A Diversitera deu um passo importante para apoiar ainda mais a promoção da equidade econômica e social em empresas dos mais variados portes e segmentos. A companhia, que já oferecia serviços como censo de DE&I, consultoria e ações de capacitação e comunicação institucional, acaba de lançar uma plataforma SaaS (software as a service) projetada para que as organizações reúnam e monitorem dados de diversidade, equidade e inclusão.
Lançada em junho de 2020, a Diversitera nasceu da experiência pessoal de seu fundador e CEO, Marcus Kerekes. “Trabalhei quase 20 anos em grandes empresas e, como cadeirante, tive uma série de desafios e dilemas ao longo da minha carreira, assim como qualquer outra pessoa com deficiência – ou com outros marcadores sociais de diferença – enfrenta no mundo corporativo” afirma Marcus, que fundou a empresa ao lado de Maurício Nisiyama.
O ponto de partida da Diversitera foi o uso de dados como estratégia para conectar as demandas sociais com o contexto corporativo, cuja liderança é formada majoritariamente por homens brancos, heterossexuais e sem deficiência. “Criamos uma metodologia aprofundada de um censo diagnóstico para entender as questões de inclusão nas organizações. Uma coisa é trazer números relacionados à demografia e contagem populacional; outra é ir além disso e incluir aspectos como segurança psicológica, como as pessoas se sentem no dia a dia e qual é a chance de acessarem cargos e salários mais altos”, explica o empreendedor.
Com o recém-lançado SaaS, batizado de Diversitrack, a startup permite que as empresas tenham uma compreensão profunda do senso de pertencimento de seus diferentes colaboradores. A plataforma de Voz do Funcionário (Voice of Employee – VOE) visa facilitar a identificação de prioridades para uma organização mais diversa e inclusiva, contribuindo para um ambiente com mais inovação, engajamento e lucratividade.
A nova versão da plataforma é fruto do reconhecimento e da validação de organizações com os mais variados perfis. Ao longo dos anos, a Diversitera já atendeu mais de 60 clientes como Arezzo, Grupo Soma, Hershey’s, CNP Seguradora, Novartis e Tupy, impactando cerca de 90 mil colaboradores. A prioridade agora é migrar os clientes da antiga para a nova plataforma e consolidar a implementação do SaaS.
Rumo à expansão
Segundo Marcus, o modelo SaaS permitirá que a Diversitera atenda um novo perfil de cliente, até então desassistido pelo mercado. “As pequenas e médias empresas estão começando a trabalhar com D&I e a implementar práticas, políticas e programas. A expectativa é que agora a gente tenha uma maior capilaridade e alcance um maior número de empresas”, avalia.
O censo global realizado pela Diversitera já conta com pesquisas com empresas de 15 países e oito idiomas. “Vamos começar a olhar para alguns países de fora, com foco em multinacionais que atuam na América Latina”, revela Marcus, citando o México como um dos potenciais mercados para a expansão.
Questionado sobre as pautas de D&I no mercado corporativo atual, Marcus reconhece que ainda há muitos desafios. “O assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, gerou um grande impacto com o aumento de iniciativas de diversidade e inclusão na maioria das empresas. No entanto, recentemente notamos uma desaceleração deste processo, com algumas organizações cortando áreas e funções dedicadas a isso”, analisa. Nas últimas semanas, a Microsoft anunciou a demissão de sua equipe dedicada à diversidade, equidade e inclusão, atrelando a decisão a “mudanças nas necessidades de negócios” e afirmando que o tema “não é mais crítico para os negócios como era em 2020”.
“Há uma desaceleração no sentido de contagem de vagas diretamente ligadas a diversidade e inclusão. Mas, de certa maneira, isso está sendo incorporado em áreas como ESG ou recursos humanos, ou dentro dos grupos de afinidade. O movimento está se consolidando mais nas empresas e permeando a cultura de uma forma geral. Acho que é um caminho sem volta”, considera Marcus.
O empreendedor nota um certo receio por parte dos investidores em teses de diversidade e inclusão. “Eles ainda estão tentando entender o que vai ser desse tema”, afirma. Atualmente, a Diversitera cresce com recursos próprios, com exceção de um acordo com a venture builder SX Group para auxiliar no desenvolvimento tecnológico da plataforma. “Nossa estratégia tem sido seguir no bootstrapping até onde for possível para termos mais liberdade e autonomia. Mas a partir do ano que vem a gente deve começar a olhar com mais carinho para uma rodada, já com a plataforma mais parruda e consistente, e com um plano contínuo de melhorias”, destaca.
De acordo com Marcus, o grande diferencial da startup é a capacidade de conectar as duas realidades – da empresa e dos talentos diversos. “A plataforma nos permite entender as demandas, os históricos e as vulnerabilidades dos grupos sub-representados e, de alguma forma, traduzir isso para o público predominante no mercado corporativo. Isso ajuda a direcionar o trabalho da empresa na formulação de políticas mais assertivas e, consequentemente, na criação de uma estratégia de D&I mais efetiva”, conclui.