Natural de Porto Ferreira, no interior de São Paulo, Isadora Ribeiro criou o Akilomba de forma despretensiosa. Ao mudar-se para a capital paulista há cerca de dois anos, sentiu a solidão de estar em um novo ambiente sem amigos ou pessoas com experiências semelhantes à sua e, pensando nisso, começou a organizar uma série de encontros com outros designers negros para trocar experiências e fortalecer os relacionamentos.
O que começou com apenas dois participantes, em pouco tempo já tinha 80 em um encontro presencial e, mais recentemente, 250 pessoas reunidas na comunidade do WhatsApp. “Percebi que a maioria era formada por profissionais de nível júnior ou plenos em transição de carreira, muitas vezes em busca de mentorias e capacitação, mas sem condições de pagar por cursos para se qualificar e entrar no mercado”, afirma Isadora, em entrevista ao Startups.
Foi quando ela decidiu evoluir o projeto para algo ainda maior. A partir de 2024, a Akilomba se posicionou como uma escola dedicada à inclusão e ao desenvolvimento de profissionais pretos de tecnologia no mercado de trabalho. O objetivo é impulsionar carreiras em tecnologia a preços acessíveis, a partir de uma metodologia própria que promova conhecimento, conexão e acolhimento.
A primeira turma d’Akilomba, lançada há cerca de um mês, conta com 25 alunos para uma formação em design de produto. A escolha do curso vem da experiência da própria fundadora, que já passou por grandes empresas como Sympla, iFood, Localiza e Grupo Boticário. Com uma mensalidade de R$ 55,50, a escola Akilomba oferece 1 ano de capacitação com aulas semanais online ministradas por especialistas do mercado.
“A ideia é ampliar para outras áreas de formação. A primeira turma foi de design de produto, mas vamos abrir uma de design de serviços e, depois, de desenvolvimento front-end. E adoraria ter uma turma de cibersegurança”, afirma Isadora. O grande objetivo é oferecer formação em profissões de tecnologia de alta demanda no mercado, mas com escassez de profissionais qualificados.
Modelo de negócio
“O valor é acessível, mas se a gente tiver volume de alunos, pode dar certo. E acreditamos que isso vai acontecer, porque a demanda por profissionais de tecnologia é cada vez maior, e as pessoas querem se qualificar para ingressar no setor”, explica Isadora. Segundo a CEO da Akilomba, o negócio gera caixa e cresce de forma saudável desde o primeiro dia.
A expectativa é, em breve, conseguir uma certificação do Ministério da Educação (MEC) para que a Escola Akilomba seja reconhecida como curso técnico ou uma instituição de ensino superior. “Acredito na Akilomba como a universidade de profissionais do futuro, trazendo grupos sub-representados para profissões cada vez mais demandadas pelo mercado, mas que normalmente são ocupadas por pessoas privilegiadas”, pontua.
Para ser reconhecida como curso técnico, a Akilomba terá que fazer algumas adaptações, como estender o período da formação para pelo menos 18 meses (seis a mais do que a duração atual). “Estamos no processo de amadurecimento. Ter a certificação do MEC é algo que dará mais credibilidade, ao mesmo tempo em que não mudará tanto a forma como atuamos hoje”, avalia.
A meta da Akilomba é ter 180 alunos e seis turmas no primeiro ano de operação.
Metodologia
O curso de formação da Escola Akilomba é dividido em módulos com as aulas semanais, de 1h30 a 2h, no formato de 70% prática e 30% teoria. “As faculdades tradicionais costumam ter muita teoria, e quando o profissional chega no mercado ele se depara com uma realidade muito diferente. Por isso, buscamos levar a prática de como o conhecimento é cobrado pelas empresas e corporações, desenvolvendo habilidades que realmente serão utilizadas”, explica Isadora. Ao fim de cada módulo, o aluno deve desenvolver um projeto que resume o aprendizado e pode ser aplicado no mercado de trabalho.
Um diferencial d’Akilomba é o seu corpo docente, formado 100% por profissionais negros. “Queremos trazer o máximo de professores potentes; pessoas de mercado que tenham ótima qualificação, bagagem e experiência – e todos pessoas pretas”, diz Isadora. Segundo a empreendedora, isso é essencial para que os alunos se sintam acolhidos e representados. “Tivemos 98% de satisfação na primeira aula, o que envolve muito mais do que ensinar bem. Tem também uma questão emocional: muitos alunos disseram que até então nunca tinham entrado em uma sala de aula e se sentido tão confortáveis”, conta.
Alguns educadores da Escola Akilomba incluem Nanda Carvalho, designer manager no Nubank, Daiane Almeida, do Sebrae for Startups, e Cami Corrêa, coordenadora de design no Itaú Unibanco, além da própria Isadora. Os profissionais são pagos por tempo trabalhado, em um valor acordado com a Akilomba.
Parte da metodologia é, além das aulas técnicas, capacitar os alunos emocionalmente para o mercado de trabalho. “Entrar em uma sala sendo a única pessoa negra e ter outras 20 pessoas que não se parecem consigo, nem vieram de espaços parecidos, gera uma forte insegurança profissional. Queremos formar profissionais com ótimo conhecimento técnico e que desenvolvam a autoestima necessária para superar os desafios que virão. Que se sintam seguros e saibam se posicionar, se comportar e criar relações”, pontua.
Atualmente, o negócio cresce com recursos próprios, mas Isadora não descarta a entrada de um investidor ou parceiro – desde que tenha valor agregado. “Não quero só o dinheiro; tenho interesse em investidores que venham para agregar muito em conhecimento e na construção da universidade. Alguém que tenha bagagem no setor, vontade de aumentar o impacto social e, principalmente, se reconheça como parte de alguma minoria ou grupo sub-representado”, conclui.