonadas em torno dele, atuação em um mercado potencial e lucratividade.
Miriam Krindges descreve o momento como “bem desafiador”. Proprietária da vinícola Sítio Rosa do Vale, ela chegou a apresentar o projeto com o apoio de instituições como o Sebrae, mas não conseguiu recursos para investir no negócio. “Como é um produto novo e diferente do que as pessoas conhecem, gera dúvidas no mercado. Então, começamos com dinheiro próprio”, explica.
A companhia criou o Samba da Uva, evento turístico que une afroturismo e enoturismo, promovendo o resgate histórico das pessoas negras com vinho. A proposta é oferecer a pisa das uvas resgatando a origem do que era feito em Kemet, região do continente africano onde hoje fica o Egito, além de oferecer uma degustação de vinhos e roda de samba.
Existe uma elitização do consumo de vinho e nossa ideia é democratizar esse consumo. Permitir que pessoas negras saibam que o vinho faz parte da sua história. Reforçando esse propósito, a Sítio Rosa do Vale vai lançar uma linha de vinho só de uvas brasileiras. “Seremos a primeira vinícola do país com uma linha de uvas locais e tecnologia africana, feita de forma artesanal e com agricultura familiar”, afirma Miriam.