Quando a sua empresa está sob a luz brilhante dos holofotes, tudo o que se faz se torna hype. É o caso da OpenAI, que anunciou na quinta-feira (25) a sua nova empreitada – o motor de buscas SearchGPT. Não precisou de muito para as palavras “Google Killer” começarem a aparecer por aí. Entretanto, para diversos analistas, é importante ter muita calma nessa hora.
Suportado pelos modelos mais recentes da OpenAI (GPT-3,5, GPT-4 e GPT-4o), o SearchGPT foi lançado ainda como um protótipo, mas já posiciona a companhia no páreo com o Google e outros nomes como a Perplexity, que já usa IA para buscas, e o Bing, da Microsoft, e já tem feito integrações com o ChatGPT, já que a Microsoft é uma das principais investidoras da OpenAI.
“Obter respostas na web exige bastante esforço, muitas vezes precisando de várias tentativas para obter resultados relevantes”, destacou a OpenAI em uma postagem no seu blog. “Acreditamos que, ao aprimorar as capacidades de conversação de nossos modelos com informações em tempo real da web, encontrar o que você está procurando pode ser mais rápido e fácil”.
A princípio, a ideia do SearchGPT parece mais amigável do que o padrão que conhecemos com o Google, permitindo que usuários façam suas buscas da mesma forma que pedem um texto no ChatGPT, com a possibilidade de fazer perguntas adicionais e expandir em cima dos assuntos buscados.
Entretanto, mesmo com o todo o hype em torno da OpenAI e o possível interesse em uma nova forma de buscar conteúdos na web, analistas apontam que talvez esse não seja o melhor momento de anunciar o tal do “Google Killer”. Ferramentas de busca “powered by AI” estão sob fortes críticas de plágio, alucinações e canibalismo de conteúdo retirados de outros sites.
O Arc Search da Browser Company disse a um repórter que dedos cortados podem crescer novamente. Já o buscador Genspark recomendou armas que poderiam ser usadas para matar alguém. A Perplexity, por sua vez, é seguidamente acusada de aproveitar artigos de outros veículos como CNBC, Bloomberg e Forbes, sem dar crédito ou atribuição.
A OpenAI – seguindo o exemplo mais comedido da Perplexity – está posicionando o SearchGPT como uma aplicação mais responsável. Segundo a empresa, o SearchGPT “cita e vincula proeminentemente” aos editores em pesquisas com “atribuição clara, em linha e nomeada”. Além disso, a companhia afirmou que vai estabelecer parceria com editores para que eles gerenciem como seu conteúdo aparece nos resultados de pesquisa.
“É importante ressaltar que o SearchGPT é sobre pesquisa e é separado do treinamento dos modelos de base de IA generativa da OpenAI. Os sites podem aparecer nos resultados de pesquisa mesmo se optarem por sair do treinamento de IA generativa”, afirmou a OpenAI na postagem do blog. “Estamos comprometidos com um ecossistema próspero de editores e criadores.”
Dá pra matar o Google?
Falar sobre possíveis matadores do Google é uma coisa, mas outra é ver se isso realmente é possível. Atualmente a gigante das buscas tem um monopólio, concentrando 91,6% das buscas globais, segundo dados do StatCounter levantados em fevereiro deste ano. É um modelo testado e aprovado há cerca de 20 anos, e quem tentou competir (Bing), perdeu.
Segundo analistas, o que a OpenAI está tentando fazer ao integrar modelos conversacionais de IA com busca pode ser um novo jeito de fazer as coisas, fazendo o SearchGPT responder perguntas e dúvidas em vez de simplesmente entregar links.
Entretanto, a IA ainda não chegou em um grau de maturidade pra fazer isso de forma confiável, nem as bases de dados que os sistemas de IA acessam tem a profundidade de informações que o Google tem. A empresa de Mountain View hoje concentra um volume inigualável de dados (texto, vídeo, mapas etc.) em sua base de pesquisa, construída ao longo de mais de duas décadas. Não é algo que poucos anos de hype podem resolver.
E tem mais: segundo David Pierce, analista senior do The Verge, o modelo de LLMs tem uma falha básica que o impede de vencer o Google. “A verdadeira questão diante de todos esses supostos assassinos do Google, então, não é quão bem eles conseguem encontrar informações. É o quão bem eles conseguem fazer tudo o que o Google faz”, disparou.
Segundo o analista, o que o público busca em um site como o Google, não é consumir a informação por lá, e sim ir para o site encontrado.
“Quando você faz uma pesquisa de navegação no Google, é extremamente raro que o primeiro resultado não seja o que você está procurando – claro, é estranho mostrar todos esses resultados quando o que o Google deveria fazer é apenas levá-lo diretamente para amazon.com ou algo assim, mas é rápido e raramente está errado. Os bots de IA, por outro lado, gostam de pensar por alguns segundos e então fornecer um monte de informações quase úteis sobre a empresa quando tudo o que eu quero é um link”, pontua.
No fim das contas, segundo o analista, a discussão não será em torno da tecnologia em si, ou de quão inteligente ela pode ficar, e sim será o produto. Segundo David, o dilema agora é saber quem fará o serviço primeiro: se é o Google que reinventa suas páginas de resultados, seu modelo de negócios e a maneira como ele apresenta, ou são as empresas de IA que transformam os seus chatbots em ferramentas mais completas.
“Dez links azuis não são a resposta para a pesquisa, mas uma caixa de texto para todos os fins também não. A pesquisa é tudo, e tudo é pesquisa. Vai ser preciso muito mais do que um chatbot para matar o Google“, finaliza o analista.